Um elogio à coca-cola e às embalagens retornáveis
Recentemente a coca-cola anunciou a volta das embalagens retornáveis, um enorme avanço. Deve ser congratulada por isso.
Existe no Brasil um discurso absurdamente hipócrita enaltecendo a reciclagem, atividade que pressupõe misérias e desgraças convivendo com uma pujança insensível e cruel.
A proibição de descartáveis, exceto artigos de saúde, como seringas, cortaria um mal pela raiz.
Viva a coca-cola e as embalagens retornáveis.
Décadas atrás me espantei e me enojei com um bicho imenso revirando as lixeiras urbanas, o animal também se envergonhou ao me ver.
Também me comovi com o texto de Manuel Bandeira descrevendo a mesma cena.
Depois ainda me espantei com um programa da Globo enaltecendo a atividade degradante, indigna até de escravos.
Hoje, quase insensível a tanta humilhação, relembro o tempo em que não havia tantos descartáveis, e que só os animais quadrúpedes reviravam as lixeiras.
À primeira vista, os que vemos revirando a lixeira nos parecem nojentos, e o são.
Também nos parecem indignos, e o são.
Iludimo-nos, no entanto, ao pensar que somos menos nojentos que os animais que vemos às nossas portas revirando os rejeitos, não somos menos abjetos por tê-los compelido a isso.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
M. Bandeira