Da Covardia
“E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!”
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) , Lisbon Revisited (1923)
É a decadência que nos humaniza. A crise nos desenvolve. Caminhamos, com os olhos vidrados, esperando que o vento sopre e aplaque nossa ira. Temos raiva de Deus, da plenitude que não temos: é a origem do rancor. Quando grita nas ruas, o “povo” acontece. A escória do que poderia ter sido, mas não foi. Rostos sedentos de glória gratuita, usurpada. Já não são homens, são tijolos. Bradam “slogans” imbecis em seu festim diabólico. E nós mesmos olhamos calados. Outros, incautos, aplaudem, regozijam-se. É o momento máximo da mediocridade, orgulhosa de si mesma, pronta para imolar, no altar da igualdade entre os piores, o que de maior a espécie construiu. Não suportam a beleza, são avessos ao pensamento sério. Preferem a doce sedução da propaganda, o vão panfleto, a linguagem malabarista e mirabolante dos acrobatas do verbo, o “fetiche” do discurso. Porta-vozes da verdade e do “bem-comum”, subvertem o óbvio em favor da causa. Mistificam o banal e banalizam o sublime. Nossa fraqueza de espírito lhes dá o aval enquanto, com todas as forças, despedaçam nosso moribundo humanismo.