Revolução da Informação - Impactos Sociais - PARTE 1

Revolução da Informação - Impactos Sociais

Trabalho apresentado em Junho de 1999 para avaliação na disciplina MAC-333

por David Machado Santos Filho

Um estudo do tema de "Brave New World", de Aldous Huxley

1. Preliminares

Será feito um estudo das possíveis mudanças sociais que podem ocorrer com a aparente revolução da informação que se processa atualmente. Sabe-se que tentar fazer uma extrapolação com a velocidade em que tudo muda hoje em dia é difícil, e tal previsão está sujeita a erros grosseiros. O melhor que pode ser feito é estudar várias possibilidades distintas, tentar avaliar as tendências atuais e verificar o quanto essas tendências apontam para cada uma daquelas possibilidades. Ainda neste caso cometemos um erro muito grave, que é supor que tais tendências vão se manter inalteráveis. A previsão estaria influenciada pelo que já se observa na época em que ela é feita.

Neste estudo, será feita uma avaliação das seguintes obras, todas elas prevendo mudanças sociais bem diferentes:

"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, livro com o enfoque principal nesta discussão, que prevê um tipo de controle totalitário não fisicamente violento;

"1984" de George Orwell, que prevê um Estado totalitário no qual o poder é mantido pela violência e vigilância constante dos cidadãos;

"Os Despossuídos" de Ursula K. Le Guin, que contrapõe uma sociedade muito semelhante à atual a uma outra em que o "controle" é baseado na total anarquia.

Ainda foi estudada uma quarta obra, que discute os elementos da obra de Huxley mas que cita o "1984" várias vezes: é o "Regresso ao Admirável Mundo Novo", um ensaio que o próprio Huxley escreveu cerca de 25 anos após o "Admirável Mundo Novo".

Nas três obras, a existência de computadores não é citada explicitamente. Porém a organização social que elas sugerem seria sem dúvida impraticável se não existissem tais equipamentos controlando-a. Mas em todas elas o controle da informação é evidente, sobretudo em "1984".

2. Resumo das Obras

Antes de iniciar qualquer discussão a respeito da possibilidade ou não de cada uma destas extrapolações se confirmar, é interessante conhecer um resumo de cada história.

2.1 "1984"

Em 1984, a sociedade é controlada por um Estado totalitário, com um partido único, que tem o controle total de qualquer tipo de informação que um indivíduo possa requisitar. George Orwell prevê tal sistema para o ano de 1984, mas algo fundamental tem de ser mencionado: na história, ninguém tem certeza de estar realmente no ano de 1984; o Partido havia decidido que a sociedade estava vivendo em 1984, e era o que bastava para todos acreditarem nisto.

Na obra, o mundo era governado por três grandes potências, todas elas com a mesma característica totalitária e com controle total das informações. Estas três potências eram conhecidas por Eurásia, Lestásia e Oceania, na qual se passa toda a trama. Em Oceania, que compreendia as Américas, Austrália, e a Inglaterra (o restante da Europa era parte da Eurásia), um único Partido governava, e estava constante e alternadamente em guerra com uma das outras duas potências. A guerra constante era um fator primordial para que a estrutura social fosse mantida, pois apenas uma guerra era capaz de absorver o excesso de recursos produzidos por um sistema industrializado ao extremo. Sem guerras, a enorme quantidade de recursos teria de ser distribuída igualmente para a "massa", e esta massa acabaria adquirindo poderes demais (algo obviamente indesejável para um Partido que queria se manter no poder). Com uma guerra constante contra qualquer das duas outras superpotências era possível garantir apenas o suficiente para a subsistência do povo, enquanto o excesso de produção poderia ser gasto em materiais bélicos e improdutivos. Além disso havia outra vantagem em se manter uma eterna guerra, que era deixar a população sempre em estado de alerta, aguardando que o Big Brother pudesse resolver o problema. Logicamente a guerra não era ameaça para nenhuma das grandes potências. Ao contrário, ela era mantida exatamente com as finalidades descritas. Pode-se imaginar até mesmo um acordo entre as potências para que alguma guerra sempre ocorresse, não importando o motivo.

O que mantinha o poder total do Estado era o controle de toda a informação disponível. A história da humanidade estava constantemente sendo reescrita, de acordo com as resoluções do Ministério da Verdade. Era inclusive o emprego do protagonista desta história: reescrever reportagens anteriores do Times para que o Partido parecesse sempre estar certo nas suas decisões. Por exemplo, se a uma semana atrás o Ministério da Fartura previsse um aumento de 30% de algum produto para a semana seguinte e o aumento registrado fosse na verdade de 20%, Winston (o protagonista) era encarregado de reescrever a reportagem anterior para que o Ministério declarasse ter previsto 15%: assim ter-se-ia uma impressão favorável de que o aumento foi maior que o previsto. O grande trabalho do Ministério da Verdade era alterar estas informações e todas as outras referências possíveis a ela que pudessem desmenti-la. Isto não era visto por ninguém como falsificação da verdade, e sim como simples "correção de enganos".

Para manter tal sistema de modificação de informações, os membros do Partido (cerca de 15% da população) eram vigiados praticamente 24 horas por dia. Pelo menos os membros do Partido Externo, pois uma minoria pertencente ao Partido Interno tinha alguns privilégios. Para grande parte deles, já perfeitamente adaptada ao sistema, isto era normal, necessário e benéfico. Segundo eles, isto evitava a prática da crime-idéia (pensamentos ilegais) que era eficientemente punida pela Polícia do Pensamento. Todos aqueles que cometiam uma crime-idéia desapareciam misteriosamente, e eram daí em diante consideradas impessoas: tais pessoas, para todos os efeitos, nunca haviam chegado a existir. Como todo tipo de informação era controlado pelo Estado, não haveria mais nenhum registro que pudesse indicar que esta pessoa existiu algum dia.

A característica que mais lembra um sistema global de troca de informações nesta história era a existência das inúmeras teletelas espalhadas por toda parte. Diante de tais equipamentos, a menor expressão facial deveria ser controlada, ou corria-se o risco de ser condenado por crime-idéia e assim se tornar uma impessoa. Desligar uma teletela já era considerado uma possibilidade de crime-idéia, e ainda assim eram poucos os que tinham o privilégio de desligar completamente tal equipamento (ao menos por poucos minutos). Onde não haviam teletelas, provavelmente deveriam existir microfones ocultos. Mesmo dormindo, as pessoas podiam cometer crime-idéias falando durante o sono. Por exemplo, dizer "abaixo o Grande Irmão" enquanto dormia era considerado uma crime-idéia gravíssima! Era muito comum que crianças, precocemente treinando para serem futuros espiões, denunciassem os pais à Polícia do Pensamento. Tal medo de ser denunciado pelos filhos era um dos fatores que tornava cada vez mais raros os casamentos nesta sociedade.

Seria a sociedade atual parecida com a de "1984"? "Obviamente não", é o que diriam muitas pessoas de imediato. Mas pode ser que as formas atuais de coerção não sejam tão explícitas como nesta história. Pode ser uma coerção não fisicamente violenta, como a que é sugerida no "Admirável Mundo Novo" de Huxley. Talvez Orwell estivesse impressionado demais com os absurdos do nazismo e o estalinismo que estava ganhando forças na Rússia. Aliás, seria coincidência que o Grande Irmão da história, figura mítica criada pelo Estado, seja descrito como tendo feição muito "semelhante" à de Stalin? Aldous Huxley sugere no "Retorno ao Admirável Mundo Novo" que o mundo atual (ou melhor, o de 1957) estaria caminhando mais em direção ao "Admirável Mundo Novo" do que em direção ao "1984". Apesar do primeiro ser menos violento que o segundo, não parece haver muitas vantagens de um em relação ao outro.

A trama de Winston, tentando se rebelar contra tal sistema, é bastante interessante. Mas presentemente o importante não é discutir a história em si, e sim a maneira em que estava organizada a sociedade nesta história.

2.2 "Admirável Mundo Novo"

O "Admirável Mundo Novo" também é um governo totalitário. Porém não existe a paranóia declarada de "1984". No lugar da paranóia, temos um verdadeiro terror científico, em que a sociedade está toda fundamentada na prática da eugenia, na hipnopedia, no condicionamento subliminal e na quota diária aos cidadãos de uma droga denominada Soma.

Neste Mundo Novo a reprodução humana está inteiramente baseada na reprodução artificial. A reprodução vivípara não mais existe. Não que fosse ilegal, mas a idéia já estava completamente implantada na mente de todos os indivíduos através de condicionamento mental. Qualquer alusão a tal tipo de reprodução era encarado com preconceito e, no mínimo, mencionada como uma piada de mal gosto. A produção de seres humanos ocorria em série, nos Centros de Incubação e Condicionamento. Inclusive era a maneira mais eficaz encontrada pelo Estado para controlar a superpopulação: não havendo mais a reprodução normal, havia um perfeito controle de quantas pessoas poderiam nascer em determinado período. Decidida a produção de uma certa "quota" de pessoas (trabalhadores futuros), óvulos eram fecundados artificialmente e mantidos sob controle durante o tempo de seu desenvolvimento, dentro de frascos forrados com peritônio de porco.

Dependendo da classe genética a que determinado grupo pertencia (Alfa+, Alfa, Beta+, Beta, Gama, Delta ou Épsilon), eram tratados com substâncias diferentes durante a gestação. Por exemplo, indivíduos Alfas e Betas recebiam um maior nível de oxigenação para que se desenvolvesse mais o seu sistema nervoso. Em contrapartida, Deltas e Épsilons tinham seus frascos preenchidos com certa concentração de álcool diluído no líquido amniótico, pois nestes casos não era desejável um sistema nervoso muito desenvolvido. Depois que estes seres nasciam, ou melhor, decantavam de seus frascos, permaneciam durante a infância nos Centros de Incubação e Condicionamento. Neste período eram condicionadas psiquicamente para as funções que deveriam exercer na vida. Desenvolvido o entendimento da linguagem, começavam a ser submetidas à hipnopedia (ensino durante o sono) para que absorvessem as principais regras morais da sociedade. Eram tais regras que elas acabariam seguindo durante todo o resto de suas vidas. Dentre as várias regras, uma das mais importantes era a que induzia ao consumo do Soma durante os períodos de maior agitação ou depressão mental.

A existência de computadores parece inquestionável nesta história, embora em parte alguma eles tenham sido citados. Ao ler a obra pode-se sem esforço imaginar computadores decidindo quantos indivíduos precisavam ser "produzidos" para um futuro campo de trabalho. Ou então se imagina computadores controlando os enormes Centros de Incubação e Condicionamento, controlando a dosagem de substâncias, temperaturas e nível de oxigenação de cada um dos milhares de fetos produzidos em série. Também podem ser imaginados computadores elaborando a composição química da próxima remessa de Soma: mais calmantes ou mais estimulantes, de acordo com as circunstâncias do momento. Quanto ao controle e difusão de informações, em geral eram subliminais. Durante a infância, as informações eram transmitidas às crianças por hipnopedia. Verificou-se que o método de ensinar durante o sono não era muito eficiente quando se precisava raciocinar sobre as informações, mas se as mensagens pudessem ser elaboradas de uma forma que atingissem o subconsciente sem nenhum tipo de raciocínio mais elevado o método seria infalível. Após este período de aprendizado, toda a informação subliminal transmitida na fase adulta freqüentemente evocava frases já incorporadas ao subconsciente durante a hipnopedia. Tais "chavões" também eram sempre repetidos entre os indivíduos em seus diálogos, e conhecê-los de cor era uma forma de se sentir integrado na sociedade. Não é muito diferente do que acontece hoje em dia com músicas e frases de propagandas publicitárias. A diferença está no conteúdo das mensagens: ao invés de usá-las para vender um produto, eram regras morais cujo objetivo era, por exemplo, constantemente reafirmar a perfeição do Estado vigente, ou uma receita em forma de versos sobre quantas doses de Soma eram necessárias em cada tipo possível de esgotamento mental.

Como se vê, tratava-se de uma sociedade de autômatos, na qual não era necessário recorrer à repressão violenta porque simplesmente não havia o mínimo risco de ocorrer qualquer tipo de revolta. Uma sociedade em que cada indivíduo se sentia feliz com a função exercida (pois desde o início haviam sido condicionados a exercerem tal função). Pode-se questionar que havia sido eliminada a criatividade humana, e que isto poderia gerar revolta. Não é verdade: a criatividade reprimida era perfeitamente compensada com a ingestão regular do Soma, droga totalmente inócua que era produzida e distribuída pelo Estado, e que poderia aliviar qualquer tipo de criatividade que o indivíduo sentisse estar reprimida sem que isto pudesse afetar de alguma maneira a ordem que já estava mantida a muito tempo.

É para tal sistema que Huxley vê a sociedade caminhando no "Retorno ao Admirável Mundo Novo". Porém ele próprio se surpreende ao perceber que se avançava muito mais rápido para esta direção do que ele supunha. Ele havia previsto os acontecimentos para o século VII dF (depois de Ford), mas no ritmo em que as coisas aconteciam em 1957, podiam se tornar realidade muito antes.

2.3 "Os Despossuídos"

A escolha desta história de Ursula Le Guin se baseia no fato de que ela lembra muito a questão do Caos e Emergência. Mostra uma sociedade em que o governo é inteiramente baseado na total falta de governo, e os problemas acabam sendo resolvidos espontaneamente (as soluções emergem do caos).

Urrás-Anarres é um sistema planetário duplo. Dois corpos enormes, de massas muito semelhantes, orbitando em torno de um centro comum, e este centro orbitando uma estrela amarela de terceira grandeza. Porém, para efeitos práticos, Anarres era considerado um satélite de Urrás. De fato era de massa um pouco menor que este, e de atmosfera conseqüentemente menos densa. Urrás era um planeta muito semelhante à Terra, com uma sociedade humana parecida com a atual em vários aspectos: produção e consumo em massa, grande parte do planeta com uma economia similar ao capitalismo, devastação desenfreada de recursos naturais... Anarres era quase um deserto. Possuía umas poucas espécies de plantas primitivas, nada mais. E uma quantidade de água muito inferior à de Urrás.

Cerca de dois séculos antes do período no qual se passa a história, uma população gigantesca de indivíduos contrários ao sistema foi exilada em Anarres, considerada a Lua de Urrás. Neste novo planeta, praticamente um deserto seco, tiveram que lutar muito pela sobrevivência. No decorrer destes dois séculos, foi desenvolvida uma sociedade completamente distinta daquela de Urrás, onde a lei maior era de que nenhum indivíduo da sociedade poderia possuir o que quer que fosse (daí vem o título da obra):

ninguém possuía os meios de produção: todas as máquinas eram de uso coletivo, e após serem utilizadas eram deixadas onde estavam para que outros a utilizassem no futuro;

não possuíam residências: haviam alojamentos distribuídos em todo o planeta, e quando era necessário se trabalhar em alguma região se requisitava um quarto, quase sempre dividido com outros;

ninguém possuía as próprias roupas: elas eram simplesmente usadas e depois devolvidas, e quando entregues nas várias lavanderias não havia nenhum motivo para que uma pessoas recebesse exatamente as mesmas roupas que entregou para lavar;

não era necessário adquirir alimentos para comer, qualquer um podia livremente fazer suas refeições nos vários refeitórios espalhados pelo planeta;

não havia dinheiro ou qualquer forma de comércio, pois isto implicaria em possuir alguma espécie de poder de troca;

ninguém poderia se especializar em alguma função (emprego): as pessoas trabalhavam no que era necessário trabalhar naquele momento e naquela região em que estavam; tentar possuir um emprego fixo significava egoizar aquela função (egoizar era um verbo de sentido pejorativo naquela sociedade);

qualquer forma de hierarquia era evitada, porque isto acarretaria em possuir de certa forma os indivíduos de hierarquia mais baixa;

após nascerem, as crianças constantemente trocavam de pais: era evidente que se os pais verdadeiros tomassem conta de seus filhos durante um tempo muito longo, eles começariam a sentir que possuíam estes filhos;

nenhum casal permanecia junto muito tempo, pois neste caso eles poderiam achar que possuíam um ao outro;

ninguém possuía o próprio nome: um computador central (e o fato de ser central era uma das vergonhas desta sociedade, problema que ainda não haviam conseguido sanar) escolhia aleatoriamente uma seqüência única de fonemas quando uma pessoa nascia, e este seria seu nome durante o resto da vida.

Como se vê, a idéia de todos os indivíduos serem "despossuídos" era levada ao extremo. Não existiam Leis nem algum Estado controlando isto, pois não era permitido que alguém pudesse possuir poderes sobre outra pessoa. Nem penalidades, pois prender alguém por um crime seria possuir a liberdade de alguém. Muito menos possuir a vida era permitido (pena de morte). O que regulava tal mecanismo era o consenso geral entre todos os indivíduos da sociedade. Uma pessoa que apenas sugerisse querer possuir alguma coisa era discriminada, acusada de estar egoizando. Haviam crimes mais graves, mas muito raros. Nestes casos as penas eram sempre decididas coletivamente, e nunca incluíam retirar a vida ou a liberdade de alguém. Variavam desde um desprezo social durante um certo período de tempo (algo insuportável a qualquer membro desta sociedade) até uma boa surra, em crimes mais graves. Casos raríssimos de assassinato costumavam ser punidos com a completa exclusão social, e ainda assim sujeitos às circunstâncias em que o crime teria ocorrido. Tentar se relacionar com uma pessoa excluída também era considerado uma forma de egoizar (era uma iniciativa da própria pessoa, que discordava da decisão coletiva), e poderia acarretar penas leves.

Aparentemente é um sistema perfeito: independente de alguém trabalhar ou não, estava assegurada sua alimentação, moradia e vestuário. Não havia a pressão de se precisar trabalhar para continuar sobrevivendo. O que então obrigava alguém a trabalhar? A possibilidade da exclusão social é que os obrigava, o medo de ser acusado de estar egoizando por não trabalhar.

Mas Anarres tinha o grande problema de ser praticamente um enorme deserto. Sem dúvida tudo era distribuído igualmente, só que neste caso era a pobreza que se distribuía igualmente entre os habitantes do planeta. Produzia-se o mínimo necessário para a sobrevivência, não haviam excedentes. Além disso, Anarres ainda dependia de certos minerais que só podiam ser importados de seu vizinho Urrás. Porém uma característica marcante de tal sociedade era seu isolamento em relação ao resto do universo. As naves cargueiras de Urrás eram sempre recebidas com sérias reservas, pois o povo de Anarres temia que se aproximando demais de um habitante de Urrás eles pudessem ser contaminados pelo seu egoísmo. A trama toda (que repetirei: é muito interessante, mas não é relevante no contexto deste estudo) ocorre quando um cientista de Anarres tenta quebrar este isolamento do planeta, visitando Urrás depois de dois séculos sem contatos diretos. É descrita a enorme confusão deste cientista na nova sociedade: não entendia porque precisava pagar por roupa e comida, porque precisava possuir uma residência fixa, casar-se por um tempo indeterminado, fazer parte de uma hierarquia...

Talvez o pior defeito desta sociedade aparentemente perfeita seja supor que o ser humano é um animal perfeitamente sociável. Isto não é verdadeiro, a sociedade humana nunca poderá ser um super-organismo da mesma forma que ocorre com uma sociedade de formigas ou de abelhas. O ser humano é muito mais um animal gregário que um animal sociável, ou seja, ele se sente bem vivendo em "bandos", mas não lhe agrada a idéia de fazer parte de um "super-organismo". O todo pode ser maior que as partes, mas no caso da sociedade humana o todo definitivamente não é mais importante que as partes...