PROPOSTA DE TEMA PARA UM ENSAIO

Em muitas ocasiões há quem deixe de ser pessoa, ficando apenas espaço para ecos alheios.

O que se acaba de afirmar é, na verdade, o mais absoluto contrassenso. Se toda pessoa é persona, e persona é sinônimo de máscara, quando alguém se torna somente espaço para ecos alheios é que se encontra despersonalizada,isto é, sem máscaras, logo, é quando se torna espaço disponível para a criação-aparição de uma outra, talvez de uma verdadeira si-mesma.

Apenas que, este espaço de ecos alheios, espaço onde “alguém” sem máscara, isto é, despojado e nu do falso si mesmo (que existe porque sob máscaras), possa vir a tornar-se outra espécie de ser, verdadeiro porque sem máscaras (se é que seja possível existir este ser), tal espaço-eco é múltiplo e por ser múltiplo é nenhum, logo, nunca um lugar único para “alguém” vir a se tornar qualquer outra coisa para além de personagem de si mesmo para si mesmo e para os demais seres, já que a condição de lugar nenhum institui uma impossibilidade total para o surgimento de qualquer ser individual de espécie nova ou velha, pois, qualquer ser só pode existir em um lugar que é. Em resumo: se não há lugar, não pode haver o ser.

Como se pode notar, tudo o que veio sendo formulado até agora não passa de construto de absurdo absoluto ou de construto de relativo absurdo, ou mesmo mera sequência de sofismas, como prefiram os caríssimos leitores que estejam a ler a presente inútil proposta, proposta de um louco, para tema de ensaio a ser escrito por algum outro louco que se disponha a essa empreitada, a empreitada de, por sua vez, vir a propor alguma saída, ou prolongamento para a presente rua-sem-saída aqui devida ou indevidamente exposta.

Publicação no finalzinho da manhã de 16 de agosto de 2011.