A ELOQUÊNCIA DA MORTE DIANTE DA VIDA
Metafisicamente proposto por: Angelo Magno
Se alguém perguntasse a você que lugar gostaria de visitar, penso, e você há de concordar comigo nisto, que um cemitério jamais seria citado. Este é o lugar mais evitado por todos, pois nele se materializa o maior de todos os medos e mistérios da humanidade. Escritores a poetizam em seus contos fabulosos, cientistas pesquisam para saber se ela tem a forma de um ponto final ou algo que indique que não há nada além; em qualquer lugar, em qualquer época e em qualquer cultura; todos têm algo a falar sobre ela.
Em 2007, foi publicado no Brasil um romance de Markus Zusak entitulado: “A Menina que Roubava Livros” (The Book Thief; Markus Zusak; Intrínseca; 2006) que conta a história de uma garotinha vivendo em uma cidade pobre da Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial. Tudo bem, um livro sobre pessoas sofrendo durante a maior guerra que o mundo já conheceu não é nada original, mas o que me chamou a atenção foi o fato de que neste livro a história é narrada por ninguém menos do que ela – a morte.
Para mim foi uma reviravolta pensar na morte como uma protagonista narradora que constrói sua opinião sobre a vida a partir da observação humana, pois comecei a pensar sobre sua eloquência em falar sobre este assunto. Passei a perceber que as pessoas são muito mais profundas e reverentes no momento de dor, estão mais abertas a relacionamentos na perda e são muito mais condescendentes com os que se foram, ou seja, a morte pode ser uma eloquente sabedoria para nós – os vivos.
A morte nos ensina, por exemplo, que nós não podemos preservar aquilo que não temos. Após um encontro, na maioria das vezes casual, o dinheiro, o poder, os bens, e tudo o que lutamos para conquistar e possuir se vão para sempre. Então, o que temos de fato? Paradoxalmente, o que realmente possuímos não pode ser comprado e, na maioria das vezes, não pode ser tocado.
Não temos livros, porque eles envelhecem e suas folhas caem ou ficam esquecidos em algum móvel da casa, mas o conhecimento, este carregamos conosco para toda a existência; Não temos dinheiro, mas o conforto que podemos proporcionar e as oportunidades que podemos abrir para quem não teve nossa sorte duram para sempre (leia-se: altruísmo); Não temos poder, o que possuímos é a oportunidade de influenciar a existência das pessoas que nos brindam com sua diversidade, afinal somos todos iguais na diferença; Não temos as pessoas, elas não são nossa propriedade, mas as relações que cultivamos ao longo de um breve florescer preenchem a eternidade.
Segundo a morte, tudo o que possuímos é aquilo que nos acompanha para além das paredes da existência como a conhecemos – física. Portanto, talvez seja um bom conselho não nos esforçarmos tanto para manter aquilo que jamais possuiremos, sob a pena de sermos arenosos, ocos, pueris.
Se a morte pode nos ensinar tanto em tão poucas palavras, o que dizer da vida se a percebermos com os olhos de um aprendiz. A felicidade é um quadro pintado a várias mãos, não deixe para levar flores quando aqueles a quem você ama não puderem mais recebê-las.
Estocado em: ENSAIOS
Leia também: VIVA E DEIXE VIVER
Metafisicamente proposto por: Angelo Magno
Se alguém perguntasse a você que lugar gostaria de visitar, penso, e você há de concordar comigo nisto, que um cemitério jamais seria citado. Este é o lugar mais evitado por todos, pois nele se materializa o maior de todos os medos e mistérios da humanidade. Escritores a poetizam em seus contos fabulosos, cientistas pesquisam para saber se ela tem a forma de um ponto final ou algo que indique que não há nada além; em qualquer lugar, em qualquer época e em qualquer cultura; todos têm algo a falar sobre ela.
Em 2007, foi publicado no Brasil um romance de Markus Zusak entitulado: “A Menina que Roubava Livros” (The Book Thief; Markus Zusak; Intrínseca; 2006) que conta a história de uma garotinha vivendo em uma cidade pobre da Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial. Tudo bem, um livro sobre pessoas sofrendo durante a maior guerra que o mundo já conheceu não é nada original, mas o que me chamou a atenção foi o fato de que neste livro a história é narrada por ninguém menos do que ela – a morte.
Para mim foi uma reviravolta pensar na morte como uma protagonista narradora que constrói sua opinião sobre a vida a partir da observação humana, pois comecei a pensar sobre sua eloquência em falar sobre este assunto. Passei a perceber que as pessoas são muito mais profundas e reverentes no momento de dor, estão mais abertas a relacionamentos na perda e são muito mais condescendentes com os que se foram, ou seja, a morte pode ser uma eloquente sabedoria para nós – os vivos.
A morte nos ensina, por exemplo, que nós não podemos preservar aquilo que não temos. Após um encontro, na maioria das vezes casual, o dinheiro, o poder, os bens, e tudo o que lutamos para conquistar e possuir se vão para sempre. Então, o que temos de fato? Paradoxalmente, o que realmente possuímos não pode ser comprado e, na maioria das vezes, não pode ser tocado.
Não temos livros, porque eles envelhecem e suas folhas caem ou ficam esquecidos em algum móvel da casa, mas o conhecimento, este carregamos conosco para toda a existência; Não temos dinheiro, mas o conforto que podemos proporcionar e as oportunidades que podemos abrir para quem não teve nossa sorte duram para sempre (leia-se: altruísmo); Não temos poder, o que possuímos é a oportunidade de influenciar a existência das pessoas que nos brindam com sua diversidade, afinal somos todos iguais na diferença; Não temos as pessoas, elas não são nossa propriedade, mas as relações que cultivamos ao longo de um breve florescer preenchem a eternidade.
Segundo a morte, tudo o que possuímos é aquilo que nos acompanha para além das paredes da existência como a conhecemos – física. Portanto, talvez seja um bom conselho não nos esforçarmos tanto para manter aquilo que jamais possuiremos, sob a pena de sermos arenosos, ocos, pueris.
Se a morte pode nos ensinar tanto em tão poucas palavras, o que dizer da vida se a percebermos com os olhos de um aprendiz. A felicidade é um quadro pintado a várias mãos, não deixe para levar flores quando aqueles a quem você ama não puderem mais recebê-las.
Estocado em: ENSAIOS
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