Os Pobres Como Plataforma

No Brasil há uma acirrada disputa pelas classes menos abastadas. Elas são em geral o alvo preferencial da política, religião, televisão e da educação pública.

Desde pequeno eu convivo com essa máxima “quem dá aos pobres empresta a Deus” e por favor, não venham a pensar mal de mim pois quem sou eu para contestar essa verdade ou discursar contra a prática da caridade e a ideia de que quem doa aos mais necessitados recebe em dobro de Deus. Mas estive refletindo e concluí que nem todo mundo dá aos pobres pelos mesmos motivos e tem até quem não está lá muito satisfeito em ceder algo à plebe.

“Dou aos pobres e por isso não posso cobrar caro, aceito até vale refeição”. Frase dita por uma prostituta reclamando do baixo poder aquisitivo de sua clientela.

“Minha filha é que não vai dar para pobre, isso é que não”. Frase saída da boca de mulher preconceituosa e folgada na ilusão de arrumar um ricaço para casar a filha.

“Damos aos pobres o mínimo dentre os milhões que arrecadamos com os tributos pagos pelos contribuintes”. O governo e seu assistencialismo eleitoreiro.

Vamos dar emprego com salário digno aos pobres. É o que esse país necessita para decolar. Acabo de criar meu slogan populista de campanha para uma futura candidatura ao cargo de presidente da República.

“Quem dá aos pobres se livra das tralhas velhas e inúteis que estavam acumulando poeira em casa”. Pois é, o que seria dos pobres se não houvesse essas faxinas?

Agora, uma coisa é certa: pobre que dá para pobre é irmão, é solidário na pobreza. Já quem tira o pão da boca do pobre é canalha, corrupto. Então ai do pobre que der para um rico, porque corre o sério risco de ser rebaixado à condição de miserável. Não sou contra os ricos, apenas não aprovo a voracidade com a qual muitos deles se apropriam de modo indevido dos bens alheios.

“Não saiba a sua mão esquerda o que dê a direita”. Dar sem ostentação, sem humilhar a quem recebe. Estou aliviado; acabo de resgatar uma pérola num mar de lama.

Dar é verbo e todo verbo expressa uma ação, contudo, tome cuidado com as suas intenções. Afinal tem gente que dá algo quase insignificante com uma mão e tira até mesmo a dignidade do paupérrimo com a outra.

Por tudo isso este é de fato um país dos pobres que recebem a esmola com alegria e às vezes com um pouco de revolta e dão o sangue e vitalidade para que nada falte a um seleto grupo de parasitas astuciosos.