Ensaio sobre a paixão e o amor pt. II
Quem anuncia estar apaixonado
Breve deve ser curado
Desse mal fatídico que nos fere o lado.
A paixão nos cega como a bruma pálida
Que açoita as madrugadas
Privando a visão, remetendo-nos ao nada.
Lançando-nos ao chão, destruindo a morada da alma:
O coração.
A paixão é egoísta, vaidosa, faz nos perder a vista
Da real importância do ser, o verbo autoritário é “ter”
“TER” a qualquer custo, apunhalar-nos as costas ao susto
A paixão é orgulhosa, aos olhos dos outros é o que importa
É ela irmã torta do amor sublime
Quem está apaixonado perde todos os sentidos:
Treme; aos ouvidos o zumbido ecoa, a boca, torna amarga e seca
O coração a toa que nunca aceita perder, nem ter por merecer
A paixão gera o medo da descoberta dos segredos
Da alma e da mente
Senhores; quem está apaixonado mente! Sobre a plenitude de todas as verdades.
Muito de vós discordarás ou até duvidarás da sanidade do poeta, de sua excentricidade
Ao julgar a paixão de um modo um tanto cruel, mas eis que tenho o papel de defender
Aqui o puro amor ao qual acredito e assim insisto em provar que o mesmo é raro, mas ainda existe:
Vejam a comparação entre o amor e as paixões só assim entenderão e passarão a não duvidares disto, percebendo suas falhas, se tens paixão canalha:
-A paixão faz homens jogarem pássaros de aço em grandes construções no asfalto,
Matando centenas, mães com filhos nos braços, rompendo de suas entranhas o laço.
-O amor constrói pontes com os tijolos da esperança e mesmo na doença o amor não cansa.
Em fazer amena a dor de quem sofre e ama, mesmo na agonia de uma cama, a alma é serena, pois o amor a conforta.
-A paixão é torta, faz bombas, faz intrigas, é a mãe de todas as brigas, ela confunde os sábios: “É amor ou ódio?!” – É paixão!
Sentimento confuso, com orgulho e egoísmo fundido; é a donzela que duvidas da lealdade do marido e pranteia sozinha na sala escura carregada de pratarias e veludo.
A paixão é dura, mas há cura se convertida ao amor real.
-O amor é pleno, alvo, confiante. É um velho viajante que perambula pelas ruas oferecendo abraço terno, afago, brilho nos olhos e segurança.
Amor é riso de criança, choro doce de infante, o amor é incessante
Por todas as vidas que se possa viver neste ou em outro planeta.
O amor é um brilhante cometa que viaja as galáxias do ser.
Enquanto a paixão emborca carros, lança ao alvo grandes armas, divide a raça em credos, que já não mais crêem em nada, que deixam feridos na estrada e idosos em asilos.
A paixão magoa, fere; seu filho chama-se ciúme, não há quem se acostume ao seu modo errôneo de sentir.
É queda do mais alto cume adentro ao precipício.
O amor é mais que isso.
É pleno como o vento da primeira manhã, doce como o cheiro da lavanda, o amor entra em ciranda com a harmonia do mundo, do ambiente.
A paixão é demente, um cantar renitente e cacofônico aos nossos ouvidos. É a prece não escutada, o desejo do tudo ou nada, a mãe de todas as cadeias.
O amor é como se fosse uma teia, que nos prende nos faz seguro.
Nos motiva no labor com alegria, quem ama então que sorria, pois desfruta do maior dom do espírito.
O amor é infalível, por sua causa existe os instrumentos musicais, da flauta ao rufar dos tambores, a comédia e todos os valores, do arcaico à tecnologia, para tornar mais proveitosos os dias e mais românticas as noites.
Para o amor não há distancia, pois o mesmo é do tamanho dos mundos, não há metría, é profundo, o amor supera tudo, faz os gritos tornar-se mudos.
Paixão é ciúme que é orgulho e egoísmo.
Amor é nada disso,
Cura a dor e alivia o sofrimento, sem rancor e sem lamento, traz alento.
Como o grande mestre já dizia: “Amarão seu semelhante todavia.”
Eis o grande mandamento.
Foi pela paixão que Lucius caiu
Por seu modo de pensar tão vil
De querer nos proibir de amar
De escolher ser e estar
De nos obrigar a conjugar o verbo orgulhoso “Ter”
O verbo rude da paixão que nos condena, pois amar, isso vale a pena.
O amor nos eleva mesmo a alma pequena.
Se amas estarás sempre em festa
As dificuldades da vida serão apenas detalhes do caminho
Pois quem ama o amor sublime
Jamais se encontrará sozinho.
(Carlos Vangiersehn)