"ON LINE" COM A SOLIDÃO VIRTUAL
Hoje em dia, nesta plenitude confusa e impessoal da agitada vida do século vinte e um, vivenciamos o apogeu da era digital que interfere nos mais íntimos campos da nossa vida de humanos.
Se é que somos ainda biologicamente seres humanos, no sentido mais estrito do substantivo "humanidade", decerto que nossa dinâmica humanização de vida mudou tanto que vez ou outra sentimos saudade daquele antigo substantivo adjetivado "humanidade" de outrora, algo bem mais solidário que o substantivo tão "solitário" de agora.
Outro dia ouvia alguém a mim se queixar de que, num contato pessoal de trabalho em que fora solicitar uns documentos a uma instituição, o funcionário atendente apenas batia contundentemente um carimbo na mesa e lhe perguntava asperamente " a senhora não tem computador , não?".
A pessoa então lhe respondeu que preferia conferir a documentação "in vivo" ao invés de recebê-la "on line".
Saiu daquele espaço meio decepcionada porque sequer recebeu um cumprimento "olho no olho" de quem ali prestava um serviço algo virtual a torque de gente, sem toque de gente, algo digitalmente desumanizado, impessoal.
Doutro lado, há pessoas hoje em dia, em adição à endêmica solidão do nosso mundo real, em decorrência da realidade que permeia a vida moderna em qualquer local deste planeta, agora também vivenciam a solidão virtual.
As redes sociais digitais exemplificam bem a tal ocorrência.
parece haver uma necessidade social visível em se interagir nos mínimos detalhes das vidas cotidianas, a cada fração de segundo, numa exposição pessoal perigosa, a configurar uma neurótica simbiose social coletiva , virtualmente vidas "on line" preenchendo seus reais espaços vazios.
A simples expectativa não correspondida de cada uma dos milhares de amigos virtuais, já causa uma sensação de vazio, de algo não preenchido.
Enfim, um fenômeno sociológico interessante que já deve ser alvo de estudos mais aprofundados sobre o comportamento humano.
Penso que o mundo moderno descobriu, virtualmente, uma nova modalidade de solidão acompanhada, uma maneira virtual de se estar simultâneamente sozinho, todavia conectado a toda solidão do mundo.