sobre o Amor

O Amor

O amor: comparo-o a sabedoria, a sabedoria superior, aquela que estar acima de todos os credos, de todos os dogmas, de todos os laços, seja de sangue ou de amizade. Como eu posso dizer que amo, se sou condicionado a amar aquilo que me agrada? Por exemplo: o amor romântico, que está diretamente ligado ao bem-estar e influenciado pelo belo, pela reciprocidade. E a amizade que está condicionada à cumplicidade, à afinidade, à aparência externa.

Vemos nos amigos aquilo que nos falta. Aquilo que nos sobra preferimos distribuir entre os nossos inimigos, e isso de forma bem generosa.

Se formos seguir o exemplo da natureza, somos obrigados a admitir que não amamos nem a nós próprios. Pois esta distribui seu quinhão a todos os que lhes cercam, não conseguimos olhar além das evidências, além do nosso campo de visão. Amamos nossos amigos, e amamos nossos filhos e alguns parentes que nos suportam; e pasme, toda amizade tem seu quinhão de interesse, é comum ouvirmos as pessoas dizerem que amam, que têm Deus no coração, porém, observe estes hipócritas que afirmam possuir o genuíno amor cristão; não são capazes nem mesmo de confessar seus pecados, suas culpas para este Deus que lhes garante o perdão imparcial. Amor, este amor que almejamos, que está tão longe de cada um de nós, pode ser exemplificado em poucas letras; se queres amar, ames o todo, abra os olhos fechados pelo véu da preferência, da afinidade, esqueça a forma vil de amar que te ensinaram, não sejas tu exemplo, nem sigas outro que te pareça bom exemplo, pois só isto faria-te igual ao que já és: um zumbi, que pensa compreender o amor superlativo de Deus na criação, e na manutenção da vida, na preservação deste objeto amado...

Se amarmos verdadeiramente algo ou alguém, não esperaremos a remuneração por este amor, pois parte do principio de que há mais felicidade em dar do que em receber; por isso seremos felizes e satisfeitos por simplesmente amar, e não por sermos amados. O amor que eu entendo, porém como todos os homens não consigo praticar, é o fim de tudo para o ser humano, é a perfeição, a glória divina. Somos de fato criaturas sem almas neste aspecto, não discernimos ainda o que envolve amar e ser amado, pois fomos e somos condicionados para responder aquilo que se nos perguntam, não procuramos compreender o por quê de cada ação, nem as conseqüências das reações tomadas, reações que reforçamos para que elas continuem da mesma forma, sejam boas ou ruins.

Melhor e mais honesto seria dizermos categoricamente; que somos céticos, que não acreditamos neste amor, quem sabe se renunciarmos a este “Deus” amor poderíamos compreendê-lo melhor a distância?

Somos aterrados por uma enxurrada de conceitos que distorcem nossa visão sobre este sentimento soberano, este erro que tem conduzido toda humanidade até aqui; é claro que surgiu alguma luz, que com boa intenção tentou iluminar as trevas das nossas tradições, no entanto não foi bem sucedida. A exemplo do cristo que pregou a regra de ouro, o dar sem olhar a quem, porém, esta doutrina não achou lugar nas mentes sujas, onde imperava o orgulho de raça e credo, mesmo os que diziam compreender este novo cântico, não atingiram a afinação, nem mesmo quando tinham à sua frente o maestro perfeito desta peça notável: a sinfonia do amor divino...

Digo sem medo de pecar que, assim que partiu o maestro para outro concerto, para reger outra orquestra; seus músicos dispersaram cada um com sua melodia, para formarem eles próprios suas companhias, seus conjuntos com formações diversas, e em pouco tempo esqueceram as notas principais da melodia celeste do amor superior... Alguns arranham em seus instrumentos medievais uma ou duas notas, mas não conseguem mais a unicidade da direção do mestre...Visto que se perdeu no espaço a melodia do amor, como encontrar hoje este som e reproduzi-lo? Não será de maneira visível que ele será identificado; é necessário o uso da sensibilidade para reconhecê-lo para sentir as vibrações celestiais, temos sim os meios para alcançar este estado supremo do amor original, pelo método da contemplação da natureza, da obra sublime do eterno maestro...

Convido-os à reflexão, à observação, à análise sincera para compreender, e ver em que nos tornamos. Aí pergunto: quanto à sabedoria, entendes alguma coisa, sabes de fato quem tu és? Porque ages assim? Se souberdes responder, é porque já começastes a exercitar o amor, o ápice da sabedoria divina...

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 25/12/2006
Código do texto: T327440