Massacre
Há poucos dias o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional a Lei nº 11.738/2008 que fixa o piso nacional dos professores.
Foi proposta uma Ação Direta de Inconstitucionalidade pelos governadores de MS, PR, SC, RS e CE, com fundamento, entre outras alegações, na dificuldade orçamentária para dar cumprimento à referida lei.
Há ainda governador que afirma que a obrigatoriedade de aplicação da lei aumentará os gastos públicos em milhões de reais.
Sem ter a pretensão de discorrer acerca de direito financeiro e orçamentário, lembro que salário de servidor público em geral e de professor em particular se trata de despesa de custeio.
Porém, despesas em educação (aí incluída a formação e atualização do professor, bem como remunerá-lo dignamente e dar-lhe condições para o exercício dessa verdadeira profissão de fé) deveriam ser consideradas como despesa de investimento, investimento no futuro do país.
Não podemos nos esquecer que todos nós, administradores, advogados, economistas, empresários, engenheiros, médicos, políticos, publicitários etc, tivemos professores que, no mínimo, ajudaram na nossa formação, para não dizer que foram essenciais, embora há quem defenda que um aluno quando é bom, assim o é com professor, sem professor e apesar do professor.
Mais recentemente, no dia 6 de abril de 2011, mais uma tragédia se somou a tantas outras, um massacre em uma escola pública da cidade do Rio de Janeiro e aí mais uma realidade se mostrou: a violência, que nesse caso específico, atingiu primeiramente as crianças e adolescentes, depois seus familiares e a seguir a cidade, o estado, o país, o mundo, deixando consternados todos nós que tivemos acesso à informação, em todo o planeta.
Não se cuidará aqui da análise desse episódio lamentável e emblemático, mas sim de mais um aspecto que aflige, nos tempos modernos, o professor: a violência.
Antes, contudo, deve ser registrado que um dos professores, na tentativa de proteger a si e seus alunos, usou a criatividade para criar uma ilusão de ótica: amontoou mais de quarenta cadeiras atrás da porta e escondeu os alunos e assim, diante da dificuldade de ingressar na sala e por achar que estivesse vazia, o atirador foi em direção a outra sala de aula.
Existem muitos relatos de violência contra o professor, embora não se tenha dado a devida atenção pela sociedade de modo geral. Existem diversos modos de a violência se manifestar, mas o resultado é um só: perdemos todos nós.
A agressão pode ser física ou verbal, pode haver também a ameaça contra a integridade física do professor, de perda do emprego. Às vezes há muitos interesses que se rebelam contra a figura do professor: a de alguns pais ausentes que não cumprem seu papel de educar seus filhos, de criminosos que não querem ter prejuízo em seus negócios, com a diminuição do número de eventuais consumidores ou da mão-de-obra, pois alunos, bem orientados por professores preferem seguir o caminho do bem.
Quando um professor é ameaçado ou agredido por quem quer seja fica tolhido na sua missão de transmitir conhecimento.
Remunerar mal um profissional que tem a sublime missão de ensinar, não investir na sua formação e atualização e não lhe dar as condições adequadas pode ser considerada uma violência.
A queixa não é exclusiva de professores do ensino fundamental ou médio, é também de professores dos cursos superiores e de pós-graduação.
Existe uma intenção de valorizar o professor que deve ser aplaudida e mostra exemplos de diversos países desenvolvidos que valorizaram a educação como forma de evolução.
Sempre me lembro de um depoimento do Deputado Federal Ulisses Guimarães que, em visita a um país europeu, foi tratado com uma honraria que se deveu não ao fato de ser o presidente da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil, mas por outro título que possuía: o de professor.
Lembro-me também que, recém-formado, recebi uma proposta de trabalho para lecionar na escola em que me formei e que foi devidamente recusada, o motivo? O dono da escola ofereceu como remuneração ¼ (um quarto) do salário mínimo à época.