Algumas Virtudes

(Reedito este texto, desejando a todos que 2007 seja um ano de Educação e Cultura)

Temos cinco sentidos com os quais aprendemos sobre o mundo real. Quando queremos saber coisas sobre esse mundo, vemos, escutamos, tateamos, cheiramos ou degustamos.

Como toda a máquina, esta, chamada corpo, também é limitada. Então, o que percebemos quando vemos, ouvimos, pegamos, cheiramos ou provamos é sujeito a falhas.

Os cachorros ouvem sons que não ouvimos, porque o nosso aparelho auditivo é mais limitado, em certa faixa, em relação ao deles. Mas isso não significa que os sons não existam. Eles estão aí, nós é que não temos capacidade de ouvi-los.

Não conseguimos ver determinadas faixas de luz, como os raios ultra-violetas, mas eles estão aí, diz a Ciência, e queimam as nossas peles.

Existem determinadas faixas de odores que são percebidas instintivamente por nós, diz a Biologia, mas das quais não sentimos propriamente o que chamamos de cheiro. Às vezes antipatizamos com alguém sem saber o porquê. Se investigássemos, poderia ser um cheiro que não foi percebido conscientemente.

Então, o que uma pessoa vê ou ouve ou sente, pode ser diferente do que a outra vê ou ouve ou sente. Depende dos sentidos mais ou menos apurados de cada uma delas.

Se somarmos a isso as nossas influências culturais, perceberemos que somos diferentes também por isso.

Se considerarmos que cada um de nós tem uma história de vida diferente, com um pai, uma mãe e um irmão ou irmã que ninguém mais teve, só nós, poderemos perceber que somos únicos. Ninguém é igual a nós, porque ninguém mais teve a nossa trajetória.

Saberemos também que as escolhas que fazemos são baseadas em nossos “mapas” pessoais, que construímos com base em tudo o que aprendemos com os nossos sentidos, que são falhos. Por isso erramos.

Por outro lado, teremos também consciência de que, o que chamamos de “realidade”, é só a nossa visão pessoal do mundo real, baseada em nosso “mapa” do mundo.

O mapa não é o território.

Por isso só nos resta adquirirmos algumas virtudes:

a) sermos humildes: quando reconhecemos que não somos donos da “verdade absoluta”, já que o nosso “mapa”, construído pelos cinco sentidos, é falho. Humildade, no entanto, não implica submissão. Submissão é aceitar os “mapas” dos outros como verdadeiro, ou aceitar a imposição deles. O que é um absurdo, já que são “mapas” humanos, falhos como os nossos.

b) sermos compreensivos: quando reconhecemos que as outras pessoas tem “mapas” tão válidos quanto os nossos e que fazem sentido dentro do contexto delas. Se aceitarmos isso, pararemos de achar “errado” comer formigas, por exemplo, como fazem alguns australianos ou peixe cru, como fazem os japoneses (quem não comeu deveria experimentar, aliás, é uma delícia, na minha opinião, no meu mapa - se preparado devidamente). Também teremos que compreender porque uma pessoa matou a outra. Mas compreensão não implica aceitação ou tolerância, mas entendimento, para que possamos lidar com a informação.

c) sermos cooperativos: quando reconhecemos que temos conhecimentos limitados, que somos humildes e compreensivos, então, percebemos que a cooperação é a estratégia mais eficiente e lógica, pois se juntarmos “mapas” entre nós, teremos uma visão mais completa da realidade.

Eis uma boa razão para trabalharmos em equipe, de pararmos de fazer escolhas pelos outros, de pararmos de pensar que sabemos o que o outro pensou ou quis dizer...

Leitura inspiradora:

Chung, Tom. Qualidade começa em mim : manual neurolingüístico de liderança e comunicação. 3. ed. São Paulo : Maltese, 1995.