Noutra vida quero outra profissão
Estava aqui no meu canto observando...
É observando a vida alheia, protegida aqui atrás da tela de LCD do meu notebook eu vejo tudo e um pouco mais...
Vejo a forma como as pessoas se expõem, e, consequentemente se entregam nas redes sociais e assim, com estas atitudes que, sequer se dão conta, ou se dão, não dão importância, facilitam em muito a vida da gente.
É, a vida desta gente, de toda a gente que se põe a espreitar a vida alheia, e lá, nessa hora, estou eu, com meu nome na lista dos “espreitadores”, sim, espreitadores sociais: uma nova categoria de pessoas que captam movimentos (leia-se frases, textos, vídeos, fotos & etc.) em redes sociais e por meio deles e algumas pitadas de intuição compreende o cidadão...
Ah! Cidadão, se você soubesse o quanto cada palavra me faz te ler inteiro... escreveria menos... com certeza...
Ou não... depende da qualidade do cidadão...
Ah! Sim, qualidades são muitas, se não, vejamos:
- há o distraído, escreve e não percebe;
- há o carente, escreve para chamar atenção, mesmo que escreva mentiras sobre a vida, não importa se própria ou alheia;
- há o ambientalista e o politicamente correto, estes quase sempre andam juntos na mesma figura, suas publicações são sempre voltadas ao bem coletivo;
- há o religioso, sua vida é pregar, mas jamais pegou um martelo nas mãos, prefere usar as teclas;
Por fim, para que a lista não se alongue muito,
- há o artista público, publicar as mazelas próprias é sua arte, expõe tudo, a todos, o tempo todo, despe-se com maestria, ganha seguidores, amigos, inimigos; há quem o ame e há quem o deteste, mas está sempre lá; e, talvez, este seja de todos, o pior... aquele que expõe gratuitamente sua vida num ambiente de aparente amizade, que talvez, por ser democrático demais, seja igual ao velho deitado que diz: “piii” de bêbado, não tem dono...”, escondendo, ao fundo, a real hostilidade do controle a que estamos todos, submetidos...
Sim, controle, de nós mesmos, dos outros, de quem provê a www...
Lembrando que, nem de longe, este pequeno ensaio tem a pretensão de lembrar da “Teoria da Conspiração”, mas falando nela, você conhece todos os seus “amigos” da rede sócio-virtual que você frequenta?
Por isto que noutra vida quero ter outra profissão
Mas quero trazer comigo a mesma mente sagaz,
Apta a captar dos seres, tal qual aquele
Que consegue entender que um pingo no papel em branco é letra,
É, letra “i”
E daí?
E daí que noutra vida, quero outra profissão
Para não fazer prece, nem procissão,
Tampouco precisar perdir perdão
Por ler do outro a alma em um refrão,
Em um se não, ou, talvez, em um simples ‘talvez’.
É noutra vida, eu quero ter outra profissão, só não sei ainda qual.
Dentre as possíveis eleitas estão:
- criadora do facebook ou preposto;
- antropóloga;
- socióloga; ou, ainda,
Quem sabe, alguém que saiba escrever de forma bem humorada e fazer rir ao final, ainda que o meu leitor leia de suas próprias e estampadas mazelas, como tenho certeza que você fez durante a leitura deste texto.
E assim, eu serei feliz. Imensamente feliz!
Fernanda Hanna
São Paulo, 18 de janeiro de 2011.
Obs.: psicóloga não rolará, eu tenho preguiça...
publicação original:
http://fernandahanna.wordpress.com/mais-prosetimias/noutra-vida-quero-outra-profissao/