O preconceito é um software mal intencionado
O preconceito é um “software” mal intencionado.
Sabemos que grande parte dos conflitos que cotidianamente nos afligem são provocados por preconceitos, e que estes se estabelecem quando temos um juízo de valor prévio com relação ‘a realidade antes que ela se manifeste.
Assim, temos um modelo prévio de amor, felicidade, prazer, dor, fama, fortuna, conceitos prévios que se formam desde o berço e amoldam o cérebro como um “software” mal ou bem intencionado para o qual não há vacina.
E, como “worms” formamos também imagens preconceituosas sobre as mais diversas categorias, como grupos étnicos ou raciais, categorias profissionais, classes sociais.
Os exemplos poderiam encher várias páginas; os “políticos são sempre corruptos”, afirmamos, mesmo sem conhecer todos eles. Os “policiais, torturadores”; os funcionários públicos, “preguiçosos e ineficientes”; a “hipocrisia comanda a sociedade”. Enfim, tais rótulos preconceituosos dominam a nossa realidade, e o bom senso comum, talvez alimentado pela mídia, os mantém vivos.
A inevitável diferença entre a realidade concreta a as nossas idéias prévias sobre ela provoca decepção, dor, sofrimento, exclusão, violência.
Mas o maior prejuízo causado, talvez, seja a total impossibilidade de que a realidade, com toda a sua riqueza seja apreendida no momento em que ocorre. Assim, a nossa visão é quase sempre parcial, porque é preconceituosa, moldada pelos prismas deformadores que estão incrustados em nossa experiência.
Mas qual deve ser a postura correta quanto aos preconceitos? Como distinguir um preconceito de um dado da experiência útil para o conviver das pessoas. Regras e leis adotadas pela sociedade são preconceituosas?
Ora, regras e leis são necessárias, não podemos viver sem elas. No entanto, cabe considerar que elas existem para nortear as relações no seio da sociedade. E que elas devem ser adequadas ao seu tempo.
A sociedade evolui e as regras e leis evoluem com ela. Assim, as leis racistas dos estados do sul americano e da África do Sul tiveram que ser abolidas diante da realidade maior, nacional, no caso americano, e mundial, no caso sul-africano.
Quanto aos dados da experiência, temos que lutar para evitar, em termos pessoais e até institucionais, as generalizações simplistas.
Há uma anedota relativa a Porthos, personagem de “Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas que bem ilustra o que quero dizer. Quando eles foram ‘a Inglaterra resgatar as jóias da rainha, Porthos ficou escondido no porão do navio, para escapar dos soldados ingleses. Colocou a cabeça na escotilha e viu no cais uma ruiva. No retorno, na França perguntarem: “Então, Porthos, com é a Inglaterra?” Ele respondeu: “As inglesas são ruivas!”.