Do não-suicídio.

Acho isso meio esquisito. Os momentos em que mais tenho palavras para dizer é quando não tenho nenhum lápis à mão. Pensei nisso ainda há pouco, enquanto tirava a roupa para olhar os hematomas. Pensei mais ainda quando entrei no box e liguei o chuveiro, para chorar mais à vontade. E chorei, claro que chorei. Mas também tomei um bom banho. Pena que a água não podia lavar o meu coração. Daí então peguei a navalha que estava perto da pedra-pomes. Calma, era só pra deixar minhas pernas pelo menos decentes. Não se preocupe, eu não vou fazer. Embora às vezes a vontade seja quase insuportável. Mas não vou fazer. Porque sou covarde demais pra acabar com isso que ainda chamo de vida. Não, não vou fazer. Mas se alguém quisesse me ajudar, sim, eu aceitaria de bom grado.

Desculpe, acho que não estou me expressando muito bem. Não, eu não quero morrer. Mas o que há para se matar quando a única parte viva de si já ficou há muito em outro?

Então talvez seja por isso esse meu descaso. Porque já não tenho mais nada de importante comigo.

Sabe, desta vez eu quis secar os cabelos. Não, acho que não vou a lugar algum esta noite. Mas mesmo assim quis. Como se, realizando um velho hábito, alguma coisa voltasse para mim. Como se, hoje à noite, eu fosse vê-lo; violão na mão, e um sorriso nos olhos, só para mim.

E então me perfumei, coloquei um vestido branco, como uma noiva pura e virgem. Mas, e esse pensamento torpe não pôde deixar de me passar pela cabeça, onde está o meu noivo?

8/4/2011 - 16:39h.

Lawlieth
Enviado por Lawlieth em 11/07/2011
Código do texto: T3088425
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