O "harthistha" plástico
Um belo dia na minha cidade de interior, eu passei a observar uma placa de propaganda em um barzinho, onde se anunciava a venda de cigarros.
Na plaquinha havia um maço desenhado, muito vendido na época. O cigarro era o "Hollywood".
Me chamou atenção um maço com 40 unidades, porque em uma abertura era mostrado l9 cigarros, e havia a parte separada pelo sêlo, que era justamente a outra parte, intacta.
O autor daquela obra prima se chamava "Chiquito pintor", ou "Francisco o cobra". Sempre desenhava uma cobrinha, que era a sua marca registrada, no final da obra.
Aquele maço de cigarros com 40 unidades ao invez de 20, me tornou um espírito critico sobre a pintura.
Não sei onde o chiquito estava com a cabeça, não sei onde ele foi arranjar tanto cigarro para sair naquela abertura!
Mas como julgar um pintor do interior, sem curso algum de pintura, tentando ganhar a vida no grito, ou com os pinceis?
"Chiquito, onde quer que voce esteja, voce está me devendo uma explicação!"
Estive outro tempo atrás em Vitoria, e fui visitar uma exposição de um artista capixaba, na Igrejinha de Santa Luzia, na Cidade Alta.
Aquela igrejinha antiga centenária varias vezes, pela sua intensa simplicidade, acalenta o meu coração, até porque sou devoto de santa Luzia, como meus pais e meus avós.
Se alguem quizesse fazer daquele lugar um espaço para exposições de arte, deveria colocar ali o que existe de mais belo, afinal, santa Luzia é a protetora dos olhos.
Deveria se colocar ao seu olhar aquilo que é realmente muito bonito, como uma maneira de louvar a santa maravilhosa.
Naquela tarde eu fui e saí da capelinha santificada, profundamente infeliz.
Havia a exposição de um harthistha plástico que não me lembro o nome. Sujeitinho pedante e de nariz levantado, próprio das criaturas pequenas que não reconhecem a sua insignificancia.
Nunca dei importancia ao artista plástico, e ele tambem nunca deu importancia a mim, então estamos empatados, ninguem tem que reclamar!
Não dou importancia mas respeito. O artista tem que ser respeitado, e acima de tudo, respeitar, pois acredito que uma obra de arte só se mantem se ela respeitar os olhos do admirador. O artista tem que respeitar o povo!
Observei naquela tarde algumas pessoas olhando o Harthistha
e a obra do harthistha.
Ele estava ao lado de uma bela jovem, esfuziante. Parecia uma "ave do paraíso". Se achava o maximo.
Observei algumas pinturas sem objetivo, e ao lado de um painel, aquilo que eu presumo sua obra prima: "Um tronco de eucalipto enrolado por arame de cerca".
Aproximei-me do harthistha e humildemente lhe perguntei o que significava a suprema invenção. Ele olhou-me de cima para baixo e com o narizinho la nas nuvens, me deu a resposta mais que óbvia:
- Isto aí é uma reflexão!
Ponderei, uma reflexão sobre o que por exemplo?
- Uma reflexão é uma reflexão, é uma reflexão, é uma reflexão!
"E se escondeu no reflexo resplandescente da propria luz!"
Olha, tive uma vontade incontrolável de mandar ele enfiar aquele rôlo de arame farpado na bunda, mas estava na capelinha de santa luzia, e um poeta genial ja havia dito que um poema é um poema, é um poema, é um poema, como vou discutir sobre uma reflexão?
Todo mundo tem o direito de querer ser artista, pôr e expôr o seu trabalho, mas ter auto-crítica.
A Capelinha de Santa Luzia não merecia aquilo!
E aquele homenzinho vai morrer me devendo uma apresentação!
A Santa no altar, algumas flores e os devotos, é quanto basta para aquele lugar sempre ser um cantinho abençoado.
Longe, bem longe das vaidades e imperfeições humanas!
- Ao verdadeiro ARTISTA Plástico -
"Que traz a beleza, que é a luz do mundo"
Santa Luzia, abençoai!