O Ideal
O ideal é gloria é renuncia é luta. Cantou o poeta – aos doze anos de idade – Alziro Zarur, em seu “POEMA DO BRASILEIRINHO”. Enlevam-se as almas mais idealistas, ao declamar a estrofe:
Bendito é o ideal que á gloria me levanta
E me apresenta forte e intimorato.
Na suprema renuncia em que me bato.
No ardor extremo de quem luta e canta.
Não poderia melhor defini-lo a síntese em versos, da criança de alma pura ou da grandeza da alma na criança. Tudo mais, o que dissermos serão adornos insignificantes e pretensiosos. Não hesitemos, porém, ante a necessidade da retorica.
O ideal é fé é razão é movimento. Assemelha-se ao embrião no útero materno, palpita imperceptível; imita a semente em cova funda que germina sem o olhar do agricultor. Se o solo não for fértil e a chuva abundante, morre antes que nasça. Da mesma maneira que, a vaidade leviana da mãe pode matar a criança, ainda no ventre; o ideal morre quando sufocado por uma vontade indolente, que enxerga no esforço dos braços e no cabo da enxada pouca recompensa. Nenhum ideal pode nascer das entranhas espirituais de um homem para satisfazer vontades obscuras e particulares, se propõe conforto e sugere riquezas, não é ideal. O ideal não é planta rasa, tem raízes profundas; antes de ser manifestado pelas ideias, pulsa nas almas destemidas, não se acovarda perante o destino, que procuram lhe impor. Curva-se para não quebrar. Copia os galhos do bambueiro que se envergam à investida do vento; indiferentes à direção onde apontam, continuam crescendo e produzindo. Se aceita mudanças, é porque busca a perfeição. Quando se dobra, é que se fortalece.
Nos corações inflados de mediocridade, a força de um ideal é feito o brilho do relâmpago, que se ascende na atmosfera e se desvanece na superfície. Em mãos virtuosas provém de outras fontes, desprende-se da lua, inspirando os poetas, fortalecendo os heróis; desata-se do sol dissolvendo as sombras, num átomo de luz. Os idealistas recusam-se a desistirem de seus sonhos; lutam incansavelmente para realiza-los; chegam a ignorar o chão onde pisam, só para sonharem um pouco mais longe. Muito embora, seus esforços não possam ser reconhecidos de imediato, serão em tempos vindouros o alimento das crianças, a inspiração dos moços, o conforto dos velhos. Ninguém se lembra da semente quando saboreia o fruto, mas dela se nutre e se fortalece.
“Quem quiser ganhar a sua vida certamente a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, este certamente a ganhara”. Mateus 16:25
Todo ideal carece de um cunho de sofrimento para progredir. De um beijo amargo e uma cruz de madeira, Jesus providenciou o milagre da ressurreição; se a poção de cicuta não fosse oferecida, Sócrates e seus demônios não seriam lembrados e Bruno esquecido para sempre, se não se deixasse morrer na fogueira da inquisição. Nós, por certo, não haveríamos de repetir ao leitor a frase histórica proferida por ele no instante da condenação: “Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam” ("Talvez, sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").
Quão doloroso é para o germe rasgar o solo em direção ao firmamento, digladiando-se contra a força da gravidade. Não se pode medir o esforço do recém-nascido em sua luta, para respirar pela primeira vez. Nenhuma obra de valor nascida no fundo da alma, nas profundezas do espirito, pode se elevar, antes que morra quem o concebeu. Nenhum ideal pode resistir ao tempo, se não morrer para renascer, transformar-se para evoluir, renovar-se para progredir.