OS DESCAMINHOS DA HUMANIZAÇÃO

Antes de começar minha catarse fui ao dicionário a procura do significado do verbo HUMANIZAR que por ser pronominal em todas as suas aplicações transitivas diretas, ratifica a diretriz da 'humanização', ponto -chave do meu presente ensaio.

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Tornar(-se) humano, dar ou adquirir condição humana; humanar(-se)

Tornar(-se) mais sociável, mais tratável; civilizar(-se), socializar(-se)

Tornar(-se) benévolo, ameno, tolerável; humanar(-se)

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Ultimamente tenho me perguntado muito se fui eu que mudei com o tempo ou foi o tempo que mudou sob o meu mais crítico olhar.

Lembro-me de que, quando eu era criança, meus familiares mais velhos iniciavam suas comparações exclamativas sobre as mudanças da vida com a expressão "no meu tempo" para nos narrar, aos mais jovens, o tudo que havia se transformado no decorrer do seu tempo, e o subliminar era sempre um evidente saudosismo.

Confesso que, já nesses meus atuais tempos, me vejo frequentemente na mesma exclamação.

Fato é que tudo nessa vida é silenciosamente dinâmico , porém, penso que nenhuma mudança 'humana' seria válida se não fosse para aproximar as pessoas, no propósito de humanizá-las individual e coletivamente, no sentido semântico do vocábulo 'humanização'.

Ocorre que para fazermos comparações com o passado é necessário que tenhamos referências no presente.

Nos últimos tempos percebo que as relações interpessoais mudaram tanto que vivo a me perguntar como será quando as próximas gerações não tiverem mais o quê comparar, ou melhor, não tiverem algo melhor para norteá-los nas comparações com o seu presente em discussão, em avaliação.

Chego a deduzir que será bem menos doloroso porque sempre é mais fácil fazer comparações com o passado morno quando nossas referências presentes são niveladas pelo desqualificado exercício de humanização, portanto com consequentes expectativas sociais mais precárias.

No mundo moderno, a despeito do assustador avanço tecnológico, o Homem perde muito na convivência humanizada.

Quiçá a própria violência social que vivemos se explique pela desqualificação do exercício humanitário na sociedade.

Hoje as regras sociais do bom convívio caem dramaticamente por terra a medida que os valores sociais se invertem a toque de caixa.

É demodê, por exemplo, ser gentil e 'educado' e este perfil comportamental, principalmente entre os adolescentes, está muito propenso ao Bullying.

Não há mais respeito e hierarquia alguma entre as pessoas, e exemplo disto é o que vemos nas escolas aonde alunos e professores coexistem num mesmo patamar, quando não os alunos hierarquicamente sobrepujam o status profissional do professor, assumindo a liderança das suas vontades. E absolutamente ninguém poderá questioná-los porque a sociedade atual assim o quer.

Nas universidades, alunos descontentes "descadeiram" seus mestres com uma autoridade espantosa baseados em qualquer ocorrência.

O pensamento social igualitário, aquele de que tudo se pode a todos, gera uma certa igualdade social improdutiva e medíocre e o desrespeito social passa a preponderar nas relações pessoais coletivas a repercurtirem nas relações individuais. E vice-versa.

Nas famílias, filhos assumem a autoridade dos pais, e muitas são as vezes em que os pais perdem totalmente o comando da família, reféns das ditaduras dos filhos.

Eis: um cenário desumanizado bem confuso.

De fato, no meu tempo não era assim...

E confesso: dou-me por feliz por ainda poder me indignar com as inexoráveis mudanças, ou seja, por ainda possuir longínquas e remanescentes referências sociais, talvez as últimas deste cosmos, sobre o que era viver num espaço humanizado.

Ah, que saudades...