Recomeçar
Às vezes a vida nos surpreende com uma mudança brusca não planejada, não desejada, daquelas que achamos que não vamos sobreviver. Como uma grande onda que nos derruba e não conseguimos submergir com facilidade. A água nos sufoca e giramos tantas vezes pela força d’agua que nos sacode de um lado para o outro que não é possível enxergar o que acontece, avaliar, refletir, decidir.
Precisamos neste momento deixar a maré baixar, a água jogar nosso corpo doído na beira da praia, vomitando toda água engolida, descartando aquilo que não nos pertence mais.
Depois que tudo saiu da alma, olhamos em direção ao sol que aquece o corpo gelado e machucado pelas ondas e fazemos uma primeira inspiração e expiração, enchendo os pulmões de ar.
Sentimos as gotas descerem pelo rosto e aos poucos nos sentamos na areia, tentando entender o que aconteceu. Com o coração revirado; como se tivessem feito um sapateado flamenco sobre ele, buscamos compreender as palavras ditas, ouvidas, o que foi visto e vivido.
O som das ondas invade os ouvidos como música suave, trazendo a paz que precisávamos sentir depois de longo e arrojado período de dor.
A brisa do mar faz tudo parecer pequeno, poético, nos lembra que a vida é muito mais do que momentos ruins, nos faz entender que depois da tormenta sempre virá à calmaria.
E como tudo que vem também se vai; como os movimentos da maré. A completude do infinito do horizonte nos ensina que o plano Divino é muito maior e profundo do que aquilo que podemos ver ou entender.
Levantamos-nos então, ainda com as roupas rasgadas pela fúria do mar, recolhemos o que sobrou e seguimos em frente, sob o sol, com a certeza e fé de que um ciclo se fechou e que existem coisas maravilhosas e belas por vir.
A transformação do Ser passa pela dor da perda que envolve cada renúncia, o preço é alto; mas a recompensa: imensurável.