ENSAIO SOBRE UM TEMA DE HELENA

Proponho a leitura destas palavras, do filósofo Montesquieu, um iluminista. Ele escreveu-as no Século XVIII mas a sua actualidade é de veras impressionante: "A História está repleta de guerras de religião. Mas tenha-se em consideração que não foi a multiplicidade de religiões que produziu as guerras, mas o espírito de intolerância que animava aquela que se julgava superior."

Montesquieu, em: Cartas Persas ( 1721 )

Helena Lopes, aluna do 11º Ano do Ens.Secundário

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Olá Helena !

Gostei da tua reflexão à sombra do criador do "ESPÍRITO DAS LEIS" e tenho a dizer-te que se o seu pensamento sobre a oportunidade profética da História nos faz também pensar e reflectir acerca da alma humana, da sua con-vivência e do seu destino, esta constactação persiste já desde os tempos remotos do 'homo sapiens' passando por todos os grandes clássicos da nossa mesma Civilização: pre-socráticos, platónicos, hedonistas, estóicos, escolásticos, humanistas e finalmente, sim, os nossos racionalistas... tu escolheste Montesquieu e eu talvez escolhesse o grande Voltaire que « viu » essa realidade profundamente estruturada na mente de-mente do género humano! ... E, como dizia o dr.Panglos - veja-se em " Le Candide " - 'se qualquer guerra se torna incompreensível para os seres que pensam e sentem a razão das coisas quanto mais aquelas pelas quais os mesmos seres ditos humanos se batem sem entenderem propriamente a razão da sua ocorrência' e conclui mais adiante que 'qualquer guerra que acontece dá sempre o mesmo resultado: a demonstração da vertente animalesca do ser humano que ainda se não libertou totalmente das peias da sua pre-histórica origem!' E escreverá, no início do Século XX, o "descobridor de interiores da alma" - Raúl Brandão, na sua obra mestra HUMUS - 'cada um se encontra enfeudado à sua condição abjecta de viajante do absurdo... procurando na relação íntima com as suas fantasmagóricas ilusões um caminho de justificação para coisa nenhuma ... daí o confronto, o conflito e a guerra que, se calhar, já lhe estão na seiva que é como quem diz na sua própria natureza!'.

E mais próximo de nós o conhecido filósofo K.Jaspers, bem secundado por N.Berdiaef, respectivamente em O SENTIDO DA HISTÓRIA e MEDITAÇÕES SOBRE A EXISTÊNCIA, dirão mais ao menos isto: 'tornar-se-á fundamental que o homem sinta, no confronto dos seus próprios limites... mesmo aqueles que mais profundamente os tocam como as questões de interioridade religiosa, a verdadeira natureza da sua fragilidade'. Estes mesmos autores rematam, noutro ponto, a necessidade de o homem apelar para a via transcendental como meio de alcançar o lenitivo e/ou a justificação para a sua própria sobrevivência. Daí que tanto as guerras como qualquer outro mal do mundo serão tão só formas de o homem se re-conhecer a si mesmo na sua plenitude podendo, por isso mesmo, justificarem-se como última instância de convivência humana na terra!... Aqui deixo, para finalizar, as palavras do próprio Karl Jaspers: 'Thus, the most profound unity occurs while heading towards a certain invisible religion, towards various kingdoms of spirit where we mutually encounter and mutually attribute, and toward the hidden kingdom where being is unfolded while our spirits are in harmony'. Esta tirada é apenas para tu, que gostas de Inglês, te deliciares com estas sábias palavras escritas no original pelo autor que, embora sendo de origem alemã, escreveu o seu THE SENS OF HISTORY na linguagem de W.Shakespeare.

Com a máxima consideração do

prof. Francisco de Assis/

Frassino Machado

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2006
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