SOBRE A VIDA... "QUE NÃO É TÃO DA GENTE...ASSIM"

Ao assistir uma reportagem sobre a história profissional de Lícia Manzo, eu aqui ratifico o compulsivo desejo de escrever sobre minha impressão de audiente da atual telenovela da rede globo "A VIDA DA GENTE".

O horário das tardes novelísticas globais decerto que, a meu ver, tem sido um dos raros momentos de padrão ouro da televisão brasileira, atualmente premiado pela nossa teledramartugia com obras de se "tirar o chapéu".

Tenho comigo que toda arte que nos encanta já foi premiada e é assim que eu classifico " A Vida da Gente", uma novela só aparentemente adocicada, leve e delicada, mas que é pura filosofia, posto que instiga nosso pensamento e a nossa crítica até o âmago mais profundo dos nossos questionamentos a respeito do mistério dos caminhos da vida...da gente. Que ao menos acreditamos ser.

Tal obra enquadra as poucas que conseguiram me fazer ficar quieta em frente a televisão...sem me entediar.

A VIDA DA GENTE é uma obra escrita por por Lícia Manzo e Marcos Bernstein, que conta com a participação literária de vários colaboradores e que em síntese nos coloca poeticamente nos caminhos do tempo, um "senhor tão bonito, tambor de todos os rítmos", que tão drástica e silenciosamente muda a tudo e a todos.

Aquele mesmo tempo tão cantado pelos poetas, que ainda * " Não pára no porto, não apita na curva e não espera ninguém...".

A música de abertura da novela já é o intróito da mensagem maior, um prólogo da intenção da obra literária, uma belíssima canção de Caetano Veloso, da época áurea da MPB, "ORAÇÃO AO TEMPO, atualmente regravada pela belíssima voz de Maria Gadú, uma das expoentes da nossa contemporânea safra de excelentes cantores da música popular.

O interessante enredo principal gira em tornos dos caminhos dum triângulo amoroso, três irmãos, duas meninas irmãs biológicas e um menino seus irmão "do coração", cujos meio- laços familiares foram advindos da formação das famílias que hoje "socio antropologicamente" são classificadas como " famílias modernas".

E daí o tempo será o escritor do enredo dos três, exatamente como é na realidade de toda a vida da gente.

O foco principal da mensagem está em nos mostrar o quanto não temos o mínimo comando dos nossos destinos a despeito de acreditarmos que escolhemos milimetricamente todos os nossos caminhos.

Outro chamado marcante é o fato do quanto "construímos nossas relações emocionais" com os recursos que dispomos em determinada época do tempo das nossa vidas. Escolhemos por aquilo que precisamos ,dispomos e podemos.

Ali nos perguntamos o tempo todo se o "amor", esse sentimento tão buscado na ideologia idolatrada das nossas fantasias, é algo que só existe "ficticiamente" ao alcance dos nossos corações, ou se é algo concreto, construído e trabalhado com compromisso e responsabilidade através do tempo, a nos preencher as nossas necessidades mais íntimas, porém tão voláteis, dos nossos vários instantes em flashes caminhados pela vida.

Até que ponto poderíamos, de fato, resgatar aquilo que o tempo desviou dos nossos caminhos? Em que lugar do mesmo tempo habitam nossas antigas emoções?

Até que ponto o encontro do amor seria o carro chefe do outro sentimento seu gemelar, que sobrevive a pautar a vida da gente, ou seja, a procura frenética pela felicidade idealizada?

Até que ponto somos, de fato, autores, co- autores e protagonistas das histórias das nossas vidas e até que ponto seríamos culpados por permitir, se é que permitimos, que as trapaças do tão poetizado destino operem em nossas vidas sob a desculpa do tempo?

Qual seria o verdadeiro peso das nossas mãos no nosso "enredo"?

Em "A VIDA DA GENTE" todos esses questionamentos nos são colocados através dum mimoso trabalho escrito e encenado por um elenco brilhante, majestoso, que tão primorosamente vivem a ebulição de todos os sentimentos que permeiam os tantos instantes da "vida da gente".

Que já deduzo não ser tão "da gente, assim".

Termino meu ensaio ilustrando todo esse meu questionamento com uma frase que ouvi outro dia, algo aqui tão pertinente sobre nossa ansiedade através da vida:

**" A felicidade não é meta, é caminho..."

Perfeito!

Talvez seja por isso que o tempo, a despeito de ser tão curto seja tão poderoso e valioso.

A verdadeira "arte de viver" é não desperdiçá-lo pela vida.

Ainda que que não seja ela " A vida da gente".

*Canção O Tempo

Reginaldo Bessa

**Desconheço o autor da frase.