Verdade e liberdade
- Olá, Leitor! Tudo bem?
- Olá, Pensador! Sim, tudo bem! E tu, como estás?
- Também estou bem, graças a Deus!
- Que bom! Faz tempo que não conversamos heim? O que aconteceu?
- Pois é, leitor amigo! A Terra gira e tentamos acompanhá-la, mas às vezes fi-camos um pouco pra trás, fazer o quê, né?
- Refere-se ao tempo?
- Sim, ao tempo. Tudo está muito corrido.
- Sabe, Pensador, às vezes eu acho que tudo é miragem, sabias? Que essa pressa toda é pura ilusão.
- O tempo é ilusão? Os afazeres da vida também?
- Então, Pensador! Sabe aquele filme, Matrix?
- Sei, aquele que faz parte de uma trilogia que fez sucesso há um tempo, não é?
- Esse mesmo.
- Entendo, então tu achas que nosso mundo é uma ilusão do tipo Matrix? É isso?
1. Matrix
- Sim, Pensador, isso mesmo! Observe: no filme, as pessoas trabalhavam, se di-vertiam, comiam, bebiam, dormiam e etc., do mesmo modo que nós fazemos, mas aí se descobre que, na verdade, nada daquilo que conheciam era real, pois todo mundo, ao nascer, na verdade, estava conectado a um imenso computador, cujo sistema operacional chamava-se Matrix.
- Isso é bem cabuloso, né?
- Pois é, Pensador, cabuloso é apelido, as pessoas nasciam, cresciam e morriam sem nunca saírem de suas cápsulas cheias de gel. Elas recebiam sua alimentação através de tubos, mas nunca despertavam, estavam sempre dormindo, enquanto sua energia era sugada e transformada em eletricidade para “sustentar” o mundo das máquinas.
- De fato, o filme é interessante, mas isso é ficção, Leitor!
- Será mesmo? Poderíamos viver algo parecido neste exato momento e nem nos daríamos conta. Tem muita gente que considera essa possibilidade perfeitamente plau-sível, sabias?
- Amigo Leitor, passar toda a existência dormindo com um plugue conectado à cabeça e ligado a um megacomputador que entra nas mentes das pessoas e insere todos em um mundo virtual e ainda convence todo mundo que tudo aquilo é real. Isso é plau-sível? Tu acreditas Leitor, que estamos dentro de uma cápsula com gel em algum lugar?
- Não sei Pensador, mas como saber se nosso mundo de fato existe? Descobrir isso seria buscar a Verdade, não é? Afinal, todos querem saber de onde viemos, para onde vamos, por que existimos e etc.
2. Podemos controlar a realidade?
- Depende de que verdade tu queres saber, Leitor! Pois se forem “verdades” existenciais, como essas questões que dissestes, então, sinceramente, tanto faz se vive-mos na Matrix ou não.
- Não comeces com divagações, Pensador! Se vivemos em um mundo virtual, então queremos ir para o mundo real, ora essa! Queremos a Verdade!
- A busca pela Verdade, Leitor, seja no mundo virtual ou real, é a mesma.
- Nada a ver!
- Veja, se tal Matrix existisse e nós conseguíssemos sair dela, então seríamos in-seridos em outra realidade que também não conheceríamos, certo? Essa “outra” realida-de seria tão enigmática quanto a própria Matrix, entendes? Ficaria tudo do mesmo ta-manho, afinal, qual a diferença de conceitos entre uma e outra? A busca pela verdade é sempre a mesma, não importa em qual mundo estejamos inseridos.
- Mas ao sairmos do mundo virtual, veríamos que tudo é criação da Matrix, logo, muitas coisas seriam respondidas ao sairmos de lá.
- Muitas quais, Leitor? As mesmas dúvidas permaneceriam, tanto no real quanto no virtual. Conforme tu mesmo disseste, nossas dúvidas na Matrix seriam: de onde vie-mos, para onde vamos, quem somos e etc., certo? Dúvidas existenciais, portanto. Entre-tanto vivemos no mundo real e temos essas MESMAS dúvidas, concordas? Porém, su-ponhamos que vivêssemos de fato na Matrix, então, descobríssemos que existe o mundo real, mas não só isso, imagine só, e se por um motivo qualquer, descobríssemos que existe ainda mais outra realidade? E depois outra, outra e assim por diante?
- Tá, e daí?
- Veja, não importa em que “realidade” estejamos, pois sempre perguntaremos de onde viemos, para onde vamos, quem somos e etc. A simples mudança de “realidade” não garante resposta para essas dúvidas, apenas criaria ainda mais dúvidas.
- Discordo, Pensador, ao sairmos da Matrix, veríamos que tudo era falso, pois estávamos inseridos em um imenso sistema de gerenciamento regido por programas que governavam os diversos aspectos da vida, nada era natural. No mundo real é diferente, talvez as dúvidas existenciais sejam as mesmas, mas seria tudo novo e diferente.
- Diferente, Leitor? Tens certeza? Nosso universo real é lógico também, pois é racional e matematicamente preciso. Nossa realidade “real” segue a precisão típica de uma máquina, é por isso que os cientistas conseguem estudar o universo, pois tudo está preso a sistemas e padrões extremamente complexos, mas imutáveis. Por isso, realmente, até dá pra sugerir a existência de uma Matrix, mas caso realmente exista, pela lógica, ao sairmos dela, ou seja, ao sairmos do mundo virtual, então, deveria existir outro “sistema” no suposto novo mundo real, pois precisaríamos de um megacomputador para gerenciar o mundo real também, pois sempre serão necessárias leis para reger o universo, Leitor! Basta observar as leis da física, química, gravidade e etc., são como “programas” escritos para gerenciar os diversos aspectos da vida. A realidade, seja ela qual for, sempre dependerá de sistemas lógicos e padrões para existir, para gerenciar-se, seja no mundo virtual ou no real.
- Então a Matrix existe, Pensador!
- Talvez, sim! Mas a grande questão é que talvez a Matrix não seja o regente de um mundo virtual, mas do mundo real.
- Hã???
- Depois nos aprofundaremos nisso, mas no momento, a grande questão, amigo leitor, é que existindo ou não a Matrix, jamais teremos controle sobre a realidade, en-tendes? Assim, não importa se existe Matrix ou não, a realidade sempre existirá por si mesma, pois, de qualquer forma, sempre estaremos dentro de algum tipo de “sistema”, seja para vivermos em uma realidade virtual ou no mundo real. Assim, acredito que a única ilusão que existe, de fato, seria aquela criada por nós mesmos.
3. Tudo o que vemos e conhecemos realmente existe?
- Tudo bem, Pensador! Pessoalmente, eu acredito que existe a Matrix, talvez tu não acredites ou apenas a chame de Deus, mas o que queres dizer com “ilusão criada por nós mesmos”? Uma coisa que se tem falado muito hoje em dia é sobre a “divindade” interior. É disso que estás falando? Tem muita gente acreditando que nossa realidade é nossa própria criação, ou seja, nada de Matrix! Tenho certeza que já ouviste algo do tipo: “eu sou meu próprio deus” ou coisa semelhante, certo? E aí, o que tu achas? É desta ilusão que dizes?
- Pois é, amigo! Não é desse tipo de ilusão que me refiro. Quão poderosos serí-amos se isso fosse verdadeiro, heim? (risos). Isso é meio estranho, Leitor! Se o mundo todo fosse criação minha, por exemplo, então, eu seria único no mundo? Afinal, não haveria outras pessoas iguais a mim e as demais que existiriam, eu as teria criado, afinal, tudo estaria apenas na minha mente, não é? Assim, inevitavelmente, eu teria controle total sobre esta realidade, pois seria meu próprio e único deus, certo?
- Pra mim, esse conceito tem sentido, Pensador!
- Já desististe da Matrix, é? (risos).
- Apenas tento manter a mente aberta, só isso!
- Que bom, então, por favor, continue com sua mente aberta durante todo nosso bate-papo, pode ser?
- Com certeza!
- Fico feliz em saber disso. Muito bem, voltando ao assunto! Se fôssemos nosso próprio Deus, então, teríamos o controle de tudo. Mas nós temos algum controle sobre a realidade, Leitor? Conheces alguém que tenha? Eu controlo a ti, por exemplo? Tu me controlas? Eu não sei o que tu estás pensando neste momento, por exemplo. Também estou com dúvida se tranquei mesmo a porta quando sai de casa, não sei o que estão fazendo na sala ao lado da minha, não sei o que vai acontecer nem daqui a cinco minu-tos. Será que estarei vivo amanhã? Não sei. Não sei de NADA!
- Eu não controlo a realidade, Leitor, pois ela não depende de mim para existir.
- Tudo bem, Pensador! Se tudo fosse imaginação de alguém, então TUDO estaria dentro de apenas uma mente, admito que isso seja meio forçado, mas se a realidade não depende de nós, como disseste então cada um pode interpretá-la a seu modo, não é? E desse modo construir suas próprias verdades.
- Pois é, Leitor, isso, sim, faz algum sentido, pois neste caso existiria uma reali-dade fora de nós e compartilhada por todos onde cada um a interpretaria a seu modo. Mas há um aspecto controverso neste conceito, caro Leitor!
- Pronto, lá vem!
- Este conceito sugere que ao possuirmos nossa própria e exclusiva verdade, en-tão, também seríamos totalmente independentes uns dos outros, completamente livres, por isso, jamais haveria verdades compartilhadas, jamais alguém pensaria igual a outra pessoa.
- Isso tem sentido, Pensador!
- Isso tem sentido? Sério? Com todo o respeito, Leitor, isso é balela!
4. A liberdade é uma ilusão criada pelos poderosos?
- Balela o cacet..., Pensador! Tem todo sentido pra mim! Se cada um vê a reali-dade de um jeito, então ela será diferente para cada um, isso é óbvio! Ninguém é igual a ninguém, somos totalmente livres para fazer o que der na telha, certo? Cada um tem sua própria verdade, o pessoal da USP levou isso ao pé da letra.
- Se isso tivesse realmente sentido, Leitor! Então os maconheiros da USP que deturparam a ordem pública e tentaram destruir uma instituição de ensino que sempre foi referência nacional (instituição, aliás, que não é deles, pois é sustentada com dinheiro público. O teu dinheiro, Leitor!), não estariam errados, seu vandalismo seria legítimo.
- Não apoio vandalismo, Pensador! Não coloque palavras na minha boca, por fa-vor! Apoio a liberdade, apenas isso!
- Mas essa seria a “verdade” deles, Leitor, afinal, como dissestes, são livres, não são? Então podem destruir aquilo que TU pagas com teu dinheiro.
- Não é bem assim, existem coisas que dependem de consenso coletivo, ou seja, não é de apenas um, mas de todos.
- Bingo!!!
- Bingo, por quê? Consenso coletivo não tira a liberdade de ninguém, apenas ajuda na convivência entre as pessoas, só isso!
- Se a ajuda na convivência entre as pessoas fosse o único critério a ser conside-rado, meu caríssimo leitor, então, eu nada teria a dizer e ainda assinaria embaixo. Mas tem caroço neste angu, colega! Podemos começar do início?
- Começar o que? Estamos conversando há um tempão!
- Refiro-me ao conceito que estamos debatendo. Tu dizes que cada um vê a rea-lidade a seu modo e por isso, como diz o ditado: “cada cabeça uma sentença” e, portan-to, cada um é livre para fazer o que quiser, certo?
- Certo, mas tem o consenso coletivo.
- Esse consenso tira a liberdade individual, Leitor, logo, não somos livres.
- Onde tu queres chegar com isso, Pensador?
- Vamos recomeçar realmente do início, observe: Uma criança perdida de seus pais e criada hipoteticamente por lobos dificilmente será um cientista, por exemplo, pois pensará de si apenas como outro lobo, não é? Esse é o chamado homo ferus. Do mesmo modo, uma criança abandonada pelos pais e parentes e criada na rua, de que modo essa criança interpretará a vida? A sarjeta será seu universo e sua mente estará presa a apenas essa realidade.
- De fato, muitas vezes é difícil fazer com que um morador de rua mude sua forma de viver, quase sempre voltam para as ruas. Afinal, cada um tem suas verdades, né?
- Será? A sarjeta é a realidade dessa pessoa, aquilo é que é a sua vida, lá estão as verdades que ela conhece...
- Como eu disse Pensador, cada um tem suas verdades.
- Aí é que está, Leitor, que verdades? Se formos apenas o resultado final das in-fluências que tivemos durante a vida, então não há independência de fato e nem esco-lhas. Que verdades podem existir? Vimos no início que a realidade não depende de nós para existir, sendo assim, cada um de nós interpretará a mesma realidade de forma dife-rente, pois a interpretaremos a partir das “verdades” que tivermos adquirido durante a vida, verdades aprendidas ou impostas por outros, assim, de um modo geral, a maneira como veremos a realidade dependerá de fatores internos (que adquirimos durante a vi-da) que funcionarão como um tipo de “filtro” que nos dará uma realidade moldada por essas supostas verdades adquiridas, mas que não será, necessariamente, a realidade em si, entendes?
- Mais ou menos.
- Caro Leitor, imagine duas crianças recém-nascidas que nasceram em países di-ferentes. Neste momento elas são, de certo modo, idênticas, pois nada aprenderam sobre a vida, ainda não foram a uma escola, não frequentaram religião, nada sabem sobre a cultura de seu respectivo povo e etc. Entretanto, uma dessas crianças foi criada por pais céticos, por isso, aprendeu que o sol é uma estrela como qualquer outra e que está pró-xima da Terra e etc. Outra criança, porém, foi criada por pais religiosos, desses que cul-tuam a natureza, por isso, para ela, o sol será um tipo de divindade, o deus sol.
- A realidade, Leitor, é apenas uma, ou seja, independentemente da interpretação que derem ao sol, ele continuará sendo o que é, certo? Mas a forma como essas crianças interpretam o sol foi moldada a partir daquilo que aprenderam. Essas crianças, Leitor, enxergam o real? Livremente desenvolveram suas verdades?
- É errado os pais darem um fundamento de vida a seus filhos, Pensador? Mesmo que esse fundamento seja fruto de sua cultura?
- Não foi isso que eu quis dizer, Leitor, pois se os pais não derem fundamento algum a seus filhos, alguém dará. Mas quem será esse alguém? Isso é um risco que pai/mãe algum podem correr. Melhor que sejam os pais, portanto!
- Tudo bem, Pensador, então quer dizer que nunca desenvolveremos nossas ver-dades sozinhos, é isso? Mas o consenso coletivo que todo mundo é sujeito dá uniformi-dade à convivência humana. Foi isso que deu origem às leis que seguimos, por exemplo, não é? Existe um controle externo aceito pela maioria para garantir a convivência pací-fica e harmoniosa entre as pessoas, mesmo que sejam pessoas diferentes.
- Controle externo, exatamente.
- Pensador, não confunda ainda mais, explique, por favor!
- Como “estamos” estressadinhos, hoje, heim? (risos). O consenso coletivo de hoje não depende mais da cultura local, Leitor! Esse é o principal problema que atraves-samos na atualidade. Hoje em dia, o consenso coletivo nem sempre é uma junção de “conceitos” individuais ou culturais, esse suposto “consenso” muitas vezes é formado pela minoria que detém o controle da verdade (ou das supostas verdades que dizem pos-suir), assim, esse “consenso” surge como consequência de determinado tipo de pensa-mento dominante, geralmente conforme interesse de poucos, que dá origem a determi-nados padrões na sociedade, entendes? Em uma época de domínio midiático como o nosso, é fácil perceber isso, pois há um pensamento dominante que dirige a sociedade (ou comunidade) que pertencemos. Por consequência, apenas acreditamos naquilo que nos ensinaram nesta “sociedade” ao longo da vida e nos modelos de comportamento que seus “formadores de opinião” nos deram. Esses formadores de opinião, portanto, são os que detêm a suposta “verdade” que toda essa sociedade segue (ou passa a seguir) e se submete.
- Mas Pensador, se somos moldados pela nossa história de vida, pelas influências que recebemos de nossos pais, da rua, professores na escola, livros e etc. Essas influên-cias que recebemos é que determinarão grande parte do modo como perceberemos e entenderemos o mundo, não é? Então como um pensamento dominante desenvolvido por poucos pode ter tanta influência?
- Através de mudanças de valores, Leitor! Ou como a mídia sempre diz: “quebra de tabus”! Já reparaste como qualquer novo conceito ou comportamento, primeiro surge em novelas e BBBs, depois o povo copia? Mudanças, muitas vezes, são realmente ne-cessárias, não há como evitá-las. Mas há mudanças que são dirigidas, ou seja, não são um fenômeno espontâneo, mas manipulado. Mudanças assim, raramente produzem o bem, pois visam interesses específicos. É isso que a mídia faz, dê uma olhadinha aqui: http://pensadorlivre-bill.blogspot.com/2011/02/ditadura-da-midia-1-parte.html. Apenas os donos do microfone são ouvidos.
- Pensador, diga-me, posso ter entendido mal, mas queres dizer, por exemplo, que existe a possibilidade de que até o manifestante mais radical, que se opõe totalmente a qualquer sistema, não possua um pensamento exclusivo e 100% próprio, é isso?
- Em tese, sim! Veja: em nossa história de vida, formamos uma “base” de valores, a partir desta “base”, interpretaremos nossa realidade e nela estarão nossas verdades, certo?
- Acredito que sim!
- Entretanto, Leitor, nem esta “base” está totalmente livre de direcionamento ex-terno, pois ela mesma pode estar inserida dentro dos padrões determinados pela comu-nidade que o indivíduo vive e, portanto, fortemente influenciada pelos “donos” dessa sociedade.
- Isso é esquisito, heim?
- É fácil ver que professores e pais, por exemplo, ensinam às crianças aquilo que muitos “especialistas” do momento ditam como verdadeiro ou, pior, aquilo que a mídia mostra como correto, moderno e atual, não é Leitor? Essa é a razão pela qual os males da sociedade não são tão diversos, mas sempre seguem determinados padrões. Um dos padrões atuais são as drogas, por exemplo. Não vê o exemplo da USP? Além disso, ob-serve a rua de sua casa e compare com dez anos atrás, a quantidade de usuários de dro-gas era MUITO menor no passado, concordas? Mas hoje isso mudou. Por quê? Embora haja campanhas contra as drogas, mas vemos artistas se drogando, ex-presidentes apoi-ando a liberação da maconha, leis protegendo marginais em detrimento das vítimas e etc. Isso tudo nos “direciona” a um novo padrão. O consumo de drogas é um dos novos padrões sociais, mas isso não é obra do acaso, afinal, segundo a ONU, o tráfico de dro-gas lucra mais de 400 bilhões de dólares por ano no mundo. É muito dinheiro! É eviden-te que um povo drogado gera riquezas a quem dele se beneficia.
- Isso é complicado, Pensador! Parece teoria de conspiração.
- Complicado entender ou aceitar?
- As duas coisas.
- Veja só: um indivíduo racista acredita que o negro é sub-humano, não é? Entre-tanto, essa seria sua verdade exclusiva fruto de sua independência de pensamento e vida autônoma ou na verdade ele aprendeu isso de alguém? Sabemos muito bem que crianças não têm problemas com cor de pele, a menos que seus pais, tutores ou professores digam que há problemas, concordas? Ou seja, cada pessoa terá as características de sua comunidade de criação.
- Isso faz sentido! Então quer dizer que o racismo e preconceitos diversos nos são transmitidos, muitas vezes, pela cultura que estamos inseridos, é isso? Então, nem todo mal é exclusivo dos supostos “formadores de opinião”!
- Esses preconceitos diversos que somos obrigados a conviver e a transmitir às próximas gerações surgiram originalmente na própria ignorância humana, pois o homem não entende o próprio homem, e ao invés de procurar entendê-lo, criam-se barreiras culturais que são passadas de geração em geração e que impedem qualquer entendi-mento. Esses são os valores herdados pela cultura, Leitor! Os formadores de opinião, como dito acima, criam novas verdades e alteram os valores que foram originalmente adquiridos pela cultura.
- Existe algum fato assim na história?
- Os índios brasileiros são um bom exemplo, pois havia uma cultura local que foi totalmente substituída pela europeia, não é?
- Entendo, então quer dizer que qualquer novo conceito que assume uma postura dominante em substituição ao conceito anterior, isso costuma ocorrer de forma forçada e não espontânea.
- Sim, Leitor! A mídia é o colonizador moderno.
- Pensador, então, conforme dizes, a mídia poderia banir preconceitos também, caso quisesse, não é?
- Sim, mas apenas se for do interesse dos “donos” da sociedade, aliás, é possível banir um preconceito, assim como, é possível criar novos também.
- Pensador! Sempre somos estimulados a ser diferentes, já reparaste? Quem nun-ca ouviu a frase: “cada um com seu cada um”? Isso tem algo a ver?
- Somos estimulados por quem? Se existe um estímulo externo, então, tem al-guém nos dirigindo, não é?
- Esse papo de “conspiração” está estranho, Pensador!
- Tu perguntaste, a algumas linhas acima, se um manifestante radical e contrário a tudo é original em sua forma de pensar, lembra-te?
- Sim, lembro-me.
- Bem, suponhamos que alguém realmente queira contrariar a todos e provar que é possível ser original e totalmente livre de influências ou manipulações, então resolve usar sua imaginação à vontade para formular suas verdades e sua realidade, por isso, questiona tudo e todos e não ouve ninguém, nem sua consciência, então...
- Isso pode parecer meio radical, Pensador, mas é um modo possível de conseguir algo próximo da originalidade, certo?
- Sim, mas uma originalidade pautada totalmente na alienação, autistas é que agem assim, Leitor!
- Pois é, Pensador, ou é alienado ou é manipulado, certo?
- Pois é, aí é que está!
- Estamos perdidos!
- Calma, acredite, existe uma luz no fim do túnel! Mas, continuando... Como disseste, o povo é “estimulado” a ser diferente e supostamente original, não é? Voltando ao assunto das drogas, antigamente, diziam que fumar maconha era ser diferente, hoje quase todo mundo virou maconheiro ou apoia esse estilo de vida. Antes, diziam que destruir-se em noitadas e virar as costas para o futuro era ser diferente, hoje, aos poucos, isso está virando regra de vida. O povo “pensa” que é livre e original, mas na verdade, somente faz o que todo mundo faz, seguem padrões, pois todos acompanham as “ten-dências” do momento ditadas pelos “donos” da sociedade que criam a todo o momento novos modelos de conduta e comportamento (geralmente através de personagens de novelas, seriados, BBBs entre outros), mas ninguém se dá conta disso. A mídia não se interessa pela ordem social, pois a manipulação da mídia não visa o bem estar do povo, mas visa estabelecer o domínio de poucos e seus interesses. É importante dizer, Leitor, que a liberdade não é contrária a qualquer tipo de ordem ou organização, mas somos “ensinados” a pensar que sim, por isso o povo aceita qualquer coisa e de qualquer jeito sob o pretexto de viver sua liberdade, mas é apenas uma marionete, só isso.
- Mas o que a mídia ganha com essa falsa ideia de liberdade?
- Controle, Leitor! Controle total! Essa falsa ideia de liberdade produz uma pro-funda alienação e desconhecimento total do que está ao redor, pois o prazer passa a ser o centro da atenção das pessoas. Pão, circo e baladas, entendes? Afinal, pensar pra que, não é? O que importa é ser feliz, não é o que dizem? Assim, se o povo faz o que a mídia diz e do modo que a mídia diz, então, também vota em quem eles disserem, come o que eles disserem, frequenta a rede social que eles disserem, enfim, acredita em tudo que a mídia disser e ainda pensa que é livre e está buscando a felicidade (sem jamais encontrá-la, contudo).
- Caramba!!! Mas e o tal manifestante do exemplo?
- Dizem que os estudantes da USP que fizeram toda aquela algazarra tinham esse perfil “radical” e “livre”. Mas olhe só que interessante: influenciados por ideias comu-nistas, os mimadinhos (conforme podemos ver aqui: http://www.cpp.org.br/noticiascpp.php?id=3903 ), opunham-se ao “sistema” e a toda e qualquer regra dentro do Campus da USP. Não importava o valor ou necessidade da regra dentro da instituição, para eles, a oposição era a única regra. Assim, ao dominarem a reitoria, eles estavam livres para se drogarem e depredarem tudo o que desse vontade, depois iam embora pra casa em carros de luxo, nem se davam ao trabalho de dormir no local, revezavam-se nesse aspecto, afinal, ninguém é de ferro, pois destruir patrimônio público é uma coisa, mas abrir mão de conforto e luxo é outra coisa bem diferente. O que tu achas disso, Leitor?
- “Influenciados por ideias comunistas”, é isso, Pensador? Comunismo que vai contra a ordem instituída, mas não abre mão do conforto que o capitalismo dá. Pelo que parece, pra tudo há um pretexto, no mínimo, ideológico, mesmo que seja através de um conceito deturpado.
- A ideia de ser “diferente”, Leitor, e acrescentando-se uma “atitude” qualquer para provar essa diferença, como, por exemplo, o uso de drogas. Junte tudo isso a uma ideologia qualquer para servir de pretexto, como uma deturpada ideia de liberdade ou socialismo e pronto! Temos um manifestante bitolado pronto pra ser usado.
- A mídia corrompida apoia esse tipo de coisa, não é Pensador? Tá certo que é de forma indireta e enquanto a baixaria estiver dando certo, depois mudam de lado pra não se “queimarem”.
- Em alguns casos, sim, sem dúvida, mas não sempre. Algumas vezes a mídia não os apoia, Leitor! Ela os forma e os transforma em propaganda ideológica a favor de supostos novos valores, mas ela não apoia, necessariamente, os indivíduos que fazem a bagunça. Na verdade, apenas divulga a “ideologia” por trás. Assim, mesmo que a opini-ão pública fique contra esses “manifestantes”, o “germe” da nova ideologia foi lançado e, com o tempo, tais atitudes passam a ser aceitas pela opinião pública e até estimuladas por ela. Lembra o que falei sobre novelas e BBBs logo acima? Nem sempre um novo conceito é aceito de imediato, mas aos poucos as mentes vão sendo “formatadas” para esse novo conceito. Há mais de 15 anos existem casais gays em novelas, por exemplo. No início, isso foi duramente criticado e rejeitado pelo povo, hoje, o próprio povo de-fende até o casamento gay, inclusive. Não estou levando em consideração, aqui, se ca-samento gay é certo ou errado, estou apenas mostrando um exemplo de mudança de valores patrocinada pela mídia.
- É verdade, Pensador! O Collor e a Dilma são bons exemplos também.
- Sim, infelizmente!
- Uma dúvida, realmente existe preconceito contra gays, Pensador? Ou esse é um tipo de preconceito do bem?
- “preconceito do bem”, essa é boa! (risos). Não existe preconceito do bem. Os homossexuais merecem um tratamento digno como qualquer outra pessoa.
- E o PL 122 (veja aqui: http://pensadorlivre-bill.blogspot.com/2011/05/voce-realmente-sabe-o-que-e-lei-contra.html ) que a mídia aponta como a solução para a ho-mofobia?
- A mídia, como sabemos, não se interessa pela ordem, não é? Homossexuais, assim como qualquer outra pessoa, também tem seus preconceitos, ninguém é imune a isso, pois a “homossexualidade”, hoje em dia, tornou-se um tipo de cultura também. O PL 122 usa o preconceito contra homossexuais como pretexto para legitimar e instituci-onalizar o preconceito contra heterossexuais. É um tipo de vingança, enfim! Entretanto, qualquer preconceito é nocivo, Leitor, e tem como principal consequência o ódio e a guerra entre as partes envolvidas. O PL 122 é altamente discriminatório e, caso fosse aprovado, provocaria caos e guerra ao invés do entendimento supostamente pretendido.
- Então como lidar com essa questão sobre gays? Tu és evangélico, certo? Como lidas com isso?
- Brevemente, Leitor, se Deus quiser, estaremos aqui conversando sobre esse as-sunto, aí veremos que essa questão, no ponto de vista religioso inclusive, não é tão espi-nhosa assim. A homossexualidade não faz que um indivíduo seja inimigo de Deus, como alguns dizem.
- Interessante, Pensador, estou curioso!
- Brevemente, amigo Leitor!
- Mas, então, qualquer novo comportamento ou mesmo algum novo conceito surge primeiro em novelas, BBBs, e demais tipos de mídia e até determinado fato “iso-lado” também pode ser usado para reforçar essa nova “ideia”, é isso? Mas Pensador, se sabemos que a mídia diz o que devemos vestir, comer, pensar, em quem votar, se deve-mos olhar para a direita ou esquerda, viver ou morrer, enfim, tudo! Por que isso ocorre? Somos seres pensantes, isso não faz sentido!
- O indivíduo é racional, Leitor, mas a massa é irracional. Imagine uma sala com várias pessoas, aí surge um foco de incêndio em um canto da sala que apenas tu perce-beste, então tu aproximas de uma pessoa qualquer e diz a ela que se acalme e saia com rapidez e em silêncio. É bem provável que ela faça exatamente do modo que disseste, mas se disseres as mesmas palavras pra TODO MUNDO na sala e ao mesmo tempo, o que vai acontecer é uma histeria coletiva, desespero total.
- Verdade, vai parecer estouro de boiada. (risos).
- Pois é, isso mesmo, um estouro de boiada sem boiadeiro.
- Acho que entendi teu ponto de vista, Pensador! Somos racionais apenas indivi-dualmente, coletivamente somos irracionais e, portanto, manipuláveis.
- Sim! Isso mesmo! E é esse o poder da mídia, pois ela conduz o povo como se fosse realmente gado.
- Então não dá para sermos originais, Pensador! Não dá para ficarmos fora dos diversos “padrões” que somos obrigados a seguir. Até mesmo se eu resolvesse me tornar um “anarquista”, ainda assim, estaria seguindo algum tipo de padrão, alguma tribo, e teria que me sujeitar aos paradigmas daquela “comunidade”.
- A originalidade, hoje em dia, resume-se em IMITAR aqueles que são conside-rados “diferentes”, antenados e etc. Entretanto, Leitor, para ser realmente diferente bas-ta simplesmente pensar por si, só isso. Analisar com sabedoria os prós e contras das experiências vividas e experiências de outros também, aí decidir conscientemente o que é melhor pra si. Ser diferente não é ser original, mas ser livre. Livre de modismos, de costumes ditados por novelas, enfim, cabrestos que servem apenas no povo que vive como gado.
- Isso é triste, Pensador! Então quer dizer que os formadores de opinião e “do-nos” das comunidades que vivemos nos incluem dentro de supostos valores que eles mesmos criaram e com isso alteram os conceitos, crenças, descrenças e demais valores que aprendemos durante a vida, é isso?
- Sim, e isso tudo interfere em nossa compreensão da realidade, é um novo “fil-tro” para a nossa interpretação dela.
- Então é por isso que todo mundo é alienado, pois isso também é um padrão, certo?
- As trevas da ignorância intuitiva (ou cognitiva) é o paraíso para qualquer go-verno corrupto, principalmente se não dermos conta disso. Essa é a verdadeira ilusão que mencionei no final do tópico dois.
- Pensador, tu disseste no subtítulo deste tópico que a liberdade, na prática, é uma ilusão criada pelos poderosos.
- Essa frase eu vi em um dos filmes da trilogia Matrix, gostei e coloquei no sub-título.
5. O que é a Verdade?
- Sendo assim, Pensador, então a única solução é baixar a cabeça e nos confor-mar? Pois qualquer atitude tomada será fruto de algum padrão existente, certo? Esse tipo de pensamento alienante que está em moda hoje em dia nos faz ver que isso é ver-dadeiro, pois estamos condenados a permanecer assim, pois não há como mudar isso. Se existe alguma verdade, ela está completamente fora de nosso alcance, pois havendo mí-dia ou não, sempre teremos algum tipo de “filtro” para interferir em nossa compreensão da realidade.
- Talvez não, Leitor.
- Desculpe Pensador, não entendi! Como assim?
- Acredito que é possível desenvolvermos algo fora das influências que assimi-lamos ao longo da vida, algo puro, ou seja, livre da influência de terceiros, algo, de fato, preso apenas à realidade e, portanto, verdadeiro. Infelizmente (e obviamente) não pos-suo a Verdade, mas creio que é possível ao menos vislumbrá-la.
- Isso não é meio prepotente, Pensador?
- Penso que não, apenas quero dizer que não acredito que somente algum “ilu-minado” possa encontrar a Verdade, pois creio que TODOS podem inclusive nós dois.
- Parece papo de monges do Tibete, sabe aqueles dos filmes? (risos) Agora fiquei curioso. Então, como é que se faz isso?
- A sabedoria oriental pode ser útil muitas vezes, Leitor! Mas antes de prosse-guirmos, como tu defines a Verdade?
- Pergunta difícil, heim? Peço ajuda aos universitários (risos), mas não vale os da USP (risos).
- Pois é, amigo Leitor, não há universitário algum por aqui no momento (risos). Agora resolveste “pegar no pé” daquele pessoal, é? (risos) É necessária muita inteligência para entrar na USP, existe mérito naqueles estudantes, mesmo que não pareça.
- Concordo Pensador, mas o problema não é a inteligência, e sim a completa falta de sabedoria, visão e direção, apenas isso.
- Faz sentido, mas e a tua definição de Verdade?
- Sei lá, Pensador, uma boa definição da Verdade seria dizer que ela é uma des-crição plena da realidade (seja ela qual for) e de sua origem?
- Essa é uma boa definição, Leitor! Parabéns! É como se a Verdade englobasse simplesmente tudo, não é?
- Sim, e qual é a tua definição?
- É basicamente a mesma que a tua apenas vou aprofundar um pouquinho mais em minha descrição.
- “Senta que lá vem história”...
- Uma historinha sempre cai bem, amigo leitor! Tu gostas de desenhar ou pintar?
- Não levo muito jeito, mas gosto de admirar e apreciar, sou amigo da arte.
- Que bom, Leitor, isso mostra que possuis sensibilidade!
- Obrigado, Pensador!
- Suponhamos, então, Leitor, que tu sejas um artista famoso e que tenhas feito um belíssimo quadro, tua obra-prima. Neste quadro, tu expuseste um significado íntimo, uma verdade íntima, a tua verdade. Talvez muitos tentem entender o que quiseste dizer em tua obra, mas somente tu poderás determinar o real significado do quadro, não é? Mesmo que façam teses de doutorado sobre teu desenho ou alguém ganhe um prêmio Nobel por apresentar uma interpretação dele, ainda assim, o real significado de teu qua-dro será aquilo que TU disseres. Afinal, foste tu quem o fizeste, pois era algo íntimo que apenas a ti pertencia. Assim, somente o teu conhecimento sobre aquilo será pleno, total. Podemos, então, concluir que teu desenho contém uma verdade absoluta e única e ape-nas tu poderás dizer o que é essa verdade, pois foste tu quem a delimitaste e definiste apenas tu determinaste seu significado. É tua criação, enfim!
- Não sei se entendi muito bem a tua definição, Pensador! Tu queres dizer que a realidade é como se fosse um quadro e que apenas o criador desse quadro o conhece plenamente? Ou seja, a “verdade” contida no quadro só é possível saber através do ple-no conhecimento das intenções de quem o fez, é isso?
- Sim, mais ou menos isso! Faria sentido, Leitor, se aplicássemos esse princípio à nossa realidade?
- Neste caso, tu queres dizer que nossa realidade pode ser a obra-prima de al-guém?
- É possível.
- Sei lá, Pensador, pra mim isso envolve crença e não razão, não há como con-versarmos sobre isso sem envolver questões que não podem ser comprovadas.
- E por que não? Tu mesmo disseste que a Matrix existe, lembra-te? Isso pode ser comprovado?
- Bem..., também não pode... Tá, tudo bem, então! Talvez até dê para conver-sarmos sobre isso, pois se a Matrix realmente existir, então, de fato, nossa realidade será a criação de alguém. Analisando por este lado, até que faz algum sentido.
- Se vivemos em uma Matrix ou não, Leitor, de qualquer forma, nós não temos o conhecimento total sobre a vida ou sobre a realidade que vivemos, certo? Logo, deter-minar verdades é algo muito difícil de fazer, mas isso não significa que elas não existam, nós apenas não as conhecemos e nem temos uma mente poderosa o suficiente para compreendê-las em sua totalidade, mas algo existe, pois nós existimos, certo? Talvez a realidade seja um “quadro” pintado por outro mesmo (ou programado por alguém), quem sabe?
- Por que pensas assim?
- Vamos refletir juntos, Leitor! Suponhamos que a Matrix realmente exista, sendo assim, teríamos obrigatoriamente a existência de sistemas de gerenciamento no Cosmo, programas de controle, pois seria inegável a necessidade de padrões e regras para que tais “sistemas” funcionem, para que a vida exista e se mantenha. Enfim, regras são necessárias para que o caos não destrua tudo. Mas coisas assim não surgem ao acaso, pois a lógica não existe sem um agente pensante para criá-la. Lógica é raciocínio! Evidentemente, alguém precisaria criar a Matrix.
- Interessante.
- Um programa não surge sem o programador, pois é necessário planejamento para que exista, além disso, para que um “programa” funcione, ele precisa ser instalado e executado, não é? Ou seja, precisa ser IMPOSTO ao sistema, entretanto, qualquer im-posição lógica (ou planejamento lógico) só pode acorrer se houver uma “intenção”, ou seja, uma ação consciente visando determinado fim, certo? Nossa realidade é assim, não é? Afinal existem leis da física, química, gravidade, evolução das espécies e etc. Todos esses “programas” podem ser comparados a sistemas de gerenciamento, pois possuem exatamente essa finalidade.
- Faz sentido.
- Muitos negam que haja inteligência na natureza ou planejamento consciente, mas a natureza, sendo ela irracional e sem consciência própria (como muitos dizem), como poderia “decidir” impor algo à TODA a existência? Impor algo logicamente ne-cessário para a sobrevivência e manutenção da vida, por exemplo, de modo a garantir seu funcionamento de forma infalível por milênios?
- Não sei o que dizer, Pensador!
- Uma natureza irracional poderia bolar uma lei (ou um programa) e ainda ter a iniciativa de implantá-la sujeitando tudo ao seu funcionamento?
- Acredito que não, afinal, como disseste, é necessário inteligência para que exis-ta lógica e uma ação “consciente” para que tal lógica seja aplicada.
- Exatamente, e podemos ver que as leis da natureza seguem um padrão lógico, certo? Assim, caríssimo Leitor, pensar em Deus como a mente por trás de tudo faz mais sentido, não é?
- Bom, parece que sim, então ele é o pintor do quadro que conhecemos como re-alidade ou, caso a Matrix exista, ele é a própria Matrix e seu principal programador. Mas mesmo assim, existem muitas verdades, sendo Deus o criador delas ou não, continuam fora de nosso alcance.
- Sim, tens razão! Afinal, não somos do tamanho do universo, logo, se alguém disser que conhece a Verdade absolutamente estará sendo arrogante (e mentiroso), mas se alguém negar que a Verdade exista, também estará sendo arrogante (e mentiroso), não é? Afinal, somos pequenos demais para negá-la ou confirmá-la. Mas se tivéssemos um conhecimento total do universo (como tu terias de teu quadro), então poderíamos conhecer a Verdade.
- Mas isso é impossível.
- Compreender a Verdade em sua totalidade, sim, é impossível. Mas apenas a sua “totalidade” está fora de nosso alcance, pois a realidade ao nosso redor pode ser compreendida, é isso que os cientistas descobrem ao estudar a natureza e nós, inclusive, também podemos observar e compreender muita coisa.
6. Como chegar à Verdade?
- Ainda acho impossível!
- Certa vez vi uma ilustração interessante, observe: imagine, Leitor, uma sala es-cura com apenas uma mesa e sobre essa mesa um lenço cobrindo alguma coisa, aí, colo-ca-se um índio bem selvagem nesta sala. Pois bem, esse índio nunca viu uma sala como conhecemos, muito menos um lenço, aliás, nem mesa ele conhece. Ele, então, temeroso, olha para a mesa e vê que algo muito, mas muito estranho está escondido debaixo do lenço, então, assustado, foge. Mas aí surge outro índio, da mesma tribo, porém mais curioso e corajoso. Ele entra assustado na sala e tira o lenço que cobria essa “coisa” misteriosa. Aí, ele vê que debaixo do lenço havia apenas talheres, esses do tipo que nós usamos. Pois bem, ele avançou mais que seu companheiro na compreensão da realidade, certo? Entretanto, ele não sabe o que é um talher, nunca viu um, assim, é mais provável que ele pense que se trata de objetos mágicos, algo deixado pelos deuses, não é? Mas, neste caso, Leitor, qual é a realidade? Afinal, aqueles são apenas talheres usados para comer, nada mais que isso, mas o índio jamais saberá ou imaginará isso, ou seja, ele está diante da realidade (ela existe por si mesma), mas não a compreende. Entendes o que quero dizer?
- Sim, entendo! Mas isso apenas confirma que a Verdade está fora de nosso al-cance, pois se ela existe independentemente de nós e não temos conhecimento suficiente para entendê-la, como aconteceu com o índio, então nunca a entenderemos.
- Tu percebeste, Leitor, que um índio avançou mais no conhecimento da realida-de que o outro?
- Sim, percebi, mas e daí?
- Observe: existem partes da Verdade que são perceptíveis, mas para entendê-las, usamos o mesmo método que o índio usou, ou seja, apenas nos valemos de nossos sentidos e de conhecimentos que dispomos no momento, assim avançamos, porém nem sempre acertamos. A realidade, como dito anteriormente, não precisa de nós para existir, então apenas nos falta informação suficiente para descrevê-la e entendê-la.
- Adquirir algum tipo de informação através desse método deve demorar um bo-cado, heim Pensador?
- Sim, com certeza, mas se compararmos o passado remoto da humanidade com o presente, veremos que funciona.
- Neste caso, Pensador, individualmente falando, nossa contribuição para esse “descobrimento” da Verdade é insignificante, pois é necessário gerações para se solidi-ficar algum conceito.
- A ciência, obviamente, tem ajudado bastante, Leitor, mas nem tudo é depen-dente do estudo de cientistas, muitas coisas podem ser compreendidas por qualquer pes-soa, pois há aspectos que estão fora do campo de estudo da ciência, coisas como esta: http://pensadorlivre-bill.blogspot.com/2011/02/simplicidade-da-fe.html e principalmente esta: http://pensadorlivre-bill.blogspot.com/2011/09/lei-da-atracao-deus-e-dragon-ball.html .
- Interessante esses atalhos que colocaste, Pensador! Então, Anakim Skywalker era um homem de fé? (risos). Também achei interessante a comparação que fizeste com Dragon Ball em teu vídeo, bem esclarecedor. Mas como desenvolver esse tipo de co-nhecimento?
- Uma forma que pode ajudar bastante, é aumentar ou agregar outros “pontos de vista”.
- Não entendi! Ponto de vista é algo único e individual, cada um tem o seu.
- Observe Leitor:
- Pronto, lá vem história de novo.
- Um amigo e eu somos os únicos sobreviventes de um naufrágio, estamos em uma ilha deserta, desesperados. Mas no mar, lá longe, tem um barco, mas eu estou na praia ao nível do mar, então não vi o barco, não sei de sua existência. Em meu ponto de observação, ou seja, em meu ponto de vista, não consigo ver a nossa salvação (o barco). Mas, felizmente, meu amigo está no topo de um coqueiro na praia, então ele conseguiu ver o barco, pois sua visão alcança uma distância bem maior que a minha.
- Nesta situação, Leitor, ficou claro que meu amigo e eu possuímos pontos de vista diferentes, únicos e individuais, por isso, supostamente enxergamos, cada um, uma realidade diferente, pois pra ele o barco existe, mas pra mim, não. Mas, como sabemos, a realidade é uma só, pois ela não depende dele e nem de mim, ela existe por si só. Assim, para que eu amplie minha visão dela, então terei que perguntar ao meu amigo o que está vendo, pois reconheço que neste momento, uma pessoa pode saber coisas que eu não sei. Entretanto, eu poderia fazer como muitos fazem e usar a criatividade à vontade para formular minhas verdades, criar minha própria realidade e, assim, poderia ignorar meu amigo quando ele dissesse que existe um barco para nos salvar, eu diria a ele: “você tem sua verdade e eu tenho a minha”.
- Que burro, dá zero pra ele!
- Eu seria salvo se fizesse isso?
- Com certeza, não seria. Então, a solução é acreditar em tudo que todo mundo diz?
- Outra historinha:
- De novo?
- 1ª parte: Um jovem elegante, bem formado e de boa família, juntamente com sua namorada, foi assistir a um filme no cinema.
- Bem formado, Pensador? Ele foi aluno da USP? (risos)
- Por favor, amigo, deixe disso! Bem..., continuando! Quando já estavam dentro do cinema, por causa de um descuido, nosso personagem deixou seus óculos caírem no momento que entravam na sala de projeção, aí, por outro descuido, ele pisou em cima deles e, obviamente, se espatifaram. Mas, elegantemente, nosso personagem foi assistir ao filme mesmo assim. Entretanto, nosso azarado e romântico personagem levou sua namorada para assistir a um filme de Kung-Fu feito em Hong Kong, um filme em chi-nês, ou seja, seu inglês afiadíssimo não servirá pra nada. Assim, obviamente, nosso per-sonagem não conseguiu entender ao filme, pois também não conseguiu ler as legendas, afinal, ficou sem seus óculos. Mas ele, em nome de seu orgulho, nada diz à sua namora-da sobre essa “pequena” dificuldade.
- Muito bem, Leitor, obviamente, a namorada dele interpretou o filme de um jeito e ele, de outro, vemos aí uma duplicidade de opiniões, certo? Mas com um erro e um acerto, não é? Afinal, ela entendeu o filme e ele, não.
- Sim, concordo!
- 2ª parte: Em outro dia, nosso personagem, em outra tentativa de impressionar sua namorada, a leva para assistir a um filme iraniano premiadíssimo, um desses filmes de arte (que, aliás, ninguém assiste, mas enfim...). Mas ele, esperto como é, escolhe a última fileira de bancos para ter uma visão privilegiada da tela, entretanto, as luzes já estavam apagadas quando chegaram, pois estavam um pouquinho atrasados, então, pra seu azar, uma pessoa que passava esbarrou em nosso personagem, mas aí… seus óculos novinhos (e caríssimos) caíram novamente, mas ele não conseguiu encontrá-los na escu-ridão, então... Ele ouve o ruído de algo estilhaçando bem debaixo de seu pé direito. Bingo! Achou os óculos!
- Personagem culto, inteligente, com grana, mas que só faz merd..., com certeza, foi aluno da USP. (risos)
- Vou ignorar esse comentário! Muito bem, Leitor, resultado da tragédia: seu in-glês afiadíssimo não vai servir pra nada novamente, pois o filme está em Persa e, nova-mente, não conseguirá ler as legendas. Mas aí, nosso humilde herói, ainda no começo do filme, resolve confessar para sua cara-metade que está com dificuldades para entender ao filme. Ela, então, que o ama muito, se propõe a narrar o filme para ele. Mas, como ela é muito bem-humorada...
- E ele, um tremendo Mané!
-... Ela resolve pregar uma peça nele, ou seja, ao invés de contar o que acontece no filme, ela inventa outra história. Nesta segunda situação, Leitor, nosso personagem também estava sem condições de formular uma interpretação própria do filme, então se valeu da interpretação de outra pessoa, porém, era uma interpretação totalmente falsa.
- Concluindo, em ambos os casos, a "verdade" (a história do filme) não estava acessível ao nosso personagem, não é caro Leitor? Mas na primeira parte de nossa histo-rinha, vimos que sua namorada tinha acesso a essa “verdade”, entretanto, ele preferiu ficar com sua própria interpretação, mesmo ela sendo deficiente. Assim, a verdade ficou fora de seu alcance. Na segunda parte, porém, nosso personagem foi mais humilde, mas, novamente, a verdade não ficou acessível, pois quem a detinha (sua namorada) a escon-deu dele. Assim, sua interpretação da verdade foi construída em cima de uma mentira.
- Muitos dizem, Leitor, que cada um tem sua verdade exclusiva, não é? Se isso fosse verdadeiro, então, mesmo que muitos estivessem usando bons óculos, ainda assim, cada um veria uma história totalmente diferente no mesmo filme, alguém veria um filme romântico, outro de ação, outro ainda um filme infantil, outro ainda um drama e etc. Entretanto, podemos ver que se nosso personagem estivesse com seus óculos, então ele veria a mesma coisa que sua namorada viu, afinal, estavam assistindo ao MESMO filme, entendes?
- Mais ou menos! Concordo que essa historinha descreve bem a dificuldade que temos para compreender a realidade, mas apenas deixa mais claro como é difícil acessar a Verdade, pois é difícil saber quem a compreende melhor e mais difícil ainda é saber quem está mentindo ou não.
- De fato, essa dificuldade existe, a única forma de chegar à Verdade é quando conseguimos vê-la com nossos óculos ou quando temos a sorte de conhecer alguém com óculos que, de boa vontade, nos conte o filme. É importante saber como identificar pes-soas assim (pode acreditar, a Bíblia foi escrita por gente assim). Essa dificuldade existe, porque a verdade não está em nós. É como se possuíssemos apenas um pedaço da ver-dade, não a vemos como um todo, mas apenas partes específicas, assim, juntando esses pedaços, podemos formar a Verdade toda.
- Certa vez, Leitor, alguém me disse algo mais ou menos assim:
“Um espelho grande e quebrado em cinquenta partes poderá ser distribuído para cinquenta pessoas, mas cada uma terá apenas uma parte dele. Apenas ajuntando todos os pedaços é que se formará o espelho todo, pois sempre foi apenas UM espelho.”
- Faltou um pouco de poesia aí, heim Pensador!
- Apenas parafraseei algo que vi certa vez, não me lembro das palavras exatas, apenas do sentido (deixe de ser chato!).
- Então, tá! Mas o problema que apresentei ainda não foi resolvido, amigo pen-sante, pois não dá para identificar os sinais de alguém que conheça algo da Verdade que ainda não conheçamos.
- Aí é que está, Leitor, existe uma luz no fim do túnel! Leia com muita atenção o que está contido neste atalho aqui: http://pensadorlivre-bill.blogspot.com/2011/07/esperei-confiantemente-pelo-senhor-ele.html . Leste? Como ficou bem claro ali, observaste que é através do amadurecimento que poderemos ver que é possível limpar-nos de influências, não é? No método descrito naquele texto, podemos ver como realmente podemos desenvolver uma visão de mundo própria. Quando conse-guirmos isso, então, curiosamente, nos depararemos com pessoas de culturas diferentes, histórias de vida diferentes, enfim, com influências diferentes, mas que entendem de-terminada coisa do mesmo modo que nós. É como se começássemos a entender ao filme, como se tivéssemos encontrado os óculos, entendes? Aí começamos a ver que mais gente assistiu ao mesmo filme e o entendeu.
- Estou começando a compreender. Então, se a realidade é apenas uma, pessoas diferentes verão a mesma coisa, certo? Mas pessoas amadurecidas e não alienadas, não é? Pessoas realmente livres.
- Exatamente, Leitor, nessa historinha, vimos que, mesmo que os óculos estejam quebrados, o filme continuou passando, ele continuou existindo, pois vemos que verda-des existem e nem sempre estão longe, muitas vezes estão bem acessíveis. Assim, pes-soalmente, creio que a verdade não está, necessariamente, na multiplicidade de “visões” (às vezes sim, mas nem sempre), pois a Verdade (ou realidade) não está em nós, não a possuímos, ela está fora e é totalmente independente de nós, além disso, ela é uma só. Abrangente, gigante e complexa, mas única.
- Consegues imaginar o que podemos fazer para enxergar a realidade plenamente, Leitor? Como saber se já possuímos um pedacinho dela ou não?
- Não faço ideia.
- Nadinha?
- Seria através do amadurecimento?
- Sim, o amadurecimento é o principal instrumento para atingirmos esse fim, pois é após adquirirmos uma visão de mundo toda própria é que temos condições de ir à fonte, Leitor!
- Não entendi, Pensador!
- Usando a analogia de Matrix, precisamos ir ao mainframe, ao centro e começo de tudo. Se Deus é o artista que pintou este quadro que chamamos de realidade, então é ele que devemos procurar, pois ao contrário da Matrix, Deus está acessível a quem con-seguir ouvi-lo.
- Ouvi-lo?
- Se Anakin Skywalker era um homem de fé (risos), nós também podemos ser.
- Entendi! Interessante!
7. Despedida
- Bem, amigo leitor, agora preciso ir.
- O papo de hoje foi bem legal, Pensador! Agora falta aquele sobre homossexua-lidade, né?
- Sim, mas vai demorar um pouco. A propósito, Leitor, por favor, deixe os alunos da USP em paz, tudo bem? Em vista da enorme quantidade de alunos existentes naquela que é a nossa melhor universidade, os vândalos são uma minoria insignificante.
- Eu sei Pensador, é que vandalismo e baderna me irritam. Sei que não devo ge-neralizar, apenas quis demonstrar minha opinião através de ironias, só isso. Sei que os alunos sérios daquela instituição (que, graças a Deus, são a grande maioria) vão me en-tender.
- Tudo bem, Leitor, então, até qualquer dia!
- Até qualquer dia, Pensador, fique com Deus!
- Fique com Deus, Leitor! Graça e paz!
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