PSICANÁLISE: FINAL DO SÉCULO XIX À CONTEMPORANEIDADE
A Psicanálise é um método de observação que visa tratar o sofrimento psíquico através da livre associação de palavras, cujo objeto de estudo é o inconsciente. Em outras palavras, o psicanalista fica na escuta permitindo que o paciente se expresse livremente para que seja possível trazer do inconsciente para a consciência quaisquer fatores que estejam provocando-lhe angústia a fim de tratá-los.
Pouco mais de cem anos do seu surgimento, ela ainda é duramente criticada. Foi exatamente tal questionamento que levou Elisabeth Roudinesco a escrever o livro “Por que a psicanálise?”. A autora dividiu o livro em três partes: “A sociedade depressiva”, “A grande querela do inconsciente” e “O futuro da psicanálise”.
Roudinesco inicialmente aborda sobre a nova forma de angústia psíquica na contemporaneidade: a depressão. O indivíduo deprimido não tem mais tempo hábil para fazer terapia. Ao buscar orientação médica, basta dizer que sente tristeza para receber receituário de psicotrópicos.
O problema, segundo a autora, é que a medicina trata os sintomas ao passo que a psicanálise investiga a causa do sofrimento psíquico. O paciente não é percebido em sua singularidade. Por exemplo, vários são os motivos para que alguém tenha depressão. Todavia, os psiquiatras generalizam seus pacientes. Não se pretende negar importância da medicação, mas que haja um equilíbrio entre farmacológicos e psicoterapia.
Outro aspecto tratado na primeira parte desta obra é sobre o fato de a ciência rejeitar duramente a psicanálise pelo fato de não ser possível medir o inconsciente. Não se leva em conta a subjetividade humana no que se refere a questões como a morte, a sexualidade, entre outras.
No segundo momento do livro, ela cita as duras críticas que Freud recebeu pelo uso da não cientificidade. Dessa forma, o método clínico freudiano foi considerado uma “fraude apoiada num efeito placebo” (p. 90).
Algo que considerei bem interessante foi o relato de uma psiquiatra e psicanalista francesa, que certa vez havia recebido em seu consultório uma paciente com um quadro depressivo antigo, e que fora tratada por muitos clínicos gerais. Então, após a anamnese, a psiquiatra receitou-lhe um antidepressivo. Esse medicamento levaria aproximadamente uma semana para fazer o efeito esperado. Entretanto, no dia seguinte, o marido da paciente telefonou para a médica informando que a esposa sentia-se bem melhor, pois havia “recebido uma escuta que jamais tivera antes” (p. 94).
Na terceira e última parte, um aspecto importante é levantado pela autora sobre o termo “normalidade”. Devemos desconfiar quando uma pessoa é toda “certinha”, pois é em famílias consideradas normais que se revelam verdadeiros assassinos, pedófilos, etc. Nesse sentido, Roudinesco afirma que “nada é mais próximo da patologia do que o culto da normalidade levada ao extremo” (p.123).
Outro ponto imprescindível tratado é como são os pacientes e os psicanalistas contemporâneos. Os primeiros faltam às sessões, retornando quando surge a recaída. A falta de recursos financeiros é também motivo de desistência da análise. Os últimos são na maioria das vezes psicólogos clínicos, possuem poucos pacientes. Isso faz com que tenham de trabalhar em outras instituições onde utilizam outras técnicas como o psicodrama e psicoterapia familiar e de grupo, por exemplo.
Diante do exposto, percebo que a medicina sozinha não dá conta deste sujeito pós moderno e fragmentado, uma vez que se trata de um ser único e, portanto, dotado de subjetividade. A psicanálise vai auxiliar, e muito, na diminuição dos sintomas trazendo alívio ao paciente. Há momentos em que o simples fato de o indivíduo falar a respeito de sua angústia já resolve a situação.
REFERÊNCIA
ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.