A CULTURA EM TERREIROS DE CANDOMBLÉ

A CULTURA EM TERREIROS DE CANDOMBLÉ

Renato de Jesus Gomes; reny_touro@hotmail.com

Autores. UFRB/CFP/Campus Amargosa

Iolanda de Carvalho; irla424@hotmail.com

Orientadora. UFRB/Campus Amargosa/Cruz das Almas

RESUMO

Este ensaio é um texto literário em que exponho idéias e reflexões éticas e filosóficas a respeito do tema que diz respeito ao culto do Candomblé no Bairro da Katiara no Município de Amargosa-Ba. Trata-se de um estudo etnográfico sobre a cultura em Terreiro de Candomblé, do rito angola, caracterizável como um diatipo de uso religioso.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do conhecimento racional-empírico-técnico jamais anulou o conhecimento mágico, mítico ou poético, religioso. Cuche apud Taylor (2002, p.35) afirma que “a cultura é expressão da totalidade da vida social do homem. Ela se caracteriza por sua dimensão coletiva. Enfim, a cultura é adquirida e não depende da hereditariedade biológica.” Desse modo, o determinismo biológico e as diferenças genéticas não são determinantes nas diferentes culturas. Ela se explica pela história cultural de cada grupo, o comportamento dos indivíduos depende das relações e de um processo que chamamos de endoculturação. O ser humano é um ser a um só tempo biológico e cultural, que traz em si a unidade de sua origem. A cultura acumulada em si é o que é conservado, transmitido e aprendido e comporta em si normas e princípios. Não há cultura sem cérebro humano, mas não há consciência sem cultura. A mente humana se forma com a cultura, tornando-se ser aculturado.

Desta maneira, percebe-se a importância do candomblé, cujo termo ganha atualmente o sentido de uma religião de culto aos orixás, entidades africanas associadas aos elementos naturais. Assim o presente ensaio que visa preencher lacunas das literaturas especializadas sobre o culto do Candomblé no Município de Amargosa, espaço em que também encontramos as influências mais notáveis.

2. CANDOMBLÉ: TERMINOLOGIA DE RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

O termo candomblé é adotado para designar as cerimônias religiosas de origem nagô, em que as divindades são os orixás. Candomblé, culto dos orixás, de origem totêmica e familiar, é uma das religiões afro-brasileiras praticadas pelo chamado povo do santo principalmente no Brasil, mas também em outros países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá e México. Na Europa: Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.

A religião que tem por base a ânima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica, foi desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com sua cultura e seu idioma, entre 1549 e 1888.

Durante a escravidão, os negros eram obrigados a adotar a religião católica dos portugueses, no entanto, nunca abandonaram suas próprias crenças e, para cultuar suas divindades, relacionavam os orixás aos santos católicos e assim enganavam os colonizadores. Essa mistura de religiões fez surgir o sincretismo religioso muito comum e presente na Bahia. Segundo alguns pesquisadores, este sincretismo já havia começado na África, induzida pelos próprios missionários para facilitar a conversão.

Depois da libertação dos escravos começaram a surgir as primeiras casas de candomblé. Mesmo usando imagens e crucifixos inspiravam perseguições por autoridades e pela Igreja, que viam o candomblé como paganismo e bruxaria, muitos mesmo não sabendo nem o que era isso.

Os negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os yoruba, os ewe, os fon, e os bantu. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes evoluíram diversas "divisões" ou nações, que se distinguem entre si principalmente pelo conjunto de divindades veneradas, o atabaque (música) e a língua sagrada usada nos rituais.

3. A VIVÊNCIA RELIGIOSA NO CANDOMBLÉ

O ritual do Candomblé vivenciado pelo Babalaorixá Jorge Alves, residente no bairro da Katiara se constitui num ritual com fortes raízes africanas da região de Angola, severos preceitos influenciados pela doutrina iorubana (Kêto e Nagô), também originária da África. Na entrevista realizada no dia 06.07.2010, ele pôde falar sobre a contribuição das ações do Centro para a sociedade Amargosense como descrito abaixo:

Eu procuro orientar as pessoas para o caminho do bem, isso independente de quem é, pode ser branco, preto, rico, pobre, homossexual etc. O que vale é ajudar as pessoas a caminhar no caminho certo. Procuro ajudar os jovens a saírem do caminho das drogas e da prostituição, aconselhando muitos para que façam sua história buscando assim seus direitos e cumprindo seus deveres.

Como você define o candomblé?

O candomblé é tudo em minha vida, é o ar que respiro é minha força, não me arrependo de ser um Babalaorixá, de fazer parte do candomblé, pois o mesmo é para minha vida, tudo, eu não sou nada sem meu orixá, sem minha religião.

Por que será que muitas pessoas têm uma visão negativa do candomblé?

Somos leigos desde quando criticamos, ignoramos e nos deixamos passar despercebidos, sendo que não podemos dizer que uma comida é ruim sem provar, não podemos ser curado de uma doença sem um diagnóstico e sem um remédio, ninguém é tão sábio e nem burro, nosso Deus não é diferente do de outra religião, nós carregamos a história dos nossos irmãos negros com suas culturas, ou seja, com suas raízes, somos todos axés.

Porquê Babalaorixá?

Porque Babalaorixá é o nome correto e não pai de santo, Babalaorixá porque somos zeladores, ou seja, cuidamos de orixás.

O que lhe levou a ser um Babalaorixá?

Em primeiro lugar nós não escolhemos ser Babalaorixá, ou seja, zelador de orixá. É o orixá que nos escolhe, ou seja, quando estamos iniciando, é o orixá quem escolhe. Ele que diz se temos cargo ou não para sermos Babalaorixá.

Você foi muito criticado por ser um Babalaorixá?

Fui, é claro que as críticas sempre acontecem e vão acontecer, mas ninguém joga uma pedra em uma árvore frutífera se a mesma não estiver com fruto, então as críticas são pedras lançadas em árvores frutíferas. Não devemos ter medo das críticas, temos que olhar para frente com a nossa cabeça erguida.

Diante de tudo que você já passou hoje, como você se define e como você também define o orixá?

Sou filho do senhor do dia, do comedor de inhame pilado!

O orixá do progresso e da cultura, da vida e também da efervescência da vida, da discussão, da guerra e do avanço, da estratégia, da inteligência, do branco, do claro, do positivo e do masculino! Orixá moço, oxalá criança, às vezes, adolescente, não passando do jovem adulto Ajagunan! Brinda o universo com vida, com energia, com o lúdico e com a guerra e a cultura. Trás o dia, trás o tempo, trás a evolução e o ritmo! É um orixá de estratégia, deixando o campo de batalha para seu companheiro Ogun, que se compraz com a violência do campo de batalha. Sendo assim, Ogyan é o general e Ogun seu direto imediato! A Ogyan cabe os respeitos e a honra! Tanto que, além da saudação digna aos oxalás: “Exe ê!” e “Epa babá!”, também se exige o “Kabiesyi!”, digno dos reis!

4. CONCLUSÃO

O ritual de iniciação no Candomblé, a feitura no santo, representa um renascimento. Assim, a metodologia ritualística do Candomblé se resume em fazer renascer, firmar, desenvolver e aperfeiçoar o orixá.

5. REFERÊNCIAS

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 1999.

RenaTto Gomes
Enviado por RenaTto Gomes em 08/12/2011
Código do texto: T3379113