ANTONIO CARLOS DU ARACAJU, vaqueiro, cantador, compositor e escritor
*** Conforme prometido ontem, trago para os colegas deste site um pequeno trecho da obra de Antonio Carlos du Aracaju.
A obra é inédita, mas estou devidamente autorizada a apresentar esta pequena passagem entre aspas.
"A maioria dos vaqueiros já trocou o chapéu de couro por um boné ou um chapéu modelo texano. É comum encontrar pelos acostamentos das rodovias vaqueiros montados em cavalos de aço (moto). O cavalo de carne é somente para fazer charme nos fins de semana. O oratório cheio de santos de devoção foi retirado do lugar de honra dentro da casa e colocado em um compartimento mais escondido por demonstrar atraso, e, no seu lugar está um televisor de 29 polegadas. As jarras e potes foram colocados do lado de fora da casa substituídos por uma geladeira moderna. O terno de couro, gradualmente, vai perdendo a sua função. Já não é mais consertado. Causa vergonha entrar na cidade vestido no seu terno de couro. O máximo que ainda se consegue ver é, vez por outra, o vaqueiro com o guarda-peito, o roló e o chapéu de couro. Apenas durante as pegas de boi no mato, quando o terno é apresentado com orgulho. Ainda bem!
Nesse mundo de descaso com os valores sociais e culturais, solidão e tristeza, o vaqueiro é esquecido como um Jesus Menino no presépio num canto da sala. O tempo cuida de moldá-lo com novos valores, o mercado de trabalho lhe trata com crueldade e ceifa-lhe o coração de vaqueiro. Pouco gado há para o pastoreio para que o sertanejo demonstre bravura ao dar conta do seu serviço. O gado criado no requinte do confinamento enche de orgulho o fazendeiro e de tristeza o vaqueiro. A vida inteira a pastorar, alimentar, medicar e agora é obrigado a obedecer ao “dotô veterináro, lá da cidade”. O vaqueiro se vê obrigado e se torna “refém” da modernidade sem saber o que é isso. Calças jeans, chapéu de lona, bota de rodeio, camisa quadriculada estilo country e já escuta toada e aboio meio envergonhado".