Velocidade da idade.
Foi tudo muito rápido. Lembro de ter desejado acelerar e consegui. Mas, não percebi o feito. Ou seria mal feito?! Eles chegaram a minha frente e não teve como negar, como os tantos amores, que aconteceram nesse meio tempo, como os erros e acertos, estes bem mais numerosos. Lembro da época em que ter 18 anos parecia a assinatura de algum tipo de alforria... Ledo engano de um ingênuo, hoje, findo. Eram 30 no total e todos a minha frente. Os 30 anos de idade chegaram com toda a força e sem nenhuma cerimônia sobre mim.
Os 20 anos acabaram?! O que devo fazer agora?! A próxima década será a dos 40. Estou preparado para ser um homem maduro, se já não o sou?! E esse fio de cabelo branco na cabeça e na barba que têm aparecido?! Eles fazem parte do pacote do pique já não tão infindável nos finais de semana, os quais eram regados às baladas, sorriso, copos e corpos de felicidade?! E todas essas perguntas?! Já não eram para ter terminado no último apagar das velas?!
Desde o aniversário anterior, vinha amadurecendo e aceitando – não é uma tarefa simples para o pensador aqui – a idéia de mudar de década assim... Tão “prematuramente”. No fundo, bem lá no fundo de minhas divagações e intimidades que não admito na frente do espelho ou no escuro do meu quarto com a cabeça sob o travesseiro, estava elaborando um tipo de análise dos pontos positivos deste momento crucial, que é um final e um recomeço ao mesmo tempo.
Os 20 anos se foram. Aproveitou-se, ok. Senão, se ferrou, cara! Foi assim: num zunido! E sabe de uma coisa?! Valeu muito à pena. Valeram os acertos, os erros, as pessoas, as que se faziam de pessoas e cada risada. Por que, no final, a gente ri. E ri com todos os dentes para mostrar que foi marcante. E se chora também. Por que as lágrimas se jogaram de maneira nada econômica nesse rosto tratado já com creme antiidade. Chorei de felicidade. Chorei por portas fechadas. Chorei por portas abertas para o convite de minha saída. Chorei por ter saído. Chorei por ter chegado a um lugar novo. Chorei por recomeçar. E, hoje, choro por não acreditar no que estou construindo.
Definitivamente, meus 20 anos não foram nada água com açúcar, um filme de “Sessão da tarde” feito para intervalar duas novelas chatas. Não os meus 20 anos! Não troco a minha sabedoria pela de muitos homens de 40 anos que pensam ingenuamente poderem me passar para trás. Não essa pessoa aqui! Vivi. E fiz um bom uso de cada segundo, pois estou aqui, sou um sobrevivente das mazelas contidas intrinsecamente nos amores feitos por lanços de sangue, estes eternos feliz e infelizmente.
Queria dizer que minha carreira foi o maior dos problemas. Que a escolha diferente da maioria me fez, ou menos ainda, me faz sofrer; que o mercado de trabalho me trata mal ou que as perspectivas me tornam um tipo de fracassado precoce por não ser permitido sonhar. Mas, isso seria a maior das mentiras. A carreira vai bem, avançando em passos largos e seguros com reconhecimento, talento e muita paz por estar envolvido em coisas tão produtivas, positivas e que proporcionam um mundo melhor para muitas pessoas. O que me traz problemas mesmo é o amor.
Para falar do amor e dos 20 anos preciso voltar aos 15 anos, quando “oficialmente” entrei nesse mercado perigoso, injusto, volátil e viciante. Há 15 anos busco uma coisa que sei exatamente o que é, mas sempre me escapa entre os dedos. Se errei?! Lógico que errei. Se erraram comigo?! Muitas vezes. E como doeu... Nossa... Cada atrapalhada me meti, às vezes, literalmente. Cada coração mal resolvido que me apareceu. Cada olhar brilhante e contente me foi apontado com o mesmo efeito perigoso que uma arma.
Esse foi o grande cerne dos 20 anos: amar. Quem amar, como amar por que amar, quando amar e parar de amar. E onde se leu vírgula, substitua por lágrimas e sorrisos não necessariamente nessa ordem. O que restou no final de tudo?! A pessoa que relata aqui. Ela: dona de si, na medida do possível; empoderada de seu mundo, na medida do possível; e que tenta se convencer, ainda assim, na medida do possível.
Assim vejo a chegada dos 30 anos: o fim dos 20 anos embebido de uma sensação de dever cumprido. Que dei o meu melhor, me joguei, procurei fazer a diferença, que errei muito menos que acertei, que... Sobrevivi. Por que ou se envelhece ou se morre. Não há escolha diferente das duas. E não me interessa nenhum pouco a segunda alternativa. Cada olhar, cada pessoa me provoca sentido em estar vivo, em querer mais uma dose de vida e brindar muito mais.
Mas, agora, falemos dos 30 anos. É possível fazer planos? Imaginar como estarei em 2, 4 ou 7 anos à frente?! Estarei aqui, lá, acolá, solitário, acompanhado e por quem?! Não me prendo mais aos planos muito engessados. Já fiz isso nos 20 anos. E as coisas mais improváveis, as surpresas me fizeram muito feliz. Como quero chegar num lugar que não sei onde fica. Louco?! Que nada... Sou um menino ainda sonhador com 30 anos, embora as rugas me desmintam até certo ponto. Digo que, muitas delas, vieram por sorrir aos quatro ventos, não apenas no choro triste e solitário. E meus inúmeros amigos são testemunhas do que conto. E pode derramar mais vida em mim que ainda não deu.
A vida tem acontecido de um jeito tão improvável, megalomaníaco e intenso que não me atrevo a pedi-la nada mais. Desculpe... Retiro parte do que falei. Peço uma coisa sim. Peço amor. Peço – se é que se pode pedir isso – que me amem. Que se joguem como me jogo na vida, suas sarjetas, seus pódios, suas filas chatas e passarelas. Quero vestir meu melhor sorriso todos os dias e ficar desnudo do juízo diante do meu amor, aquele que me acaricia, me tira do sério e da rotina. Quero o amor por inteiro a partir dos 30 anos! Quero o pacote completo de um amor desvairado, intenso, profano e santificado na sua pureza. Nada mais de estórias... Chega de sonhar e que os platônicos se afastem de mim! Estou passando cheio do mundo e de suas besteiras. Mas, cheio de mim, de meus desejos. Com licença e muito obrigado. Cheguei lá. E, daqui, ninguém me tira. São 30 anos de vida brindada com e para o amor.