Sobre o fair-play futebolístico
Na semana passada, um fato curioso chamou a atenção da imprensa; durante uma partida entre Palmeiras e Flamengo, o jogador Cléber, do Palmeiras tentou fazer uma esperteza, causando enorme celeuma em campo, que se estendeu pelos comentários esportivos durante a semana. O fato consistiu no seguinte: após interrupção do jogo, provocada pelo árbitro, para o atendimento médico de um jogador, combinou-se, conforme o “fair-play futebolístico”, a devolução da bola por parte dos jogadores do Palmeiras. Espertamente, o jogador Cléber, ao invés de devolver a pelota, apossou-se dela e, rapidamente, tentou fazer um gol.
Imediatamente, os jogadores do Flamengo o cercaram, indignados com o ato, interpelando o atacante do Palmeiras em atitude francamente agressiva.
De acordo com comentaristas de televisão, o ato indigno teria sido a quebra do “fair-play futebolístico”. De acordo com eles, o jogador tinha a obrigação, devido ao tal fair-play, de devolver ao adversário a bola reposta em jogo pelo árbitro.
Do meu ponto de vista, todo o fato ilustra bem o papel educativo que poderia vir a ter o futebol.
Os comentaristas, a meu ver completamente despreparados, defendem e ensinam, haver algo chamado fair-play, e que consiste na devolução da bola recebida em decorrência de interrupção do árbitro para atendimento médico de jogador.
Ora, o fair-play consiste no jogo limpo, e, portanto, na negação da esperteza. Tentar ludibriar o adversário, ou o juiz, consiste em quebra de fair-play, em jogo sujo, embora não seja o que ensinam os nossos comentaristas de TV. Sempre nos ensinaram que a malandragem faz parte do futebol, que um dos méritos do jogador consiste em se aproveitar de meios ilícitos para angariar qualquer vantagem para seu time. A malandragem, segundo eles, é desejável, embora o fair-play, ou seja, a devolução da pelota seja obrigatória.
Aliás, tal gentileza, aparentemente contrária aos ensinamentos futebolísticos atuais, tem origem em uma esperteza: percebendo um jogador caído, necessitando de cuidados médicos, e na certeza de que o árbitro interromperá a partida para o seu atendimento, aquele que tem a posse da bola, espertamente, coloca-a para fora, esperando, com isso, recebê-la de volta de um adversário compelido a devolver a gentileza.
Os comentaristas poderão ensinar, no futuro, que o que se deseja é o jogo limpo, leal, com respeito às regras e aos adversários, sem tentativas ignóbeis de iludi-los ilegalmente. Por enquanto os ensinamentos do futebol são dignos do tipo de gente que domina as diretrizes desse esporte.