Homem, relógio do tempo

Se um relógio marcar ZERO HORA, logo os humanos vão inferir se tratar de uma divisão do tempo, fim ou ínicio de outra era. Costumam dizer que é à meia noite que muitas coisas místicas acontecem, que correm as mulas-sem-cabeças e os Lobos-Homens (o dito vulgar semántico Lobisomem), dizem os tribais e homens ignorantes do ocidente, que na meia-noite tudo se renova. É o relógio o senhor do tempo, e teria como missão reger esta transição, sendo o símbolo perfeito para representar e mensurar fins e começos, entradas e saídas da alma humana na existência? Há portanto, para outra espécie de homem uma forma antagônica e que não é de nenhuma maneira símbolica de se contar o tempo.

Um relógio pode até ser factível, porém não se compara àquilo que está estabelecido e, sobremaneira aprovado naturalmente, como a noite e o dia, esta magnífica noção poética de que o sol aparece e se põe, criando um divisor sonoro no espírito humano.

A noite e o dia são cursores perfeitos para marcar e se contar espaços temporais. Já em nossa era moderna nem tanto, mas outrora fora noites e dias marcadores leais das nossas ansiedades. Sob o comando do sol vivíamos, e sob a influência da penumbra amortecíamos nossos membros para nos entregarmos ao usufruto do silêncio noturno. A mente, que ainda se debate nas paredes evolutivas, a cada dia se descobre mais lúcida, e o cérebro, como um motor natural impulsiona o corpo, esta pesada engrenagem ao movimento diário da sobrevivência. É algo rudimentar, mas juntos, cérebro, músculos, nervos e neurônios fazem um belo animal parecer divino. Uma bela máquina, se devemos usar este termo vulgar da nossa simplória faculdade cognitiva. Aprendemos as fórmulas mais diversas de geometria, química e física, conseguimos processar alguns comandos para manipular ferramentas e administrar outras máquinas mais bem projetadas que nós próprios, como computadores diversos e até relógios suiços e atômicos de altíssima precisão e de nenhuma necessidade real. Já os computadores são até capazes de realizar alguns dos nossos desejos, como por exemplo o de nos tornar realmente máquinas. O relógio, hoje em dia conta o tempo, já dia e noite fazem isso há milhões de séculos… Com isso já determinaram, são nossas criações tão imbecis quanto os seus criadores, fruto de um agrupamento de possibilidades naturais. Tempo versos eternidade, e o homem, apenas um observador temporário de um evento assombroso que jamais se repetirá, evento este originário do abismo…

Tirando-se o relógio, ou os marcadores naturais do tempo, como o dia e a noite, nós, criaturas temporais, não seremos nem convidados como observadores deste novo tempo, nos perderemos no meio dum abismo que dará lugar a outro.