UMA VOLTA AO PLANETA JUVENIL
 
 
Na impossibilidade de se fazer uma viagem ao passado, isso nos exclui da beleza em apreciarmos ao que aconteceu com o planeta. Se pudéssemos rodar um filme de tudo o que ocorreu, ficaríamos maravilhados com o processo natural da evolução. É lógico que rodaríamos a nossa câmera desde a primeira molécula, que, presumimos, tenha dado início à vida neste planeta juvenil. Fato esse, ocorrido num caldeirão de elementos químicos que ali foram se formando, transformando-se numa sopa cósmica ou num coquetel químico que, em enes combinações e no espaço de alguns milhões de anos, eclodiria o primeiro ser vivo movente no planeta superaquecido e jovem.
Se pudéssemos fazer um filme da vida, aliás, de todas as formas de vida, que já existiram e as existentes atualmente sob o nosso planeta, por certo, nos deslumbraríamos com o cósmico fenômeno. Seria uma epopeia, a fim de que pudéssemos num determinado momento dar um “pause”, para, logo em seguida, fazer com que o filme voltasse no espaço e no tempo, num retrocesso lento, em vinhetas formadas em documentário a cada quinhentos anos. Seria demasiadamente interessante e isso nos causaria um novo deslumbramento. Pois veríamos a natureza, inclusive o ser humano, em áudio e imagem, num teatro animado, assim como se processou a evolução que até hoje é tão discutida de forma tão lógica para alguns, de forma tão duvidosa para os céticos e simplesmente ignorada pelos criacionistas, empedernidamente reducionistas.
Desta forma, ficaria provado sem a mínima possibilidade de controvérsia que, a natureza, não dá saltos. E que, com essa demonstração, se fosse possível demonstrar mesmo na forma virtual, o implicado e silencioso sistema da evolução. Evolução que se processou sobre o planeta desde o momento da sua existência, no famoso estágio do “planeta juvenil”. Muitos abandonariam o dogma do criacionismo e dariam um passo para o futuro com a teoria do evolucionismo.
Se isso fosse possível em nossos dias, com toda certeza, a própria ciência teria que desdizer, reciclar e reformular novas teorias. Agora sim, com os pés sentados na verdade pura e as cabeças pensantes apoiadas em teorias pétreas. É lógico que esse é o escopo que a ciência persegue há muitos séculos.
Mas, infelizmente, essas verdades escondidas ainda são negadas pelas religiões institucionalizadas que, somente se atêm aos seus livros ditos sagrados. Não só as religiões, mas povos ditos de primeiro mundo, como por exemplo, os americanos, teimosamente criacionistas. Esses livros sagrados, cujas autorias duvidosas, ainda permanecem na penumbra. Infelizmente, esse tais livros, apesar de ainda servirem de norteamento para uma grande massa da humanidade, que, devido a ignorância e o arroxo dogmático o leem de forma fundamentalista a letra e não o espírito da letra.
Tais livros são verdadeiras florestas impenetráveis de metáforas, quando as metáforas são as verdadeiras linguagens do mito. Como não é possível explicar racionalmente as divindades criadas durante o processo da natural evolução, obrigatoriamente criou-se o mito. Pois em estágios passados da nossa evolução, o homem não tinha ainda o seu intelecto suficientemente desenvolvido, por isso, ficou muito mais fácil e confortável o aparecimento dos mitos, das lendas, das crenças e, por último, das religiões. Essas, já num estado mais avançado da evolução que estava se processando, e que ainda se processa na sua marcha natural e incoercível no palco cósmico.
Entretanto e infelizmente, as religiões estão algemadas pelos famosos dogmas, que mais servem a uma castração à intelectualidade. Favorecendo assim, o absolutismo e o fundamentalismo que naturalmente são criadores do fanatismo ignorante. Tudo isso ainda está sendo promovido pelos poderes eclesiásticos de todas as tendências religiosas. Cremos que, as religiões são necessárias, pois o homem é um ser espiritual que caminha com muita dificuldade para conseguir a sua tão desejada completude existencial. Por isso, é necessário o aval, o apoio e o acompanhamento de uma religião também reciclada, atualizada, com uma teologia natural mais inteligível, clara, objetiva, sem os dogmas perturbadores da consciência humana.
As religiões e a ciência sempre viveram em campos opostos, mas com o visível progresso da ciência, as religiões passaram a ter um olhar mais complacente, pois a medida que o tempo avança inexoravelmente, vai ficando evidente para as religiões que, as verdades propaladas pelas comunidades científicas vão automaticamente tornando-se observáveis e se provam por si mesmas.
Esse fato fez com que as religiões com muita cautela e certo desdém, aceitassem ainda que de forma temerosa os novos tempos científicos. Com o avanço científico e tecnológico que se mostra rápido e independente de tendências religiosas, fizeram com que as religiões, outrora anacrônicas, aderissem e também passassem a se locupletarem com os avanços dos novos tempos.
Dizem alguns céticos ou afoitos cientistas que, a medida que a ciência avança, diminui o território de Deus. É verdade que isso também é uma demonstração de arrogância científica, entretanto, antigamente para as religiões todos os fenômenos, hoje tidos como naturais e cíclicos, eram manifestações de Deus. E quanto a isso, nada se podia fazer, a não ser, aceitá-los com resignação e muitas preces. É lógico que, as religiões, de certa forma, teriam razão se admitissem um Deus cósmico, Senhor de todos os fenômenos observáveis. Mas isso não é bem verdadeiro, por enquanto, pois elas preferem um Deus pessoal, transcendente e fora do nosso mundo.
Cientificamente é mais confortável explicar a existência de nosso planeta pelo conhecimento adquirido, pois como dizia o meu velho e saudoso pai, Deus não faz milagres à toa, assim como dizia Einstein: “ A natureza não dá saltos” Se tivéssemos uma mente mais aberta, por certo não estaríamos no estágio em que estamos. O sábio Baruch Spinoza já propalava que, Deus e natureza: "estamos tratando da mesma coisa".