Descoberta! Diálogos aborígines do século XXI
NEW SCIENTIST – NEW WORLD
Volume 1 Edição 12 Abril 4006
Descoberta! Diálogos aborígines do século XXI:
Por Dr. P. Dawson & Dra. V. Zayats,
Phd no site das escavações.
- Diálogo encontrado em escavações efetuadas no deserto de uma região do planeta Terra, denominada Rius Grandis Sulis, provavelmente no início do século XXI, uma vez que o material estava em formato ótico e discóide; foi necessário recuperar as informações com pesquisa de tecnologia da época. Trata-se provavelmente de pessoas que usavam equipamentos de visão e fala, em função da atrofia das cordas vocais e nervo ótico, causado pela grande poluição que assolou nosso planeta naquele período, culminando com um aquecimento global que elevou a temperatura média mundial em quase 10ºC, terminando na última era glacial conhecida.
O diálogo, ou o pouco que se pode recuperar, mostra uma visível ansiedade por enxergar e ver. Certamente a poluição daquele período, conforme recentes pesquisas escureceram o planeta a ponto das pessoas não poderem mais se enxergar, ou ouvirem. Nota-se que os aborígines naquele período possuíam sérios problemas de “disfonia” vocal, denominado “gago” por aquele povo; como poderá perceber, no texto da pronuncia recuperada, além de grosseira e de má qualidade, com hesitação, sem clareza de sons e repetindo as sílabas, mostra que além de não possuírem nenhuma tecnologia, eram nativos que não haviam desenvolvido a capacidade intelectual.
Felizmente não somos descendentes deste povo inculto, e a prova está que somente agora a humanidade começa a chegar à Lua com nosso primeiro vôo, a nossa tão esperada e sonhada viagem tripulada à Lua, que terá seu início no Complexo de Lançamento 39, do Centro Espacial Bushnedy, na Clórida com o lançamento da Atollo 11 às 9:32hs da manhã, do dia 16 de Julho de 4006. Será transmitido para o mundo todo, em cadeia mundial, pela MUNDI TV. Leiamos o diálogo:
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- Daí, tudo bom?
- Tudo e você como têm passado?
- Tudo bem!
- Faz tempo que não te vejo!
- Eu até te vejo, vejo que você está por aí, mas não chamou.
- Ué? Por que não?
- Você pode estar ocupado!
- Se eu estiver ocupado, você vai ver o sinal, mas pode me dar um oi, qualquer coisa!
- Ok! Bom saber. Você vem sempre aqui?
- Geralmente não, mas hoje felizmente vim, e pude encontrar você!
- Bah! Legal!
- Me deixa ver você?
- Claro! Espere aí... Está me vendo?
- Não ainda, não!
- Tem certeza? Você não me vê ainda?
- Não, não vejo! Ah! Agora sim! Estou vendo! Puxa, mas você está bem hein!
- Ah, obrigado!
- Agora é sua vez! Deixa eu ver você !?
- Ah sim, só um minutinho! Pronto! Aceitou me ver?
- Sim!
- Está me vendo?
- Ainda não.
- E agora?
- Não ainda.
- E agora?
- Não.
- Não?
- Não!
- Vou desligar você e eu, mas a gente continua conversando, e começamos de novo para ver se eu posso ver você, ok?
- Ah! Deixa assim, eu estou ouvindo você!
- Mas você também já está ficando gago!
- Peraí, deixa eu tentar mais uma vez.
- Está me vendo?
- Ainda não.
- E agora?
- Não ainda.
- E agora?
- Ah, agora sim eu vejo você também!
- Mas ficamos gagos! Você me entende?
- O que você disse?
- Eu perguntei se você me entende!?
- Se eu atendo o quê?
- NÃO! Perguntei se você está entendendo o que eu estou falando!
- Um pouco entendo, outro pouco perco tudo o que você disse!
- Será que é por que estamos nos vendo que começou dar este problema na fala?
- Pode ser.
- Você está travado!
- Como? Acabado? Mas você disse que eu estava bem! Logo no início da nossa conversa quando você começou a me ver!
- Não é babado, é TRAVADO, TRAVADO, eu estou vendo você, mas você parece uma fotografia!
- NÃO EU NÃO CURTO PORNOGRAFIA!
- MAS QUEM É QUE FALOU EM CARTOGRAFIA??
- EU NÃO DISSE QUE ESTÁ UMA PORCARIA!
- Eu acho que está muito confusa nossa comunicação! Parece que a nossa voz está cortada desde que eu comecei a ver você.
- Você não está me vendo bem? Você está com algum problema?
- Não! Sua imagem está mais para fotografia, do que para cinema!
- Não tem dilema nenhum, apenas não estamos nos entendendo! Eu acho que você não entende o que eu falo!
- Calo? Você tem calos? Você me disse que estava bem!
- Você me entende bem?
- Quem?
- Você! Você! Me entende bem?
- Sim eu ouço perfeitamente!
- E entende o que eu falo?
- Você quer um remédio para calo? Eu acho que minha vó sabe de um bom! Parece um emplastro.
- Que mastro?
- Não falei mastro, falei emplastro, em-plas-tro, em-plas-tro! Por que você disse que estava com calo!
- Sim, eu falo, mas parece que você não entende!
- Você está gago e sua voz some!
- Não a vovó come, assim não sente fome.
- Como? Pode repetir? Pode ser o sol forte que está atrapalhando a nossa comunicação.
- Esquece!
- Para quem?
- Para quem o quê?
- Para quem?
- Sim!
- Para quem sua vó fornece?
- Para ninguém! Por que ela nunca esquece!
- Esse problema na voz começou quando eu comecei a ver você!
- Quem sabe se a gente desliga a visualização? Você está de cabeça para baixo? Por quê?
- Cabeça para baixo? Eu?
- Sim!
- Não estou normal, parece que é você que está fora de foco.
- Que botão você apertou?
- Você acha que encontrou um bobão? Então por que fala comigo?
- Inimigo? Gatão?
- Não estou entendendo aonde você quer chegar com esse papo!
- Eu não vou entrar em mato!
- Que pato?
- Pato?
- Sim pato, você disse pato!
- Eu nem falei mato! Você que disse pato!
- Gato ou pato?
- A voz melhorou!
- Sim, estou ouvindo melhor, mas você ainda parece uma fotografia, uma imagem fixa.
- Sim, eu me formei em agronomia! Faz muito tempo!
- Você usa alegorias? No centro?
- Desliga sua visão que eu desligo a minha!
- De qual anão você é amiga?
- Não é SENÃO é VISÃO!VISÃO!
- Vou desligar minha VISÃO!
- Ah! Agora melhorou! Agora não vejo você, mas a voz melhorou!
- Bom! É sinal que as coisas estão mudando!
- Mas então!? Como está sua vó que tem calo, passa emplastro, fornece para um bobão, e vai cagar no mato?
- Olha, eu não encontrei você aqui para me ofender! Eu vou sair, e ficar por aqui.
- Eu também. Estou aqui, mas não vou falar! Manda um abraço para o seu amigo anão.
- Tchau!
- Tchau!
- Vou continuar aqui.
- Eu também. Se um dia quiser me chama.
- Você também.
Autor
Jaime Teixeira Júnior
Agosto de 2006 (Rius Grandis Sulis...:)
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