A posse de Yeda Crusius


CONSIDERAÇÕES INICIAIS


O objetivo deste ensaio é analisar os primeiros momentos do governo da economista, professora, ex-ministra e deputada federal Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, dando ênfase a conclusões preliminares a serem tiradas tendo como ponto de partida a sua posse.
Vou desenvolver os seguintes aspectos:
- a sra Yeda Crusius nem havia assumido e já estava descumprindo os compromissos de campanha (tarifaço).
- entrou em confronto com setores sociais, partidos e deputados que ajudaram a elegê-la;
- assumiu o governo em total desarmonia com o seu vice-governador;
- inicia um governo muito centralizado em termos de núcleo gestor;
- dos governos que assumiram no Rio Grande do Sul, chamou a atenção por ter sido o que menor quantidade de população atraiu para a cerimônia de posse;
- embora tenha participado do governo Rigotto e depois ido para a oposição ao mesmo, criticando-o na campanha, não deixa de ser uma continuidade dele com a “personalidade” semelhante a do governo Britto;
- perspectivas para o funcionalismo público estadual;
- a questão da segurança pública;
- perspectivas de ação administrativa para recuperar as finanças do estado.


1 – A POSSE

Na cerimônia de posse muita coisa já se podia observar .

1.1 - Primeiro, a relação estremecida entre a governadora e o seu vice Paulo Afonso Feijó (PFL). Na própria cerimônia, na qual nem se falaram, ela manifestou críticas veladas à postura dele e de seu partido, o PFL, por terem votado contra o projeto do “tarifaço-congelante” (vide próximo ítem deste ensaio). Ao responder uma pergunta de um repórter, sobre se era possível aumentar receita sem aumentar imposto, foi seca: “- Perguntem pra ele!”
O caso com o vice começou truncado antes mesmo da campanha.
Yeda e o PSDB preferiam um vice do PP, mas o partido acabou concorrendo em faixa própria com Francisco Turra para o governo e Mônica Leal para o senado (ele é o atual presidente do BNDES e ela a secretária de Cultura do governo Yeda!). Depois foi aventada a possibilidade de ser o deputado federal e ex-secretário do governo Britto Nelson Proença (PPS) o vice, mas o PPS não queria enfraquecer sua nominata à Câmara Federal e preferiu lançar o ex-deputado Mario Bernd para o Senado. Assim, sobrou o PFL e o empresário Paulo Afonso...
Na campanha, as opiniões firmes do vice não sintonizaram com as da governadora. Emblemático foi ocaso da venda do Banrisul. O vice deu uma entrevista para o Jornal Zero Hora, no início do segundo turno, dizendo que era favorável a venda do Banrisul, elencando os motivos para tal.
O PT usou isso direto na campanha, o que obrigou Yeda a desautorizar publicamente do vice, afirmando que não privatizaria patrimônio público durante seu governo, se eleita. O PT passou a dizer que Yeda adotava a mesma tática do ex-governador Britto, que em campanha prometera não vender a CEEE e a CRT mas depois privatizou-as, junto com a Caixa Econômica Estadual, só não vendendo o Banrisul por não ter conseguido um segundo mandato consecutivo.
A candidata Yeda, conforme a imprensa gaúcha, chegou a pedir a renúncia do vice, que não renunciou e tampouco mudou o discurso.
Analistas políticos especulam que a reação do PT no segundo turno, diminuindo drasticamente a diferença entre Yeda e Olívio com a relação às pesquisas de início do segundo turno, deveu-se à celeuma do Banrisul.

1.2 - O PFL, à revelia de sua vontade, não participará do governo nem de suas decisões, e a governadora deixou claro em entrevista que é porque ele, segundo o ponto de vista da sra Yeda, escolheu o caminho da oposição.
O PFL contesta, dizendo que faz parte do governo que ajudou a eleger, tem o vice, e que a questão do “tarifaço” foi apenas uma divergência pontual, na qual o partido apenas cumpriu seu programa e os compromissos de campanha...

1.3 – Um outro aspecto que chamava a atenção de quem acompanhava pela televisão ou a vivo era a de que não havia quase ninguém na praça em frente ao Palácio Piratini, prestigiando a posse. O povo não foi lá! Somente havia uma pessoa com a bandeira do PSDB. Mais para o fim, apareceu uma senhora de bandeira. E só! A imprensa estadual do RS, nos jornais Zero Hora e Correio do Povo, destacaram isso.

1.4 - Outro ponto a ser lembrado toca na questão do governo centralizado: a onipresença do marido da governadora, o também economista Carlos Crusius. Não foi por acaso que escolhi a foto da governadora com o marido sobre a sacada do Palácio Piratini, na posse, tremulando a s bandeiras do Brasil e do Rio Grande, para ilustrar esse texto. A presença forte do sr Crusius foi destaca inclusive pela coluna política Página 10, do Jornal Zero Hora.
Vejam, não seria o caso de estar o vice-governador lá na sacada ao lado da sra Yeda? Não foi ele o eleito para estar ali pelo povo? Esse ato simples mostra um modelo de gestão que não pode ser desvinculado do centralizador.
O marido da governadora, junto com seu ex-aluno do mestrado de economia da UFRGS, Aod Cunha (nomeado secretário da Fazenda), fez parte do núcleo duro que pensou as estratégias do governo recém eleito, dentre eles o “tarifaço”, que fez a governadora indispor-se com o vice, alguns coordenadores de campanha e partidos e setores empresarias (Federasul, Fiergs, Farsul) e trabalhistas (Fessergs e Força Sindical) que a apoiaram. Isso é um fato muito importante, e a onipresença do marido exprime isso, a meu ver.
Some-se a isso ainda que o Rio Grande do Sul tem uma história recente de problemas com governadores que trazem a família para o governo. No governo Alceu Collares (PDT), 1991-94, ele trouxe sua esposa Neuza Canabarro para a secretaria de Educação e para o núcleo de comando do governo. Ela implantou o “calendário rotativo” nas escolas (aulas durante o verão), medida impopular que colocou o governo em desgaste com o magistério e a sociedade. Ouvia-se muitas reclamações de políticos à época pela onipresença da sra Canabarro no governo, em prejuízo às lideranças políticas dos partidos do governo.
Os gaúchos tem isso vivo na memória.
Quando vemos o presidente do PFL gaúcho e deputado federal Onyx Lorenzoni reclamar que o governo Yeda está relegando a esfera política que a elegeu e formando um núcleo apenas de técnicos, questionando inclusive a inserção do seu esposo no governo, não há como não pensar nisso.


2 - O “TARIFAÇO -CONGELANTE”

2.1 - O governo da sra Yeda Crusius (PSDB) começou no dia 28 de dezembro de 2006, quando a mesma ainda nem tinha tomado posse: enviou para a Assembléia Legislativa, com a anuência do governador que saía, Germano Rigotto (PMDB), o chamado “tarifaço”, que aumentava impostos e congelava salários, adicionais e vantagens do funcionalismo público por dois anos!
O “tarifaço-congelante” marcou a primeira derrota da governadora eleita, justamente contra os próprios partidos que a apoiaram na eleição, como o PFL, partido do vice, Paulo Afonso Feijó.

2.2 - Além do PFL, alguns deputados do PMDB, PPS, PP, PDT e do próprio PSDB (!) votaram contra o projeto do “tarifaço-congelante”, por um motivo muito simples: um dos compromissos da candidata Yeda era de que não era necessário aumentar impostos!!!
Propalou isso aos quatro ventos nos debates e no horário eleitoral. Inclusive foi um ponto em que chegou a polemizar fortemente num debate com o então governador Rigotto, que havia aprovado um tarifaço na Assembléia e foi duramente criticado pela mesma.
O “tarifaço” da sra Yeda ia um pouco além do que o sr Rigotto havia aprovado, mas era praticamente a sua continuidade, exceção feita ao congelamento de salários dos funcionários.
O seu vice Paulo Feijó, que era presidente da Federasul (entidade empresarial gaúcha do comércio e serviços), foi com adesivo na lapela contrário ao projeto no dia da votação, pressionando os deputados a rejeitá-lo, junto com várias lideranças empresariais do campo e da cidade que apoiaram publicamente a sra Yeda.
Dois deputados estaduais que já haviam sido escolhidos para participarem do secretariado, Jerônimo Goergen (PP) e Berfran Rosado (PPS), renunciaram aos cargos que ainda nem haviam assumido e votaram contra o projeto, por coerência com as propostas de campanha. Berfran, para se ter uma idéia, era um dos coordenadores da campanha de Yeda.
Ironicamente, a única bancada que votou inteira com o governo foi a do PTB, que tinha indicado o vice na candidatura a reeleição de Rigotto e ocupava secretarias em seu governo. Como ele não foi para o segundo turno, disputado entre Yeda e Olívio Dutra (PT), o PTB apoiou a governadora.
Aliás, o próprio PSDB (que é um partido pequeno no Rio Grande) participou do governo Rigotto, do qual saiu antes do período eleitoral. O vice governador era Antônio Holfheld (PSDB) e o partido ocupava algumas secretarias. Holfheld saiu do PSDB e foi para o PMDB durante o governo. Isso estremeceu as relações do PSDB com o governo Rigotto.

2.3 - Ao fim, a governadora Yeda Crusisus acabou sem nada, ou seja, nem a permanência do “tarifaço” do sr Rigotto e tampouco o “plus” que pretendia agregar, demonstrando possuir uma fraca governabilidade junto aos deputados estaduais de sua própria base e dos setores sociais por eles representados.
O aumento dos impostos, que os empresários do campo e da cidade combateram, não poderá acontecer em 2007 devido a derrota na Assembléia Legislativa.
Já as medidas de congelamento de salários do funcionalismo e cortes de custeio, o governo pode bancar por conta própria. Assim, já se vê quem são os únicos que começam a sair perdendo no novo governo...


3 - COMPOSIÇÃO DE GOVERNO

3.1 - A composição partidária que elegeu a economista Yeda Crusius (PSDB) e Paulo Feijó (PFL) agregava ainda o PPS e outras siglas de menor porte. Embora essa composição desse o maior tempo no horário político (calculado com base da representação federal dos partidos), era uma unidade de partidos pequenos no Rio Grande do Sul.
Com a derrota em primeiro turno do governador Germano Rigotto (PMDB), o PMDB e o PTB passaram a apoiá-la no segundo turno contra Olívio Dutra, do PT. Agregaram-se ainda a sua candidatura outros partidos que participavam do governo Rigotto, como PP, PDT e que também tinham lançado candidatura no primeiro turno. Isso fortaleceu muito a candidatura da sra Yeda, visto que os partidos citados são de médio e grande porte na política local.

3.2 - Para situar o leitor, é bom lembrar algumas coisas da recente história politico-administrativa do Rio Grande do Sul:
A - O PSDB, embora pequeno no estado, indicou o vice-governador nos governos Alceu Collares (PDT) – 1991/94, Antônio Britto (PMDB) – 1995/98 e Germano Rigotto (PMDB) – 2003/06. Só fez oposição em tempo integral para o governo Olívio Dutra (PT) – 1999/2002. Teve conflito com o governador nos governos Collares e Rigotto.
B - Em 2002, uma parte do PMDB rompeu com o partido e foi para o PPS junto com o ex-governador Britto, que concorreu novamente ao governo naquela eleição, ficando em terceiro e não indo para o segundo turno, disputado por Tarso Genro (PT) e Germano Rigotto, que venceu. Todos os que saíram eram próximos do núcleo do governo Britto, como o deputado federal Nelson Proença (secretário de Governo de Britto), os deputados estaduais Mário Bernd (candidato ao senado em 2006), Cézar Bussato (secretário da Fazenda de Britto) e Paulo Odone, além do então senador e hoje prefeito de Porto Alegre José Fogaça.
C – Assim, vê-se que o PSDB sempre gravitou em torno de um mesmo segmento do espectro político partidário gaúcho e entende-se o porque da unidade no segundo turno, unindo até o PMDB com seus ex-membros do PPS. Aliás, fica claro aqui o apoio do PPS a candidatura de Yeda, ao lado do PFL, que também participava do governo Rigotto.

3.3 - Logo, o governo de Yeda Crusius ficou assim composto:
- PSDB com quatro secretarias (Fazenda, Infra-Estrutura e Logística, Meio Ambiente e Justiça e Inclusão Social);
- PMDB com três secretarias (Casa Civil, Habitação e Saneamento e Saúde);
- PP com três (Agricultura, Relações Institucionais e Cultura);
- PTB com duas (Administração e Turismo);
- PDT com duas (Segurança e Obras);
- PPS com uma (Desenvolvimento).
- Educação, Planejamento, Irrigação e Comunicação ficaram com técnicos de escolha da governadora.
(O sr Paulo Fona, jornalista escolhido par secretário de Comunicação, não é gaúcho, mas sim amazonense. Foi assesor de jaquim Roriz (DF) e Anthony Garotinho (RJ). Jornalistas daqui, como o sr Políbio Braga, não gostaram. Fico a imaginar o que muita gente diria se o presidente Lula convidasse um jornalista estrangeiro para ser assessor de imprensa do governo federal...)

3.4 - Um detalhe a ser levado em conta: das 17 secretarias acima citadas, em 4 o secretário continua sendo o mesmo do governo Rigotto (Saúde, Turismo, Meio Ambiente e Administração). Em algumas autarquias também ficam os mesmos diretores do governo Rigotto, como no Instituto de Previdência (IP), ocupado pelo PP, e Banrusil, pelo PMDB.
No Desenvolvimento, o secretário é o mesmo que ocupava a pasta no governo Britto.
Vê-se que, dos partidos que apoiaram Yeda no primeiro turno, só o PFL ficou de fora do governo, pelos motivos que citei nas partes 1 e 2 deste ensaio.
O estranho disso, é que o PP teve o deputado ligado ao setor do agronegócio que renunciou à Secretaria de Agricultura, por pressão das entidades de classe (principalmente da Farsul) para votar contra o “tarifaço”. Mas o PP pôde indicar um outro nome para a pasta, também ligado à Farsul, para ser secretário...
Assim, conclui-se que a briga com o PFL deve ter outros motivos a ampliá-la, pois aliados do segundo turno receberam maior tolerância por parte da governadora...

3.5 - Pala composição, vê-se que o governo Yeda é, em certa medida, a continuidade do governo Rigotto, pela sua composição e pela medida do “tarifaço”.
Mas, levando-se em conta a proximidade política e ideológico do governo Britto com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a proximidade da Sra Yeda com estes dois, e principalmente após os seus primeiros atos de governo, creio que ela será uma versão atualizada e aprofundada do governo Antônio Britto.


4 - YEDA E O FUNCIONALISMO

4.1 - O leitor que chegou até aqui deve ter percebido que este que vos escreve não tem muita coisa boa a dizer para o funcionalismo, visto que ele será o único que sairá perdendo, de saída, com o novo governo.
Se o governo Yeda se parecer ou for mais “avançado” que o governo Britto no trato com o funcionalismo, então este danou-se.
O congelamento de salários por dois anos, assim como o dos adicionais e vantagens (“para impedir o crescimento vegetativo da folha”), vai estropiar de vez com o poder aquisitivo dos salários destes, que vem sempre correndo atrás da inflação há uma década e perdendo feio.
E sem falar na redução de 30% do custeio da máquina, quase sempre um eufemismo para “faltas de materiais, equipamentos e recursos humanos”.
E diga-se, a conjuntura não está nada boa para o funcionalismo, desde a Reforma da Previdência “cometida” pelo governo Lula. A perda de direitos do funcionalismo estadual, que teve um grande prejuízo no governo Britto, tende a aumentar nos próximos anos.
Vejam, se o governo Lula, que é (é?) de esquerda, já trata os funcionários públicos de maneira muito parecida como a que fazia o governo FHC (arrocho!), imagina então uma governadora que tende a ser parecida com Britto e é “intelectualmente” próxima a FHC?
É bom nem imaginar... mas ficar rezando!
(Até porque em Mato Grosso não se sabe se pagam o salário de janeiro e, no Ceará, até hoje ainda não tinham pago dezembro pro pessoal.)
(Até porque não devemos esquecer que osmesmos deputados que votaram contra o "tarifaço-congelante" devem acatar o veto da sra Yeda Crusisus ao aumento de 6.09% previstono rçamento para o Judiciário, MP e Legislativo. Ou seja, os deputados da base da governadora só brigam com ela quando é o interesse dos empresários do campo e da cidade que estão em jogo. Quanto aos outros interesses...)

4.2 – Na verdade desde há muito tempo essa lógica vem ocorrendo: funcionário público é incompetente e ganha muito! E a receita decorrente é clara: Então corrija-se esse mal!
Não que não sejam necessárias correções no funcionalismo, já que sabemos que a classe não é uma irmandade de freiras carmelitas...
Mas por outro lado isso é uma forma de colocar nas costas dos trabalhadores públicos concursados a culpa por anos de má administração, malversação e esbanjamento do dinheiro público por governantes ineptos e corruptos (não estou generalizando).
Desde que Juscelino meteu a mão  no dinheiro da Previdência para fazer Brasília que a coisa está assim.
(Se o dinheiro da Previdência ficasse no lugar devido desde a sua criação, ela estaria hoje na situação em que está?)
Rouba-se, fazem-se negócios da china, dá-se o dinheiro e o patrimônio da “viúva” para muita gente (que não precisa, em grande parte) e depois que a vaca vai para o brejo a culpa é do funcionalismo, que “ganha muito e não faz nada”.
Trabalha-se sem condições materiais adequadas e com recursos humanos insuficientes, levando nas costas a justíssima raiva do povo contra as deficiências do serviço público e, ainda por cima, há tempos vê-se o poder aquisitivo do salário diminuindo. E notícias dizendo que os “terceirizados” admitidos sem concurso estão recebendo mais que os funcionários de carreira...
Ora, ser funcionário público vale, hoje, pelo salário em dia (quando é pago em dia!), pela previdência social e pela estabilidade no emprego. O que, convenhamos, não é pouca coisa nessa desgraceira que está o mercado de trabalho.
E a utilidade do funcionário público para a economia da sociedade é considerável. Esse pessoal que ganha aí entre 500 e 2.000 reais são os grandes distribuidores de renda do dinheiro público.
Quem contrata o Zé para capinar o seu pátio? Quem contrata o João para fazer aquele aumentinho em sua casa? Quem come xis e bebe cerveja e refri no bar do Tunico? Quem paga a Jurema para fazer limpeza na sua casa? Quem compra a rifa beneficente que a Maria vende para dar leite pros necessitados? Quem compra na loja do Manoel? Quem aluga filme na locadora do Luís? Quem compra CD na loja do Paulinho? Quem compra revista na banca da Alzira? Quem usa Internet no Cyber Café do Juliano? Quem...
É ele!
E com isso acaba gerando emprego e renda na cidade onde mora, movimentando a economia local.
Agora imagina a governadora Yeda Crusius congelando salários e adicionais por dois anos para o bem da coisa pública?
Seu Zé, eu vou ter que cortar a grama eu mesmo, tá ruim a coisa. João, não vai dar pra aumentar a casa agora. Oi Tunico, como vai, qualquer dia eu apareço por aí. Dona Jurema, sinto lhe informar...
E, assim, o andar de baixo é que vai ficar mais embaixo, se virando com o Bolsa Família...
(Tudo bem, sou funcionário público estadual e, assim, legislo em causa própria. Mas me digam: estão errados os meus argumentos?)


5 - YEDA E A SEGURANÇA PÚBLICA

Assim como no Brasil, a segurança pública é um dos principais temas políticos e administrativos do Rio Grande do Sul. Embora o estado não esteja no fundo do poço, como São Paulo e Rio de Janeiro, também enfrenta problemas na área que são repercutidos muito na mídia, governo após governo (mas, claro, mais “repercutidos” quando o governo foi do PT...).
Eis uma área onde a bazófia sempre acaba gerando um efeito contrário.
Claro, merecem aplausos a governadora e seu secretário de Segurança, junto com o chefe de Polícia e o comandante da Brigada Militar, ao falarem duro na imprensa contra o crime organizado, prometendo enfrentá-lo com denodo.
Mas, cá entre nós, quando ouço a sra Yeda falar que será “uma comandante em chefe” na “guerra contra o crime organizado”, eu a aplaudo mas fico com uma pulga atrás da orelha. Sabem porquê? Porque parece o Bush, o Chavez e o Fidel falando!
Retórica belicista! Não que eu não a apóie, não torça e não concorde com ela no objetivo, mas creio que não é assim que se faz a coisa.
Acredito em ação social conjugada a ação policial, planejamento, serviço de inteligência (principalmente), compra de equipamentos, contratação de recursos humanos e valorização profissional e salarial dos servidores. Tudo bem , esse também é o discurso da governadora e dos seus comandados.
Entretanto tudo isso deve ser feito sem estardalhaço, que é para, como se diz, “não alertar os gansos”. A surpresa e o segredo são armas valiosas, para, quando o ganso ver, ele já estar na panela.
E, como o estado está na pindaíba, como contratar funcionários, comprar equipamentos e valorizar os funcionários?
Imaginem o “incentivo” de um policial militar, policial civil ou agente penitenciário para ir à “guerra”, conclamada pela “comandante em chefe”, morando numa vila (onde sua família fica sozinha enquanto ele trabalha), recebendo pouco, sem aumento e com adicionais e vantagens canceladas, com o crime organizado agindo sem barreiras legais na intimidação?
No meu ponto de vista, quem não primeiro resolver satisfatoriamente essas questões, irá de calças curtas e mãos abanando para a “guerra”.
Uma coisa é o Bush dar discurso amparado nos bilhões do governo e nas bombas às suas costas, outra coisa é declarar guerra e depois anunciar que não terá dinheiro nem para pagar a folha de fevereiro...
Detalhe: o carro da governadora foi roubado dia 3 de dezembro, o do sub comandante dia 3 de janeiro e o vice-governador foi assaltado dia 5 de janeiro. Isso diz tudo. Quando o Tim Lopes foi morto no "microondas do Maluco", daí se ligaram na coisa. Quantos "indigentes" sem importância já haviam sido cremados antes, ante a omissão das autoridades? Isso reflete uma lógica...
E tem outra: quando vejo a mídia gaúcha ligada a Rede Globo dando cobertura para as ações iniciais e falas da sra Yeda, destacando que o comandante da BM e o secretário participam de algumas operações iniciais, tudo me cheira a... propaganda chapa branca!
E digo o motivo: essa mesma mídia trucidou o governo Olívio na questão da segurança pública e amaciou no governo Rigotto, quando a coisa ficou ainda pior. Digo isso com convicção porque sei do que estou falando, acreditem (mesmo que não concordem).
Logo, desconfio que a mídia local, da qual a governadora é persona muy grata (já trabalhou como comentarista de televisão), esteja a fim de dar uma forcinha...
Outra coisa: ficar fazendo matéria comparando o atual secretário Bacci com os seus antecessores, dizendo que eles não iam ver as blitz da polícia, é palhaçada. Secretário bom é aquele em que o funcionário sente apoio, e isso não nada a ver com marketing.
Mas, sinceramente, torço e quero que a governadora tenha muito sucesso na área. A gente precisa!

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Bom, se você chegou até aqui é porque está interessado no assunto. Então vamos finalizá-lo.
Tirando a conjuntura política local, o governo Yeda Crusius acontece num momento em que 21 dos 27 governadores recém empossados encontraram seus estados em dificuldades financeiras e adotaram medidas semelhantes.
Embora eu tenha votado numa “receita” diferente da apresentada por ela, devo reconhecer que essa conjuntura lhe dá um álibi político e administrativo.
A saída da sra Yeda Crusius, sem o acréscimo de impostos, vai ser repetir o governo Britto: arrochar salários e vender patrimônio público.
Todavia isso seria um outro desgaste político e um desastre ético. Como no caso do Banrisul, por exemplo. Ironicamente, vendê-lo seria dar razão ao seu desafeto interno, o vice Feijó, e descumprir um outro compromisso de campanha...
Mas sobram alternativas, para além da redução de custos do governo?
(Já li alguns por aí a proporem o fechamento do Palacinho do vice e o fim da pensão vitalícia para os ex-governadores, colocando que se é pra economizar, tem que ir a fundo!)
O secretário da Fazenda, sr Aod Cunha, disse que o Fundopem, instrumento de incentivos fiscais que beneficia muito os empresários da indústria (apoiadores da candidata Yeda), tem que ser revisto por gerar muita evasão de recursos do combalido estado gaúcho. Mixaria, algo em torno de... 6 bilhões ao ano!
(Para se ter uma idéia, é um númeo pouco superior ao valor que o governo Britto arrecadou em quatro anos vendendo estatais gaúchas que havia prometido que não venderia.)
Rever incentivos fiscais... Essa medida eu aplaudo de pé! Mas pago pra ver... e vou ser o primeiro a elogiá-la e a defendê-la publicamente! Já tenho até lema: "Abaixo a guerra fiscal!"
Ele mesmo vem dizendo na imprensa que o congelamento de salários e vantagens dos funcionários, além do corte de 20% dos CC’s e redução da 30% com as despesas de custeio da máquina são paliativos insuficientes. O salário de fevereiro está comprometido!
O novo governo já anunciou cobrar a dívida ativa do esdado, outra bagatela da ordem de... 12 bilhões! Quer recuperar pelo menos 10% disso.
Ora, porque tanta bondade para com os devedores do fico e tanta malvadeza para com os funcionários públicos, que pagam todos os impostos na boca do caixa e no desconto inexorável do contra-cheque?
Poderiam pensar em, no mínimo, 50% do valor.
Creio até que um “tarifaço”, nos moldes do que Rigotto já fez, seria algo a ser pensado nos próximos dois anos. O ex-secretário do Planejamento do governo Rigotto, Brum Torres, continua afirmando que “no RS a receita do ICMS sobre o PIB estadual é de apenas 7%, índice inferior ao de quase todos os outros estados “ (Correio do Povo, 05/01/07).
Com relação a renegociação do pagamento das dívidas com a União, que gira em torno de 15% da receita, as perspectivas não são boas. Saiu FHC e entrou Lula, saiu Malan e agora está Mantega, e necas de pitibiriba: sem “renegócios”!
Nesse caso podemos observar que, assim como na vida, na política também aqui se faz e aqui se paga.
Quando o governo Britto (PMDB) renegociou as condições de pagamento do Rio Grande com a União, disse que fez um grande negócio, no que foi apoiado por grande parte dos articulistas “imparciais” da imprensa local.
O sr Fernando Henrique (PSDB) era o presidente, o sr Germano Rigotto (PMDB) um dos seus líderes no Congresso e a sra Yeda Crisius (PSDB) deputada federal de situação. Todos apoiaram o “negócio” sr Britto.
O então governador Olívio Dutra (PT), seu sucessor, queria renegociar o pagamento da dívida, fazer reunião de governadores para pressionar a União e... necas!
Agora essa é a cruz da Sra Yeda Crusius. E... necas também!
A vida dá voltas. O mundo gira e a lusitana roda...