A hora da nostalgia.
Existe um momento de nostalgia todo o domingo à tardinha. É a semana que finda levando todas as conquistas e desilusões, e a promessa da segunda-feira trazendo novas oportunidades de recomeçar o que não deu certo e continuar aquilo que está bom, que tem serventia.
Não sei se para todos funciona desta maneira, mas como vivo para valer e seriamente, cada semana me oferece esta divisão. A vida não é linha reta e previsível.
Tem curvas e abismos, tem céu azul e dias cinzentos e tristes, sol e chuva, choro e riso.
Agora é o momento da nostalgia, do vazio entre o que foi e as promessas do que virá. É um momento de paralisia estática, meio que pensar meio que agir muito que esperar. Angústia.
Se o tempo não escapasse atrapalhando todo o meu desejo de ser e fazer, este momento não existiria. Dispondo da eternidade, a vida seria linha reta e tranqüila. Monótona?
Imagino que sim, todavia não posso ser diferente. Não posso aquietar a mente que viaja pelo infinito deixando o corpo no automático em momentos de sublime inquietude.
Com esta maneira de ser e viver, não existe o fatídico instante do final de ano e aquele evitável balanço que não funciona.
Também não tenho como dizem alguns, o exagero de viver cada dia como recomeço, seguindo a máxima de que “hoje pode ser o dia em que farei a mudança da minha vida”.
Fico no meio termo, dividindo a vida em semanas, como gomos de bergamota. Unidos e tão separados que fica difícil partir com a faca. Serão deglutidos separadamente, até o derradeiro gomo.
Bergamota é bom, mas domingo à tardinha não.
Mas como a segunda-feira é o pior dia da semana, melhor o ritmo de espera ansioso do que a angústia de uma nova semana, recomeçando e reorganizando o que não pode ser organizado.
A vida.
Ela tem seu ritmo e sua pulsação. Ou se vibra em sintonia, ou fica-se eternamente querendo entender o que não tem explicação.
A vida.