Escravos de nós mesmos

Trabalho com produção de festas e eventos e então; às vezes ando pelos lugares mais estranhos em busca dos fornecedores, com o melhor preço, para execução de meus projetos.

Hoje, fui ao Mercadão de Madureira e um elemento me chamou a atenção em especial. Caminhando pelos corredores que parecem não ter fim; dei de cara com uma imagem de um homem belzebu; isso mesmo um Capeta de dois metros de altura; capa preta, caveira da morte nos pés e segurando um tridente, mas o que de fato me fez observá-lo e me fez refletir; foi a quantidade de pedidos dos transeuntes espetados na ponta do tridente...

Fiquei pensando... O que faz com que as pessoas prefiram pedir à personificação do mal seus desejos e não a um anjo da guarda, à nossa Senhora, Deus, Jesus, sei lá? Algo que personifique a força do bem em nossa sociedade. Afinal, não é novidade que aqui no ocidente não funciona esse negócio de yin e yang, somos ensinados a sermos dicotômicos e cartesianos; resumindo em bom português: “ou é 8 ou 80”.

Então por que escolher algo que parece trabalhar por caminhos escusos, pegando os atalhos? Suponho que as pessoas desacreditem de Deus, ou seja, a personificação do Bem. Mas o que as fez ficarem tão desesperançosas?

Penso que talvez queiramos receber o que desejamos e não aquilo que precisamos.

Comecei então a refletir como mãe e vi o quanto amo meu filho; e quantas e quantas vezes ele quer algo ou faz algo que não devo dar ou não posso permitir. Ele chora, esperneia, mas eu o estou preparando para a sua própria felicidade. Então; de que forma uma pessoa que obtêm tudo que quer, pode ser feliz? E como ela sabe que o que recebeu é o melhor para ela, com a visão limitada que temos sobre nossa trajetória como um todo?

Quando era jovem pensava que o certo era garantir um bom emprego e minha ascensão profissional; hoje vejo que usei as motivações “erradas”, o melhor para mim teria sido escolher algo que tivesse relação com minha própria essência, meus dons, que tivesse um propósito maior e isso seria duradouro por toda uma vida; faria eu me sentir um ser humano melhor. Assim; na verdade nunca sabemos o que é realmente melhor nas pequenas escolhas do cotidiano.

Aí quando pedimos pra Deus dar “aquela forcinha” e nos vemos um uma situação pior que a anterior; praguejamos contra os céus; mas esquecemos que talvez isso faça parte de um projeto maior de transformação.

Quantas vezes você já não passou por situações difíceis e depois se pegou falando; “caramba” se não tivesse passado por isso não seria quem sou hoje.

Não pensamos no bem como uma força maior; que busca nos dar aquilo que precisamos e não aquilo que desejamos; preparando-nos para a vida e para nossa própria felicidade. Pensamos no Bem como algo que nos dá tudo que desejamos e que supri todas as nossas expectativas. Não vemos que a vida simplesmente é, e agimos como crianças mimadas que querem ser atendidas de imediato e fazem “beicinho”. Acreditamos que felicidade é ganhar tudo que achamos que merecemos.

Afinal; felicidade não está do lado de fora; está do lado de dentro e na forma que vemos o mundo. Podemos ver como algo passageiro, efêmero e um grande jogo; onde o propósito é de nos libertarmos daquilo que nos mantém afastados de nossa própria essência ou podemos enxergá-lo como uma câmara de tortura, deixarmos de acreditar em nós mesmos quando enfiarem os dedos em nossas feridas; afinal não nos permitimos errar, e assim perdemos completamente a esperança da transformação. Neste momento então, deixamos de crescer e vamos reincidindo nos mesmos erros vida à fora; simplesmente por não termos a humildade de nos aceitar como somos, enxergar os próprios defeitos e mudar aquilo que nos faz escravos de nós mesmos.

E você ainda acredita em Você/Deus?

Autora: Rachel Serrat

Blog:rachelserrat.wordpress.com/