RELIGIÃO EM SEU SENTIDO PSICOLÓGICO
INTRODUÇÃO
Há que se fazer algumas considerações em relação ao tema proposto, de forma a justificar meu entendimento à luz dos estudos realizados até o momento.
Pode-se acompanhar o percurso que seguiu o pensamento dos estudiosos em busca da compreensão relativa à alma, ao espírito; a perseguição ao entendimento do comportamento humano e toda sua implicação na vida prática.
De maneira sintética irei levantar algumas considerações sobre a psique, para que se possa compreender rapidamente o que é a Psicologia neste contexto e registrar algumas definições de Religião, para que teça meus pensamentos em relação à Religião no aspecto psicológico, como propõe o tema.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSIQUE E PSICOLOGIA
Entender Religião dentro da Psicologia é acompanhar
a evolução do pensamento dos estudiosos desde a Grécia antiga até a atualidade, observando a maneira como o Homem se aproximou aos poucos da essência humana, que pressentia, influenciava todos os aspectos da vida física e material.
Fica expresso nos estudos de Homero o destaque para a finitude da psique, já que a considerava o conjunto de capacidades de um indivíduo enquanto este vivia, e como as perdia ao morrer. Mesmo um tanto imprecisas, suas idéias refletiam certa periodicidade das características totalizantes do ser humano.
Na fase filosófica do pensamento grego começa a ser melhor definido o termo psique, deixando de ser tão impreciso como vinha acontecendo.
Pitágoras introduz a idéia de imortalidade da psique, ao expor seus pensamentos. Defendia a idéia que a psique não se perdia após a morte do indivíduo.
Platão associa a psique a ética, repousando seus estudos na observação dos valores, das virtudes do espirito humano.
Defende a integração de dois componentes básicos da psique, o do desejo e o da razão, como essencial para o equilíbrio na realização das funções da mesma, dando primazia à razão e ao espírito.
Essa visão influencia consideravelmente a direção dos estudos pertinentes à psique.
Plotino estabelece que a psique é o princípio que faz a intermediação entre a realidade mais elevada das idéias e o mundo físico. Seja na perspectiva individual ou generalizada ao mundo.
Aristóteles marca sua linha de estudo através de uma visão mais ampla.
Para ele a psique não é algo físico, mas um princípio que anima e faz funcionar a totalidade dos órgãos corpóreos e das potencialidades psicológicas que o ser humano possui.
Mais recentemente a psicologia, ainda bastante controvertida em definir seu estudo com precisão, conta com vários adeptos que delimitam seus estudos tendo como objeto o estudo do comportamento, ou da conduta. E essa alteração de interesse leva a uma investigação da alma de uma forma indutiva e empírica e não mais especulativa e dedutiva.
Percebe-se que há constante dificuldade entre as linhas de estudo da filosofia e psicologia, me levando a perceber que o enfoque, o ponto de partida de qualquer observação, por si só já direciona, em certa medida o destino dos estudos em questão.
Assim, fiquemos com a noção de que a Psicologia ocupa-se em compreender o comportamento humano levando em conta todas as variáveis que nele interferem.
RELIGIÃO
Tentar definir Religião é levar-se em consideração inúmeras definições,
e, portanto compreender o quanto ainda é revisto este fenômeno até os dias atuais, deixando clara a compreensão do dinamismo que nele se encerra e, consequentemente, nos estudos que dele decorrem.
Carl Gustav Jung, definiu Religião da seguinte maneira:
“A Religião é uma das manifestações mais antigas e mais gerais da alma humana.”
“Ela não é apenas um fato social ou histórico como outros estudiosos pretendem estabelecer, mas consiste também, para muitos seres humanos, uma questão pessoal.”
Assim, ele defende a idéia de que conforme o fenômeno religioso engloba em si um aspecto psicológico considerável, faz-se necessário levar-se em consideração para efeito de estudo.
Com isso, ele deixa bem clara a relação da Psicologia com a Religião, já marcando um pensamento mais moderno, desvencilhando-se da idéia de que a religião poderia ser apartada dos estudos científicos relevantes do comportamento humano. Não com isso, entrando no mérito da metafísica ou filosófico da Religião.
W.James, pioneiro no entendimento psico-fenomenológico da “experiência religiosa”, assim entende a Religião:
“conjunto de sentimentos, atos, e experiências do indivíduo, em sua solidão, enquanto se situa em uma relação com seja o que for por ele considerado como divino”.
Aqui já se percebe bem a conotação da característica individual da religiosidade, que se expressa dentro de um contexto social, cultural e histórico.
Thouless, define assim:
“Religião é uma relação vivida e praticada (entre o ser humano) e o ser ou seres suprahumanos nos quais ele crê”
Vergote, em síntese a define como:
“A Religião é um conjunto orientado e estruturado de sentimentos e pensamentos. O homem e a sociedade tomam, através dela, consciência vital do seu ser íntimo e último e, simultaneamente, nela se torna presente o poder do sagrado”.
O QUE SE ENTENDE POR RELIGIÃO EM SEU SENTIDO PSICOLÓGICO
Levando em consideração os estudos realizados, para mim religião é realmente a expressão da interioridade do homem, um aspecto vital e de relevante peso na maneira como o indivíduo irá se portar na vida.
Não importa, neste momento, qual a religião instituída adotada pelo indivíduo, importa que todos tenham de alguma forma, a experiência da religiosidade, que faz parte integrante de sua vida, portanto ligada a sua afetividade, sua sensibilidade, sua forma de interpretar as mais diversas experiências, enfim, um elemento presente que interfere constantemente em suas ações.
Desta feita, a Religião passa a ser também objeto de estudo da Psicologia, que sendo a ciência que busca a compreensão do comportamento humano, não a pode desprezar.
De outra forma, percebo que a Religião possui uma ligação implícita com a Psicologia, podendo tê-la como aliada no tocante a trazer luz à sua manifestação natural.
Não se pode estudar Religião sem levar-se em conta a subjetividade que está presente em sua manifestação e a ligação dela com a potencialidade psicológica que o indivíduo possui.
Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenvolvimento de Pessoas