Das nosssas escolhas

Poderíamos casar cedo. Sentaríamos no chão pra comer pipoca e assistir a um filme. Nossa primeira casa seria pequena, de madeira não pintada. Nossas economias seriam pra q pudéssemos comer fora de vez em qdo, passar alguns dias em praias vizinhas, alimentar nossos 4 cães e ter o tanque cheio, de nosso carro usado. Aos poucos as coisas iriam aumentando: o amor, as discussões filosóficas, os compromissos musicais e profissionais, o dinheiro, a possibilidade de sair mais vezes, “esticar a perna”, viajar pra mais longe. Trocaríamos de casa, trocaríamos o carro, perderíamos alguns cães, criaríamos outros. Nos entenderíamos cada vez mais com o olhar, saberíamos descrever o outro mais q à nós mesmos. O tempo passaria mas as gentilezas continuariam, café na cama, roupa lavada e passada em seu devido lugar, demonstrações públicas de carinho. E daí trocaríamos de carro mais uma, duas vezes. Café na padaria todos os sábados, saídas pra comer fora à vontade, sem mais se preocupar com os gastos. Até q enfim esta mordomia! Iríamos desenvolver consciência ecológica, bom senso, iríamos amadurecer, evoluir. Nos tornaríamos pessoas melhores. Mudaríamos mais uma vez a casa, esta agora com piscina, churrasqueira, quiosque, academia. As viagens, os passeios, muito mais freqüentes. Mas nesses dias já não seríamos nós e nossos bichos, teríamos nosso próprio filhote nascido de nosso coração, um serzinho lindo, um anjo de nossas vidas, um verdadeiro presente de Deus nos acompanhando. Sua fala intermináaaaavel, suas risadas gostosas, até mesmo as birras e os choros manhosos, tudo isso enchendo nossa casa, preenchendo nossas vidas. Qtos outros ainda virão? E a vida teria um novo ritmo, seria mais leve, mas preciosa, muito mais atraente. Seria uma vida simples. Nossa casa teria um clima bom, com cheiro de perfume de bebê e brigadeiro de panela. Tardes seriam para dormir, noites pra ver TV e brincar, fins de semana no parque, manhãs limpando a casa, tudo assim no seu devido lugar, mas do nosso jeito muito peculiar, sem muita rotina, sem tédio. Pessoas entrariam e sairiam de nosso convívio. Poucas, porém, importantes, permaneceriam pra sempre. Um dia iríamos entender q espiritualidade não tem haver com religião, que moda é futilidade, que bicho não é de comer, que não devemos fazer aos outros o que eles podem e devem fazer por si mesmos, que dias de chuva podem ser maravilhosos pra montar barraca no meio da sala e brincar a tarde inteira, que pomada anestésica impede a dor do exame de sangue, do piercing no umbigo, dos brincos extras. Conversaríamos tanto! Relembraríamos incontáveis vezes de nosso primeiro encontro, de nosso primeiro beijo. E nos beijaríamos sempre: com amor, ternura, carinho, tesão, pedindo desculpa, sem motivo, por hábito, mas nos beijaríamos.. A cada dia sua luta, seu milagre, bem do nosso jeitinho faríamos a felicidade se materializar diante de nossos olhos. E tudo isso antes dos 30. E continuaríamos sentindo, aprendendo, ganhando, perdendo, multiplicando, usufruindo, inspirando, expirando, fortalecendo...vivendo, caminhando pura e simplesmente, meio vulto, meio gente...E nosso filho já saberia rezar: Jesus, obrigado por tudo!