Procurando Deus.
Para entender Deus usei o cinzel da inocência original e pacientemente retirei séculos de ignorância, palavras vãs, conceitos puramente humanos e transitórios que permeavam meu corpo e minha mente.
Assim despida, nua e pura, comecei a ler. Li todos os livros. Usando a sensibilidade li nas pessoas seus mais íntimos sentimentos.
Olhei para o intimo de minha alma e percebi que ainda faltava muito. Assim, li o livro da natureza, os livros dos homens e estudei o comportamento dos animais.
Oh! Pobre de mim, quão pequena me sentia perante a grandeza da criação.
As leituras penetraram a alma formando novas camadas de teorias inúteis.
Deus! Onde estás?
Como última tentativa, retomei o cinzel da inocência, ora transformado em sabedoria, e retirei novamente as camadas de saber acumuladas.
Deus, aqui estou nua e pura, minha alma está pronta para te receber. Habita este lugar sagrado e terei paz.
Sem resposta e com súbito entendimento, vi que a paz estava estabelecida.
A busca acabara.
Em paz, revi os anos de procura em antros de perdição, na sordidez das ilusões compradas em suaves prestações, no luxo, no lixo.
Eis que o impulso do rico era o mesmo impulso do pobre.
O impulso da virtuosa, igual ao da devassa.
Palavras eram enfeites fúteis que desviavam a atenção do ser de sua essência.
Pobres seres vivendo na superfície. Nem rio somos.
Somos meros espelhos d’água a refletir realidades virtuais.
O impulso de vida. A força que faz com que a vida pulse tanto na alegria como na tristeza, na saúde e na doença. O imponderável elo que nos une mesmo quando não percebemos, mesmo quando estamos em guerra.
Nestes anos de procura ouvi a voz interna que me dizia pacientemente: ou vocês triunfam juntos, ou destruir-se-ão lenta e dolorosamente.
Era Deus. Deus era o impulso vital que habita a alma de todos, mesmo daqueles que parecem sucumbidos, doentes, ausentes, perdidos.
Pois que é nas zonas abissais que Ele tem mais força e usando apenas sua fé nos remete novamente à vida.
Em paz, entendi que Deus era a busca incessante, o despir-se de falsas ilusões, a constatação irreversível de minha pequenez. Deus era o impulso vital que me trouxe a infância perdida.
Deus era a paz.