FANTASMAGORIA

Vivemos como se nunca fossemos morrer, morremos como se nunca tivéssemos vivido, também assim nos definia o grande Confúcio (China: 551 - 479 AC), com a maior das surpresas, ao constatar que era isto que mais o surpreendia na humanidade. Segundo ele, isto se deve ao nosso descaso com o presente, por uma grande obsessão que temos pelo futuro. De fato, terminamos por negligenciar o presente e o futuro, se no final das contas vivemos apenas a nossa obsessão, e não no presente - nem no futuro. E é exatamente assim que até quem nunca morreu está morrendo.

Reflita por um instante neste grande dilema humano. Você se considera capaz de nunca mais se utilizar do binóculo com que enxerga passados e futuros distantes? Eis, que no presente, florescem mais e mais questões de vital importância - são os desafios do nosso tempo - e devemos tentar vencê-los, para não nos acomodarmos numa vida sem sentido e sem auto-realização, em outras palavras, para não nos tornarmos apenas petróleo no futuro. Entretanto, não restam dúvidas, apenas alguns poucos serão como diamantes!

Saiba, amigo leitor, que vivemos uma grande fantasmagoria. Não enxergamos nada além dos raios de sol refletindo nos objetos - reflexos - tão somente. Por outro lado, todas as formas que vemos pela primeira vez são armazenadas na nossa memória e se tornam representações mentais (retratos mentais), e por comodismo, quando revemos algo, na maioria das vezes, evocamos a imagem mental e o conceito que a ele associamos anteriormente. E se evocamos esta representação mental ao nos deparamos com a presença física de algo - isto não é ver a realidade. Contudo, e se os espelhos mentem quando de ti se iluminam e mostram apenas o que queres ver?

Neste ponto, é impossível não fazer alusões (!) ao “Mito da Caverna” de Platão. Pois bem, leitor amigo, eu consegui fugir da “caverna” e decidi convidá-lo para inventigar comigo a essência das coisas e desfazermos todas as sombras, para além do senso comum deste mundo moderno, onde equivocadamente nos condicionamos, petrificados no cimento da rotina, coisificados nas relações interpessoais egoísticas que distanciam as pessoas, bem como vendidos aos valores do consumismo, que sobrepujam a liberdade e a originalidade em favor do imediatismo da vida e da descrença em ideais nobres, norteadores de uma vida plena e feliz.

Neste mundo, as ilusões sustentam a alma como as asas sustentam o pássaro, como acertadamente definiu o poeta Victor Hugo. Tudo isso é ilusão. É uma fantasmagoria, pois nascemos escravizados pelas necessidades básicas e somos ávidos por emoções frívolas, porque estamos condicionados pela Energia Ilusória (Maya) de Deus, responsável pelo esquecimento da nossa essência divina e pelo nosso desejo de desfrutar os prazeres materiais. Estamos aprisionados e acreditamos apenas nas representações mentais daquilo que achamos ser real.

Neste contexto, são oportunas as palavras de Thseng-tseu: " Se a alma não é dona de si mesma, a pessoa olha e não vê, escuta e não ouve, come e não sabe que gosto tem a comida. "

Portanto, antes de mais nada, precisamos testemunhar a nossa própria dissidência e declararmos individualmente a nossa subversão, para nunca mais desejarmos a vida que sempre imaginamos, guiados pelas asas da ilusão, porque chegou a hora de erguermos templos para também louvarmos a nossa própria condição divina, pois fomos feitos do mesmo tecido que Buda e Cristo, com a imagem e a semelhança de Deus.

Entretanto, talvez a maioria, por livre arbítrio, queira cada vez mais emaranhar-se nos Véus da Maya, embriagados e entregues de corpo e alma. De qualquer forma, o destino de todos será sempre o mesmo: um grande e fascinante mistério. Afinal, estamos todos juntos, somos vidas velozes surfando ondas incertas, como barcos de papel sobre as águas, onde a alma é profunda e nós superficiais.

G Matos
Enviado por G Matos em 22/09/2011
Reeditado em 09/05/2012
Código do texto: T3234366
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