TROCANDO VOTO POR IMAGEM

“Sorria, você está na TV” recomenda o marqueteiro ao candidato. Em seguida o político meio calvo sai a caminhar por uma rua movimentada apertando as mãos e recebendo abraços e tapinhas nas costas de ilustres desconhecidos _ possíveis eleitores. Essa demonstração inequívoca de apoio por parte dos populares é devidamente registrada pelas câmeras digitais. O material deverá ir ao ar já no próximo programa “porque afinal uma imagem vale mais do que mil palavras” torna a explicar o homem do marketing.

O horário eleitoral gratuito não esclarece o eleitor, ao contrário, o deixa confuso.

Seria um tanto quanto estranho nos dias de hoje ver um candidato aparecer de cara limpa na televisão apresentando o seu plano de governo e debatendo suas ideias com a população e gente que tenha conhecimento técnico e empírico dos assuntos tratados, contudo, seria o ideal.

Sim, eu quero um candidato pé-de-chinelo mesmo, mas que tenha conteúdo e que apresente aos eleitores a sua personalidade, e não aquela idealizada pelos articuladores de campanha. Quero um candidato que não esteja comprometido com financiadores da sua eleição. Mas repito, isso é o que eu quero. E o povo, o que quer?

Guardadas as justas exceções, o povo costuma eleger aqueles que se parecem com ele. Todavia, o povo também se ilude e bota fé no santo (uma fé cega) porque quem tem muito boa índole tende sempre a acreditar que todos têm os mesmos escrúpulos.

O povo também se omite por crer que seu voto ou o seu protesto não fazem a menor diferença, desconhecendo assim que a omissão é o maior crime que a humanidade vem cometendo no transcurso dos séculos.

A gratuidade da propaganda eleitoral não faz jus ao seu status cinematográfico. O horário eleitoral deveria ser exibido nos cinemas com direito a pipoca, bala e refrigerante, com todo mundo pagando ingresso. Quiçá desse modo a população entenda que são apenas filmes produzidos por quem sabe o apelo que uma imagem possui.

Os melhores roteiros serão agraciados com um mandato.