O LOBO.
Se, em toda mulher reside uma serpente dormida em seu inconsciente como um arquétipo, e que lhe foi imposta pelo Criador, o mesmo acontece com o homem, pois ele tem gravado em seu inconsciente de forma bem alerta um lobo faminto e destrutivo.
No século XVI, Tomás Hobbes, um empirista nascente, já dizia que o homem é lobo do próprio homem.
E defendia a idéia de que o estado primitivo do homem era o de: “bellum ominium contra omnes”, isto quer dizer: “guerra de todos contra todos”.
Longínqua e milenar é a luta existencial por afirmação entre o lobo e a serpente, com a diferença de que, a serpente só agride quando é atacada e o lobo agride em qualquer circunstância, ele é instintivamente agressivo.
Existe uma diferença muito grande entre esses dois animais perigosos.
A serpente é traiçoeira, ardilosa e está sempre de tocaia, basta apenas um suposto movimento agressor para que ela ataque.
Mas o lobo por sua vez, ataca de frente sem um motivo aparente de agressão.
Nele, o instinto de agressividade é congênito, ele é um animal predador por excelência.
O homem tido nessa prosa como lobo, ainda conserva em seu inconsciente o instinto da lei das selvas, isto é, o instinto da sobrevivência e, como tal, agride em todos os sentidos porque possui em si a controversa supremacia.
Pensa ainda que esteja determinando o seu território, como faziam os seus ancestrais.
Todavia, de certa forma, ainda determinam o seu espaço, mas não um território geográfico, mas sim, o domínio do seu ego insatisfeito que não tem limites.
O homem para levar ao final o seu intento não respeita fronteiras e nem companheiros da mesma espécie.
Vive uma luta constante e insana para a consecução dos seus fins e, isso o leva, a ser considerado um animal sumamente egoísta.
Para o homem os meios justificam os fins, por isso ele é essencialmente maquiavélico, esse tem sido o seu comportamento ao longo da história e da própria evolução da humanidade.
Segundo quer me parecer, a humanidade evoluiu alicerçada no amor exclusivo e excessivo de si, implicando na subordinação do interesse de outrem ao seu próprio.
Todas as resoluções e ou atividades exercidas pelo homem são notoriamente de caso pensado.
Esse animal racional projeta os seus anseios e parte em busca deles.
Mesmo que seja necessário pisar sobre o seu semelhante, sem o mínimo escrúpulo de consciência.
Assim sendo, ele se transforma num demiurgo ensandecido e calculista quando deseja algo.
Normalmente, o homem tem uma ânsia pela posse.
Para ele, vale mais a pena “ter” do que “ser”, infelizmente, a maioria se comporta nessa práxis de vida.
Em que, o ser nada lhe diz nada lhe traz, o ter está acima de tudo e, nessa tendência louca, naturalmente se transforma num perfeito idiota.
Quase sempre morrendo nas garras da usura, mas muitas das vezes acaba na mais vil das misérias como o pior dos homens.
O materialismo é a única doutrina que encontra ressonância nesse tipo de homem, tido como “Homo Sapiens”, não sabe ele que o materialismo já morreu por falta de matéria.
O materialismo histórico é a doutrina do marxismo que, afirma que o modo de produção da vida material, condiciona o conjunto de todos os processos da vida social, política e espiritual.
A matéria propriamente dita não é matéria, não existe, a nossa percepção é que a vê assim, mas, na realidade, o que existe é uma forma de energia condensada. (Albert Einstein).
Somos materialistas, propriamente, sem matéria.
Friedrich Nietzsche (1844-1900), após vários anos de introspecção e conseqüente reflexão, conseguiu definir o homem, principalmente o de sua época, “como um animal doente”, essa observação de Nietzsche é sumamente válida até para os dias de hoje.
O homem é uma coisa cuja natureza consiste em poder dizer o que são as outras coisas.
Ou seja, a razão permite ao homem definir-se e definir o conjunto do universo.
O homem se distingue do animal comum por ser racional e, por ser assim definido, classificam-se em várias camadas de possibilidades intelectivas ou comportamentais, tais como: (A bem da verdade eu é que classifico).
Homem esperto.
Homem astuto.
Homem ladino.
Homem inteligente.
Homem sábio.
O homem esperto é aquele de baixo grau de instrução e com uma escolaridade insuficiente, é loquaz, sedutor e convincente.
Essa espécie é geralmente encontrada entre os vendedores, corretores de imóveis e de seguros, picaretas de automóvel, trambiqueiros ou cambistas, trapaceiros ou vigaristas, etc.
O homem astuto é aquele que tem certo grau de inteligência e com alguma escolaridade, principalmente em aritmética e que vive da extorsão de terceiros.
Tudo o que faz e vive em primeira instância é, para a sua própria satisfação, não levando em consideração o outro.
É um perfeito egoísta que, inclusive, enriquece tirando do alheio em estado de miséria o seu benefício pecuniário.
É lógico que estamos nos referindo aos agiotas, essa raça sem escrúpulos, e sem nenhum sentimento simpático de piedade para com os demais, vive, dessa forma, em função da desgraça alheia.
Esse egoísta potencialmente existente tem sempre aquela máxima que diz o seguinte: “Cada um por si e Deus por todos”.
Esse é o lema de todos os egoístas, não sabem eles que esse dito popular é um tanto quanto satanizado.
O homem ladino é aquele que precede ao homem inteligente, não é mau, apresenta alguns traços de erudição que lhe veio através da leitura de alguns livros, é, por assim dizer, um autodidata com conhecimentos reduzidos, normalmente são educados, reverentes e diplomatas natos.
A maioria de seus conhecimentos é colhida da Bíblia, de algumas revistas ou jornais.
Da Bíblia, escrita num estilo árido e metaforicamente recheada, ele faz apressadamente o seu juízo e a sua particular interpretação, confundindo a metáfora com um fato real e físico de acontecimento histórico.
Com essa sua duvidosa erudição se acha o mais instruído dos homens, fato que, normalmente, o leva a ser esnobe, alardeando para quem possa suportar as suas supostas e enjoativas verbalizações.
São exibicionistas ao extremo e avaliam a intelectualização alheia pelas suas próprias percepções reduzidas.
O homem inteligente é normalmente aquele que possui um alto nível de conhecimento, tem curso especializado em alguma área, por isso mesmo, o encontramos em atividades diversas tais como:
Advogados, engenheiros, médicos, cirurgiões-dentista, altos funcionários públicos, políticos de carreira, técnicos de várias áreas, altos executivos da iniciativa privada, comerciantes, industriais, sacerdotes, pastores e tantos outros.
Esse tipo de homem é um empreendedor nato, é conhecido como um pilar mestre da sociedade, de onde se origina a maioria dos benefícios progressistas de uma comunidade.
O homem sábio, geralmente é aquele que além das características do homem inteligente, nele, está estratificado a essência do saber e, por ser assim, faz parte da elite de uma sociedade.
Mas essa sociedade, no entanto, não o reconhece, pois ele é alheio às efervescências do mundo profano, mas ele detém o mais profundo conhecimento.
Esse tipo de homem nós o encontramos entre os filósofos, cientistas, psicólogos, paleontólogos, naturalistas, sociólogos, astrônomos, físicos, químicos, botânicos, escritores, professores, poetas, enfim, e todos os demais eruditos que não se encaixam nesta rígida classificação.
O homem sábio por ser a nata da sua espécie, é um introvertido e um introspectivo pela sua própria natureza.
É de uma personalidade humilde, asceta e completamente imunizado com relação aos bens materiais.
A sua vivência moral é equilibrada e incoercível, não se rendendo aos apelos consumistas tão invocados diariamente pela sociedade capitalista.
A completude e ou a individuação existencial nele, já está estabelecida e foi alcançado pelo seu eminentíssimo saber.
Ele é o homem que sabe e sabe que sabe, daí advém a sua modéstia e o seu modus vivendi recluso e ou solitário.
Talvez Nietzsche quisesse dizer que o homem sábio é verdadeiramente o seu tão propalado “super homem”.
Mesmo estando no nível de homem sábio, ele não deixa de ser o suposto lobo.
Pois essa tendência animalesca parece fazer parte inclusiva desse magnífico projeto divino.
Mas ao contrário do homem comum, o sábio é um lobo que ataca somente quando tem a certeza da vitória.
Pois no fundo é um estrategista de primeira ordem e sabe perfeitamente como o lobo comum age.
Se consultarmos a história antiga e recente, bem como a sociologia atual, verificaremos que o homem se comportou e se comporta no seu inevitável caminho da evolução como um ser insaciável, e que o seu projeto pessoal é sempre o da dominação.
Tendo em vista esse componente tortuoso e existencial, na espécie homo, nós cremos que assim ele exerce o seu poder de liderança sobre todos.
Inclusive, com um domínio total sobre a serpente, originando-se como se diz, uma paz armada entre essas duas espécies: Lobo x Serpente.
Foi e ainda é tentativa dos filósofos, psicólogos e sociólogos de estudar e classificar o homem.
Mas sabedores dessa impossibilidade, pois o homem é mutável através da sua evolução, eles o classificam de forma provisória e superficial.
Desta forma, eles estão sempre envolvidos em pesquisas para poder definir com maior certeza, esse comportamento difuso do homem.
A psicologia clínica que é um ramo da psicologia, e que estuda o comportamento do indivíduo ou do grupo, tem por finalidade e por meio de técnicas apropriadas, tais como, testes de inteligência, de personalidade, entrevistas e etc., numa tentativa desesperada de compreender-lhe e resolver-lhe os conflitos.
Mesmo assim, desde o século XIX, os primeiros psicólogos, como: Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, com a psicanálise tentaram explicar os comportamentos e os conflitos dos indivíduos.
Até hoje, as várias correntes psicológicas desde a Introspecção, Behaviorismo, Gestalt, Psicologia humanística, positiva, cognitiva, biológica e outras, ainda não conseguiram chegar a um determinante ou a uma explicação satisfatória do complexo inconsciente do homem.
Tudo é mutável, tudo flui inclusive o ser humano, (Heráclito), pois eu já não sou o mesmo que fui ontem, tanto mentalmente, espiritualmente como biologicamente falando.
Entretanto continuo inconscientemente pouco conhecido.
Explorando a psique humana, poderemos compreender porque fazemos as coisas que fazemos.
Em parte se descobre alguma coisa, principalmente aquelas que de uma forma geral são conhecidas como universais, quanto às demais, existe um abismo tão profundo e escuro que se torna quase impossível, o acesso às informações ali contidas.
Apesar de todas essas mutações, temos observado ao longo da história da raça humana que, a única coisa imutável é o seu arquétipo de lobo que, com o passar dos tempos é apenas ajustado a cada realidade vivida, cada vez mais com uma astúcia refinada.
Para esse arquétipo, informação ou símbolo, não é necessário uma psicanálise para a sua identificação.
Pois ele é de caráter universal, necessita sim, da psicanálise para equacionar e ou resolver os conflitos originados desse comportamento de lobo.
Muitas são as coisas grandiosas dotadas de vida, mas a mais grandiosa de todas é o homem. (Sófocles)
Se o filósofo neste aforismo acima quis dá a entender toda a humanidade é, bem provável que ele esteja certo.
Mas se ele quis tão somente se referir ao homem em si, eu sou frontalmente contra, pois acho que a coisa mais grandiosa dotada de vida, ainda é a mulher.
A mulher é a grande responsável pela existência da humanidade.
Sem ela, a humanidade não existiria.
Somente ela tem as condições biológicas naturais de acalentar em seu ventre uma vida.
Condições essas que não foram concedidas aos homens.
Além de ser a procriadora e a genitora, a mulher é possuidora de qualidades que o homem não tem.
Por exemplo, a sensualidade, a sensibilidade e as virtudes, tais como, o carinho, a ternura, a paciência, o encanto, enfim, toda uma gama de magia e encantamento que não encontramos no sexo viril.
O homem se restringe apenas em ser o provedor e o reprodutor, qualidades essas que, não o fazem superior, ou melhor, do que a mulher.
Por isso e sob este ângulo de observação achamos que o homem é inferior à mulher.
Ele apenas é um ser bruto dotado de força, contudo inteligente.
Mas sem àquelas características inerentes à mulher.
A não ser que seja um homossexual, um invertido sexualmente, que demonstra certa afetação feminina, aqui não podemos enquadrá-lo, nem como ela e nem como ele.
Pois, se trata de uma deformação ou degeneração ou, quem sabe, o fenômeno da mutação para o terceiro sexo.
O homem (lobo) vive uma constante luta pela sobrevivência.
E com o passar das eras, ele vem refinando o seu ardil de agressividade.
Chegando inclusive, a elaborar idéias filosóficas para que lhes dê sustentação e estrutura racional.
Supostamente, dentro de uma complexa moralidade que venha a lhe favorecer no seu modus operandi ou na sua práxis de vida.
Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista francês do século XX, dizia que: “O homem está condenado a viver em liberdade”, com essa afirmação, ele tencionava dizer que, a liberdade é tanto uma benção como uma maldição, é uma responsabilidade e um fardo.
Mas, mesmo dentro desse universo pessimista dos existencialistas, pode-se encontrar a felicidade e a esperança.
Entretanto, o homem é considerado a expressão máxima da humanidade e, por ser achar legitimamente livre, freqüentemente usa dessa liberdade natural para burlar a lei, que é um dispositivo legal aplicado para organizar e sistematizar essa própria liberdade.
Com a liberdade vem a responsabilidade, conforme afirma o clichê.
A conformidade e o conforto em estar incluído em uma sociedade estruturada e livre, é um refúgio para os covardes, mas isso é apenas uma ilusão.
Tudo é caos na concepção existencialista.
Os ataques de náusea de Roquentim são a sua epifania existencial sobre o significado de sua vida, e sobre o seu lugar no universo.
O medo é o resultado da conscientização de que você está totalmente sozinho e depende de si próprio.
Aceitar esse destino na vida é viver autenticamente como Sartre afirmou.
E somente os bravos corações têm a coragem de viver uma vida autêntica, e lutam para manter a dignidade humana, em um mundo de burocratas, autômatos e lobos.
Isso se encontra no livro: “A Náusea”, com a história de Roquentim, um alter ego de Sartre, que narra à história na forma de registros de um diário.
Ele tem uma vida basicamente solitária e é um escritor lutando com uma biografia de uma figura histórica na qual, ele tem pouco ou nenhum interesse.
Por ser livre o homem sempre se preocupou em alargar o seu território, submetendo os demais através das guerras, que serviam tão unicamente como uma forma de expansão.
É de conhecimento geral que os povos antigos sempre se serviram desse ardil, para expandir os seus territórios. Temos historicamente os exemplos dos Assírios, Babilônios, Egípcios, Persas, Gregos e Romanos e, atualmente, o Norte Americano.
Um povo belicoso e imperialista que praticamente domina o mundo através da sua engenharia militar, do seu desenvolvimento tecnológico, da sua língua, da sua moeda, dos seus bancos internacionais e das suas empresas multinacionais.
Nada escapa a sua sandice, inclusive, quer impor ao mundo o modo de viver americano, e aqueles que não se submetem aos seus anseios, são considerados como povos pertencentes ao eixo do mal.
Esquecem os Yanques que toda a evolução tem o seu limite e, ao chegar nesse limite, o processo é inverso e é mais rápido e desordenado.
O processo é o mesmo quando se projeta um míssil ao espaço.
Assim que ele perde a energia impulsiva para o alto, automaticamente se projeta numa curva descendente e volta a sua origem. Descida essa que, não existe um controle humano que o detenha.
O homem se continuar nessa sua insanidade de dominar e conquistar os outros, acabará por destruir a si mesmo.
Possibilidade essa que foi bem vivida na época da guerra fria, quando as nações desenvolvidas estavam simultaneamente apontadas umas para as outras com os seus mísseis balísticos intercontinentais, em que, apenas um descuido, poderiam simplesmente extinguir o planeta.
Como disse certo sábio: “não devemos nos preocupar com o que o homem foi capaz, mas sim, deveríamos nos preocupar com o que o homem ainda é capaz”.
O homem (lobo) na sua insanidade e na sua agressividade inconsciente, além de se destruir, destrói sistematicamente o seu meio ambiente e, se continuar nessa sanha destruidora, muito em breve terá que abandonar o próprio planeta aonde vive.
Como dizia o Padre Pierre Taillard de Chardin, a única religião possível para o futuro, será aquela que ensinar o homem a admirar e preservar o universo aonde vive.
A humanidade em todos os quadrantes do planeta parece que vive o Leviatã de Thomas Hobbes, Hobbes ficou famoso por sua observação de que, a vida é detestável, bruta e breve, bem como pela sua obra o Leviatã.
O Leviatã de Hobbes é uma sociedade sem ordem, ele considerava que a sociedade sem ordem se auto-destruiria violentamente, e que a melhor forma de ordem seria uma ditadura.
Hobbes viveu até aos noventa anos, mantendo as características de um homem cínico e irritado, que expulsava a bondade do vizinho do seu quintal.
Para Hobbes, seria um microcosmo do estado natural do homem, que ele via como anarquia selvagem.
Para a infelicidade de Hobbes, ficou evidente por experiência que a ditadura é a pior forma de governo.
Pois o homem está condenado a viver em liberdade e, para substituir a ditadura, o homem criou leis, regulamentos, normas e organismos sociais.
Instituições essas que o governam e o disciplinam.
Tudo direcionado para o bem comum e em liberdade total.
Para terminar esta prosa, eu quero fazer uma referência ao homem de Neanderthal que era o Grande Guru de cerca de 200.000 a.C. até 40.000 a.C.
Era tido até muito recentemente como o estereótipo do homem das cavernas, dos filmes, enfeitados com peles, ostentando o famoso tacape, uma mandíbula de animal, e somente capazes de reagir a um questionamento socrático com um indiferente “Ugh”! Ugh!”“ (James Mannion – O Livro completo da Filosofia)
Ainda assim, há muito mais para se saber sobre esses ancestrais de sobrancelhas espessas e ombros espadaúdos do que até agora conhecemos.
Eráclito.