SOBRE O PASSADO

A aversão que muitos têm pelo velho, está muito mais ligada à incapacidade de se procurar aproveitar as experiências e histórias que trazem do que um deslumbramento pelo novo. Essa dicotomia, em sua maioria, tende a prestigiar o que é imediato, modismo e tudo o mais que remete a algo incompatível com a realidade. Noutras palavras, excluir o velho assentado no pressuposto, unicamente, cronológico é um passo para frustações irreversíveis. Aprender, em seu sentido mais amplo, a meu ver, é algo que nos remete ao reconhecimento de que somos frutos e difusores de relações passadas e presentes. Se não é assim, pergunto: por que, quase sempre, escrevemos ou falamos, sobre fatos pretéritos? Ora, ainda que nos remetemos ao presente, temos que ter em mente que o tempo imediato vivido não é nada sem tê-lo, ou melhor, fazê-lo conectado com o que se viveu. É por isso que as patologias sociais advêm de acúmulos açambarcados nas relações remetidas. Se não fosse assim, não se poderia dizer que o Homem é um animal político, pois, ao contrário dos nossos irmãos de espécie, embora sem essa diferenciação que é a nossa capacidade cognitiva, nós nos relacionamos sob pressupostos e preceitos tacitamente aceitos. Os conflitos, mesmo assim, não deixam de ser, de certa maneira, acordos consensuados. Se for de maneira diversa, indago: qual é a função primeira do estabelecimento de Leis. Não são elas remédios, convencionados, para se dirimir certos desajustes nas relações? Não são elas pactos, isto mesmo, pactos que se estabelecem para não se chegar a conflitos onde a desordem poderia levar a uma anarquia geral? E todos sabem que mantida a configuração que temos, ou seja, a predominância de interesses fortemente antagônicos, baseados num claro conflito de classes, e, ainda, as relações mantidas entre a rede do poder dominante mais as redes de informação, todas estabelecidas sob concessões, não é difícil, nem ingênuo, afirmar, que nada do que se divulga não traz, em si, a ideologia da classe mandante. E nesse quadro, as leis servem, tão somente, para reafirmar o pretendido. Nesse sentido, e de volta ao começo, isto é, sobre a aversão ao velho, considero que pensar nessa perspectiva, além de transparecer certa equidistância inconsequente, posto que parece querer negar o passado, também sugere um sentimento hedonista. O que você acha?