EU E TU: O SUBJETIVISMO NO TEXTO

Recebo o texto, com alegria, e vou curtí-lo em sua proposta:

“DEPRESSÃO E POESIA

Cléo Anselmo

A Poesia proclama uma depressão insana, escrever preciso... Sem chão, adentro o abismo, lentamente, formo parágrafos, sentindo estar depressiva. Vagando sobre a folha, palavras soam enfermas, mãos trêmulas... Coração, desacelera! Sem compasso na espera de um fim próximo, a alma se esconde... Embrenha-se na sordidez de um homem... É o fim, estou no fim... Libertei-me, enfim, desta enfermidade no lamento da Poesia... Abri o coração, desabafei a crueldade desta louca realidade... Venci meus momentos de depressão. Finalmente, venci.”

– recebido via Orkut, em 25/11/2011.

Cléo, amada! Somente agora me chamou a atenção algo: a inclusão do conjunto verbal "de um homem" apequenou a amplitude do texto, e, com ela, tornou visível e claro o verdadeiro objetivo do escrito: fazer apenas psicoterapia pessoal. E isso não aproveita ao receptor. Neste caso, o escrito delata que o universo contido no texto é meramente revelador dos problemas afetivos, das mazelas pessoais de sua criadora. A possível proposta poética encasulou-se dentro do universo individualista... O subjetivismo, além de excluir o leitor, minimiza o poder sugestional da peça apresentada. Perde o escritor a possibilidade de poetizar de ou sobre um universo mais rico e amplo. E o texto que, como já se disse em várias oportunidades, se torna uma mensagem bilateral: o EU e o TU. Está visível que a pretensa Poesia, como proposta de confraternidade, de compartilhamento, de universalidade, serviu apenas como um mero RECADO AMOROSO, que, de Poesia como gênero, nada contém... Sugiro a emenda supressiva. A frase ficaria: "Embrenha-se na sordidez...”. A “sordidez” como dura e circunstancial qualificação do gênero humano, no jogo amoroso...

– Do livro PALAVRA & DIVERSIDADE, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3373035