UMA VIAGEM ESPECIAL AO MEU REINO.
(ID)
Será uma tentativa de acessar, se possível, os caminhos que possam me levar aos escaninhos mais secretos de mim mesmo.
Estou me referindo ao “Id”, a parte mais profunda da psique, receptáculo dos impulsos instintivos e primitivos, dominados pelos princípios de prazer e pelo desejo impulsivo.
Por isso, pretendo realizar esta viagem, na verdade um questionável evento, entretanto, de antemão, não sei o que vou encontrar nesta aventura audaciosa e louca.
Isto é uma vontade do meu “Ego”, mas como o considero de certa forma muito superficial, prefiro tentar esta viagem maluca, ao centro de toda a complexidade do ser humano.
Talvez, ali, eu encontre as respostas para os meus questionamentos que não são poucos.
É bem verdade que não utilizarei nenhum veiculo, seja físico ou hipnótico, simplesmente o esforço da minha vontade que se parece indomável e pretensiosa, talvez teimosa.
Decididamente estou preparado para fazer esta exploração sem, contudo, estar devidamente preparado para conhecer os mistérios com os quais provavelmente irei me deparar.
Como dizia Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”. Eis o meu afã!
Para essa empreitada introspectiva é muito importante a presença de uma música suave, para que me sirva de condutor nessa meditação profunda.
Ela é como um canal mágico, um túnel melodioso que nos leva às reminiscências, numa terapia que entorpece a alma e vislumbra todos os anseios contidos no inconsciente.
Como quer inferir a palavra “meditação”, eu vou exatamente “me editar” e tomar conhecimento de tudo aquilo que está impresso no meu inconsciente, e que de vez em quando aflora para o meu consciente.
Essa transposição do inconsciente para o consciente, geralmente se processa através dos sonhos.
E como se trata de símbolos ou imagens adquiridas, o meu consciente não sabe desvendá-los para uma compreensão total.
Apenas os recebe de modo estupefato, pensando tratar-se de enigmas sem importância.
Por isso, farei esta viagem em estado de vigília, se puder é claro.
Por falar em inconsciente, eu sei que nesse substrato metafísico da psique, no seu mais profundo e misterioso âmago que os psicólogos chamam de “Id”, existe muita coisa gravada que os próprios psicólogos chamam de “Arquétipos ou Janelas Killer”.
Arquétipos são símbolos ou imagens que no decorrer da vida foram agregados silenciosamente no meu inconsciente.
Quer me parecer que tudo se processou sem o conhecimento do meu consciente propriamente dito, mas segundo me consta ele também foi o veículo porque de outra forma isso não teria ocorrido.
Essas vinhetas da vida são gravadas em formas de símbolos ou imagens, e que com o processo da própria vida, eles afloram ao consciente, mas muitas das vezes o consciente não entende esses símbolos ou essas imagens.
O inconsciente é a “caixa preta” deste aparelho super complexo que é o ser humano.
Nela fica quase tudo impresso, o que aconteceu, o que acontece, e talvez o que vai acontecer em nossas vidas.
Pelo que tenho conhecimento, nem tudo fica impresso lá.
Quero crer que apenas fica chancelado aquilo que nós consideramos, de certa forma, tratar-se de enigmas que apenas nos impressionaram de certa maneira ou aquilo que detestamos em nós.
Acredito ainda que esse processo se dê dessa forma para que, num futuro mais propício, venhamos a entender o que ali ficou impresso.
É lógico que isso só pode ser mais ou menos desvendado, quando realmente alcançarmos certa completude existencial, mormente com o auxílio de alguém devidamente credenciado nessa área.
Tenho feito muito esforço intelectivo para adentrar neste arquivo secreto de mim mesmo, essa caixa preta do Id totalmente enigmática, mas os meus esforços são infrutíferos.
Ocorre-me ser a civilização com o seu progresso, bem como as religiões com os seus dogmas e até as crenças, responsáveis por esse estado de coisas que nos introjetaram e, de certa forma, nos obstaculiza para um entendimento.
Aqui também não podemos nos esquecer da educação familiar que tivemos, e de certos valores que a sociedade nos inocula.
Muitas das vezes acertadas, mas muitas das vezes equivocadas.
Também acho muito responsável que essas gravações sejam adquiridas através de alguma admiração profunda ou, de algum deslumbramento por mim efetuado ou vivido.
Isso ocorre quando me deparo com algo que transcende a minha própria capacidade de inteligir, e diante do magistral e do incognoscível, esse deslumbramento fica como que assoreado no meu inconsciente, mas ignoro totalmente que tipo de símbolo ali ficou estratificado.
Um depósito existencial para num futuro desdobramento, poder reger e formar a minha personalidade e questionar os meus próprios mistérios.
Seria bom para o meu entendimento, fazer aqui, uma menção ligeira ao Dr. Freud e ao Dr. Jung.
Afirmava o Dr. Freud que aquilo que é impresso em nosso inconsciente, provém de desejos reprimidos na infância, como também os impulsos sexuais através da libido.
Para o Dr. Jung, a libido é uma forma de energia motriz psíquica, e não somente e exclusivamente uma energia da sexualidade.
E que todos os instintos são movidos por essa força, tais como: a fome, a preservação, o medo, o amor, o ódio, o sono e etc inclusive, o sexo.
Dizia Jung que: “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou”.
Tudo o que nele repousa aspira e torna-se acontecimento.
Prosseguindo diz o eminente psicanalista: “O arquétipo é um órgão psíquico presente em cada um de nós, um fator vital para a economia psíquica”.
Mais adiante afirma o Dr. Jung, Psicólogo e Psiquiatra, que: “cada vida é um desencadeamento psíquico que não se pode dominar, a não ser, parcialmente”.
Diante do acima exposto e por não deixar de acreditar no cientista acima, fica claro que me falta conhecimentos específicos (ferramentas), para poder acessar essa sentina psíquica.
Na verdade, um verdadeiro escaninho, onde estão depositadas todas as impressões adquiridas em forma de arquétipos, que foram gravadas durante o processo da minha própria vida.
É bem possível, mas não é de todo provável que haja no inconsciente alguns vestígios ou resíduo vivenciais de vidas passadas. Quem saberá?
Mas, eis que me surge uma pergunta! Se a vida é minha, como eu não posso entrar nesse recanto enigmático?
Outra pergunta:
Será que esse processo só é possível com o apoio de algum especialista nesta área?
Que, por certo, me faria um trabalho de hipnose ou quem sabe, uma espécie de regressão, levando-me ao fundo do meu inconsciente até chegar ao Id.
Realmente não sei se isso será possível, todavia, gostaria de me submeter a esse tipo de tratamento ou apoio psíquico para, satisfazer essa minha vontade que é realmente um desejo há muito pensado.
Diz ainda o Dr. Jung que: “os princípios de todo o tratamento da alma (psique) devem ver-se no seu protótipo, a confissão”.
Por certo, essa confissão deva ser feita a um psicólogo, psiquiatra ou psicanalista, pois do contrário, acho que não seria compreendido por uma outra pessoa fora dessa área.
Pelo que devo estar entendendo, esta confissão deverá ser feita a um especialista da área, pois somente eles têm compreensão desses problemas psíquicos.
Um estranho somente me traria e me causaria maiores problemas.
Como não conheço algum psicólogo ou psiquiatra pelas minhas imediações, por certo, que eles existem em centros maiores, e como é uma atividade elitista, por conseqüência, é de um alto custo.
Assim sendo, ao pobre restam duas alternativas: uma é o padre em seu confessionário, um psicanalista gratuito, e a outra alternativa é o bar e um amigo que nos suporte após algumas doses etílicas.
Resta-me prestar atenção nos sonhos, eles ainda são os veículos que me levam diretamente à psique.
Pelo menos, eu sei que é de lá que eles vêm.
Pretendo analisar cada sonho que tiver e ver se encontro alguma conexão entre eles.
E pelos conhecimentos que tenho deles, e pelo que tenho lido a respeito, há um componente sempre igual e que se repete nos sonhos.
A dificuldade em descobrir esse componente ou esses componentes, é que, eles se apresentam como símbolos ou imagens e quase sempre são desiguais.
Deve haver uma forma para descobri-los, se eles existem devem ser descobertos, porque senão a minha vida passa a ser apenas um enigma sem sentido.
Vou estudar com mais afinco a psicologia e ver principalmente a questão dos arquétipos, e porque eles se agregam com tanta facilidade em meu inconsciente.
Pelo menos isso eu deverei saber.
Pois só assim saberei, de certa forma, o que eu devo deixar ficar gravado em meu inconsciente.
Se isto for possível farei uma reciclagem em minha psique e, nessa ocasião, arrastarei para fora de mim o indesejável.
Fazendo com que ali fiquem tão somente as coisas boas e construtivas ou positivas, porque não dizer somente as inefáveis?
Se o meu psiquismo sempre tender a uma evolução, não vejo sinceramente dificuldade num futuro evolucional em torná-lo “Divino”. (Pierre Chardin).
Que Deus me perdoe, mas não vejo outra saída para o ser humano.
Quem mandou Ele nos criar a sua imagem e semelhança?
Vamos imitá-Lo, pelo menos pretendemos.
E com toda a evolução que ainda alcançaremos, por certo, um dia, chegaremos até Ele.
Será o finito tendendo para o infinito?
Impossível?
Veremos!
Não estamos aqui por acaso, somos peças essenciais no processo Divino, agora temos que somente dominar o próprio universo, pois foi para nós que Ele o criou.
Se Deus está em mim por meio de um arquétipo, tudo me leva a crer que eu sou parte dele e, se assim for, é mais fácil acessá-Lo.
Primeiro devo eu mesmo me conhecer, para depois me propor a conhecer o restante.
Pretendo me reciclar e me projetar para vôos mais profundos.
Não quero ultrapassar horizontes, sem primeiro conhecer os meus próprios limites e o meu pequeno horizonte.
Como dizia Jean Paul Sartre, “O homem está condenado a viver em liberdade” e eu vou usá-la.
Quero entender que não é somente a liberdade de “ir e vir”, mas também toda a liberdade de pensamento que seja proposto pela razão durante a vida.
Pensar é transgredir diz Lia Luft.
Pensar não é pecado, pecado é um ato cometido contra nós mesmos, contra o nosso próximo e contra a natureza.
Transgredir é ultrapassar e superar as barreiras que, nos foram imposta por ignorância ou simplesmente por pré-conceitos que também é um produto da ignorância.
Somos um animal racional pensante, contudo, o homem é um animal doente, já dizia Friedrich Nietzsche.
Acho que pensar sobre a própria existência não seja uma doença, acho que o homem deve, acima de tudo, é querer pensar, pois pensar é uma conseqüência do querer.
Não quero fugir do assunto a que me propus inicialmente e também não quero tergiversar sobre este mesmo assunto.
Devo sim, procurar entender melhor os arquétipos para que, eu possa me aprofundar mais nessa complexidade do inconsciente.
É o que eu vou fazer daqui por diante, e futuramente darei continuidade a este trabalho um tanto ousado, mas muito palpitante.
Consultando com maior profundidade os psicólogos e os parapsicólogos, encontrei assunto suficiente para melhor entender o que se passou comigo, o que ainda está se passando e o que ainda vai se passar.
Não sei se o identifiquei bem, mas o interessante é que nessa viagem existencial, me deparei com maior clareza e com um estado permanente em mim de uma sensação enorme de culpa.
Realmente deixando o passado ressurgir em minha vida, aflora com muita facilidade esse sentimento quase um incômodo, que o identifiquei como uma culpa e, desta forma, o vivo tratando como o meu inferno todo particular.
A maior culpa aqui é dos ensinamentos religiosos anacrônicos introjetados, pois o Clero chega a dizer que eu carrego o castigo e o pecado de Adão.
Santo Deus!
Que loucura teológica!
Agora estou identificando nesse inferno, a presença de mais um arquétipo, que os especialistas da área o chamam de “sombra”.
Entendi também que esse arquétipo da “sombra”, nada mais é senão do que toda a impressão da minha vivência que não foi satisfatória e que eu não gosto. E por ter sido assim, eu a reprimi em toda a minha existência.
Sufoquei-a, porque não me era conveniente viver com ela.
Normalmente esse arquétipo da “Sombra”, eu transfiro para as pessoas que não me são simpáticas.
Não sei o porquê disso, mas talvez seja uma descarga do inconsciente, querendo se ver livre de uma coisa que não gosto em minha personalidade.
Hoje ela se me apresenta como culpa, carrego essa cruz chamada sombra, como algo que não foi assimilado ou bem aceita pelo meu consciente, é lógico que a sufoco ou transfiro.
E assim, ficou no meu inconsciente dormitando para num futuro aparecimento exigir uma solução ou um remanejamento, a fim de limpar esse débito contraído para que ele não mais obste a minha existência.
Eu fui casado por três vezes, por certo, acumulei essa “sombra” no decorrer desses envolvimentos.
Pois deles originaram seis filhos que me trouxeram sérias e amargas culpas e um remorso que muito me martirizou durante esses anos.
Foi um processo lento, horrível, pesaroso, e eu ainda não entendi perfeitamente porque isso teria que se processar assim na minha vida.
Deve haver alguma razão ou um arquétipo no meu inconsciente, que foi depositado na minha infância ou em vidas passadas, e que me arrojaram nessa volubilidade matrimonial.
Entretanto, não acredito na culpa dos arquétipos, acredito sim na falta de experiência e na empolgação passional, mesmo porque ela é totalmente efêmera.
Pois na minha vida, eu acho que acumulei muitas coisas que vieram mal vivenciadas e desfecharam esses eventos na minha juventude e na minha vida adulta.
Na minha vida familiar, profissional e religiosa, acumulei também muitas sombras, pois hoje ainda penso que poderiam ter sido diferentes, mas em virtude da batalha em que se vive pela sobrevivência, não foi possível ter muitos escrúpulos de consciência.
Foi vencer ou vencer!
Vence o mais apto, o mais inteligente ou o mais astuto, foi assim que aprendi.
Atualmente já estou me equacionando com esses arquétipos da sombra, pois agora nessa idade madura, eu tenho condições de fazer calmamente a minha individuação, uma busca silenciosa pela minha completude existencial.
De certa forma, acho que tudo isso que ocorreu comigo foi inevitável e necessário, pois esses valores, esses arquétipos ou esses eventos inconscientes, serviram para moldar, enrijecer e enobrecer a minha personalidade.
Eu era muito expansivo, comunicativo e extrovertido, e esses valores muito me ajudaram na vida.
Muitas pessoas achavam que eu era um tanto irresponsável, mas essa foi uma forma que encontrei em driblar os meus próprios questionamentos, sem me importar com o que estava realmente acumulando em minha caixa secreta.
Agora de posse de todo esses contextos que foi proposto em minha vida, eu tenho com toda a segurança que esses eventos ocorridos formaram a minha vida psíquica.
E que dela aproveitei aquilo que para mim achava melhor.
Por isso, eu não acho que a culpa tenha sido tão grande assim, foi um produto da minha escolha, da minha liberdade e daquilo que eu realmente entendia ser o certo.
Portanto, nada mais devo acumular como sombras ou culpas, simplesmente aceitar que foram conseqüências normais de uma vida que assim se projetou.
Não devo em hipótese alguma me culpar ou culpar os outros, que comigo, concorreram nessa existência.
Pois assim foi vivida, assim foi encarada e se não deu resultados positivos foi porque não soubemos administrar os nossos conceitos de vida.
As oportunidades surgiram.
Foram aproveitadas e, de certa forma, bem vividas, entretanto, não prosperaram e não tiveram o êxito esperado, fica aqui chancelado que houve um desencontro de sentimentos.
Amor com certeza houve o que não houve foi continuidade, em virtude de disparidades nos propósitos e nos projetos de vida.
“Todo homem leva o céu, bem como inferno consigo neste mundo”. Jacob Boheme.
Eráclito.