SER TERTULIANO
Quando me levanto pela manhã e saúdo a Vida com tudo o que ela tem de maravilhoso, de bondoso, de alegre, de estético e de benfeitoria, eu estou sendo tertuliano.
Quando me encaminho para a realização quotidiana das minhas tarefas profissionais, sem deixar esquecer que em todo o momento que passa eu posso descobrir em todas as coisas a sua dimensão poética, estou sendo tertuliano.
Quando me relaciono, ao longo do dia que passa, com quem se cruza comigo nas mais diversas situações, e ornamento este relacionamento com gestos de simplicidade e amizade matizada de humanismo, isto é, valorizando toda a dimensão humana do ser que me interpela, estou sendo tertuliano.
Quando descubro no rosto de alguém aquelas marcas de angústia, de sofrimento, de incerteza e de solidão e tenho para esse alguém uma sempre disponível palavra de solidariedade e de companheirismo, estou sendo tertuliano.
Quando nas mais díspares oportunidades que no dia a dia se me deparam, apesar das contrariedades e das barreiras sempre imprevisíveis, em vez de me deixar abater pelo não te rales da comodidade sempre à mão, eu descobrir em cada momento um oportuno lenitivo, feito parcela poética, que acrescentará algo ao património literário que é a minha pátria, estou sendo tertuliano.
Quando no evoluir dos dias que passam eu me lembrar a cada momento de que para além de mim tenho mais uns tantos companheiros que comungam do mesmo ideário e da mesma forma de estar na vida, dando testemunho de criatividade e de originalidade na arte de comunicar através da palavra feita verso, estou sendo verdadeiramente tertuliano.
Quando, finalmente, chega aquele dia especial de mais uma vez eu ir ao encontro de outros tertulianos que, como eu, sentem saudades do último encontro e querem acrescentar, no diálogo das palavras, da luz, da sonoridade e da música sempre presente em cada gesto, mais uma página na arte de ser pessoa, estou sendo plenamente tertuliano.
Ser tertuliano, vendo nos outros em plenitude a projecção da sua própria personalidade, naquilo que ela tem de complementaridade, é ser Tertúlia, isto é, espaço vivo e activo onde aconteça poesia e onde se possa ser um pouco mais feliz.
Prof. Assis Machado ( * )
Lisboa, Abril de 2005
( * ) - Membro da Tertúlia Poética "Ao Encontro de Bocage",
fundada e presidida pela poetisa América Miranda.