A propósito de "R. Barthes par lui-même" , uma nota breve.

Dar origem a, começar, início, iniciar, entrar. E como não há nenhuma origem absoluta, chegar é sempre um regresso. Barthes afirmou que escrever é uma forma de dizer o que podia ter sido dito de outro modo, o que podia ter sido dito e não foi. Penso sempre neste não-dito quando leio o dito. E se a literatura fosse o lado silencioso do som ou da marca das palavras? Mais o que não se lê, uma espécie de sinal que desliza e nunca se fixa? O não-dito, apenas uma hipótese a dizer. Por isso, segundo um determinado foco, nunca se escreve, escrever é sempre uma tentativa, um vazio por preencher. E se há um nome para dar a qualquer coisa o nome de “literatura” é porque o vazio é sempre mais do que o nada. A literatura é esse vazio. No poema, talvez como em nenhum outro género, a construção literária - enquanto totalidade que diferencia, integra, distribui identidades, assinala diferenças - busca uma certa concretização possível do que é possível, anseia exprimir-se plenamente para possuir no limite o que se perde, o que é tudo, inexoravelmente. Excelente tentativa de dizer o não dito, pois este emerge inexpressável na escrita que dele se aproxima. O que não significa o “Verbo”, uma entidade anterior à materialidade da palavra, pelo contrário, é a palavra que se inventa que projecta a inevitabilidade da palavra por inventar.