PEDRAS NO CAMINHO E O DIA SEGUINTE

“O CAMINHO DO POETA

Atanazio Lameira

Há uma pedra no caminho do poeta.

No caminho de pedras do poeta sempre haverá uma flor.

No céu do poeta residem estrelas e uma lua que ilumina os casais.

Na feitura do poema consegue enxergar longe.

Aproxima-se do mar. Procura navios e neles costuma viajar.

No coração do poeta moram canções – sabiás – canários.

Há um sofrimento implícito em sua poesia.

Talvez melancolia. Tristeza não.

As pedras se ajeitarão para um bom caminho.

O sol como sempre estará presente.

A timidez do poeta não será percebida.

No próximo poema será consumida.

Enviado por Atanazio Mario Fernandes Lameira em 20/04/2011

Código do texto: T2919902

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/2919902”.

Lameira, amigo querido! Interessante como, subliminarmente, o poema consagrado fica na cabeça dos leitores, principalmente os cultores, os aficionados. Aqui, o discurso poético faz o intertexto com o poema de Drummond "No meio do caminho", o famoso "Poema da pedra", que é como os jovens (e os nem tanto), costumam chamar o enigmático exemplar em Poesia, publicado na revista Antropofagia, em 1928. O poema tem, portanto, 83 anos e está vivo no coração e na cuca dos leitores. Esta peça, como bom intertexto – na mesma linha do poema rememorado – remete ao universo personalíssimo da criação e às circunstancialidades do seu criador, mesmo que a linguagem do poema seja um tanto abstrata, promove aprazível sugestão para o seu leitor. A concretude (para o mundo real) depende do universo e da capacidade do receptor. O poeta se limita a afirmar que "A timidez do poeta não será percebida./ No próximo poema será consumida//. E, nesse contexto otimista, "As pedras se ajeitarão para um bom caminho./ O sol como sempre estará presente./". E é assim que a vida se recria. Através do poema (que reconstroi o universo pessoal e abre ventanas para o circunstante, para o futuro) e pelo nascer do astro-rei, que abre horizontes para o novo dia, legando calor aos viventes. E o calor é vida. É a transmigração do conforto do útero materno, quando nascituro. Vida plena todo o dia nascente. Pelo redivivo que a noite não sobresta, mas pode intimidar e/ou retardar, devido ao sofrimento pessoal. Enfim, a capacidade do poeta é a de renovar-se dia-a-dia... E é isso que está posto através da proposta poética: CONFRATERNIDADE para com os seus irmãos. O mundo é bom. Tem os seus percalços, porém, é preciso vencer os antagonismos para poder vir a ser feliz. Sempre bem-aventurados ao dia seguinte! Não é o que todos desejamos? Parabéns pela boa obra – pela tua dedicação – que eu observo de há muito tempo diuturna, pertinaz à Poesia, por atos, gestos e palavras.

– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3116762