Sobre A Revolução dos Repolhos

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Seres que possuam opinião... (não necessariamente humanos, eu, por exemplo, sou um repolho alienígena)

E por que A Revolução dos Repolhos?

Pois bem, esta é uma longa história...

Tudo começou quando um certo jovem entrou para a faculdade de História na Universidade Federal de Santa Maria. Lá, logo na primeira semana, ou melhor, no primeiro dia mesmo, ele já tomou contato com a disciplina de Teoria da História I. Não foram necessárias muitas horas-aula para uma verdadeira explosão conceitual fazer boom em tudo o que ele conhecia até então, além de, claro, fazer-lhe esvair o cérebro pelas orelhas (créditos ao Prof. André Fertig). Alguns tempo depois, ainda meio atordoado e com sérios problemas de escorrimento cerebral nasal, esse jovem presenciou as primeiras aulas de Metodologia da Pesquisa Científica em História, na qual escutou a tão esperada por você leitor metáfora do repolho (créditos ao Prof. Diego Dal Bosco Almeida). Esse jovem morreu alguns dias depois, lógico, vítima das constantes explosões cerebrais. Seu nome era José Givanildo. E até hoje ele aparece em listas de chama pelas disciplinas do curso.

Felizmente, eu também assisti a essas aulas, e também senti meu cérebro esvair-me pelas orelhas, mas resisti e cá estou, nem tão firme, nem tão forte, mas cá estou. E a metáfora do repolho? Muito bem, vamos a ela:

Disse o prof. Diego que o passado é como um repolho, da qual você vai tirando as folhas, tira uma aqui, outra ali, e quando finalmente chega no meio... O que você encontra? Nada.

Você, leitor: Tipo... Como assim?

Calma, eu explico. A nossa vida, a nossa história é expressa em linguagem, certo? (Você, leitor: É, claro, óbvio...) Pois, então, de que é feita a linguagem? Palavras, conceitos. E palavras e conceitos também são construções históricas. Como assim? Pois bem, Popozuda, por exemplo (péssimo exemplo, Giovan, péssimo exemplo...), não é uma palavra que existe desde sempre, pasmem! E aliás, é uma palavra cujo significado mudou radicalmente com a crescente popularidade do funk carioca.

Basicamente, tudo o que conhecemos é uma construção histórica, talvez seja mais que isso, claro, mas falemos da construção histórica, por enquanto. Assim sendo, a nossa vida e as coisas que conhecemos são como as folhas de um repolho, do qual o bom historiador as destaca. Um exemplo que eu gosto de usar é o conceito de infância. Ora, esse conceito só foi criado no século XVI, durante o Renascimento (corrijam-me se tiverem outras fontes!), antes disso as crianças não eram vistas como "crianças", mas sim como adultos pequenos em fase de crescimento, só. Toda a magia, a pureza, a ingenuidade, foram agregadas agora, nesses séculos. Por isso, gosto de afirmar que não existia prostiuição infantil na Antiguidade Clássica. Mas como assim? Se a respeitada historiadora Catherine Salles, em Nos submundos da antiguidade, nos fala em crianças de 7 e 8 anos se prostituindo?! Repito, não existia prostituição infantil, porque o conceito de infância tal qual conhecemos hoje não existia. Assim como o conceito de infância, muitos outros de fácil assimilação podem ser citados, como: Raça (e consequentemente preconceito racial), Homofobia, ordem e progresso, capital, dinheiro, sonho americano, amor... Todos conceitos, todos construções históricas, que podem ser destacados pelo bom historiador como as folhas de um repolho.

Enfim, disse o professor Diego que não devemos destacar todas as folhas do repolho, não lembro bem o motivo que ele deu, mas acredito que seja basicamente pelo bem de nossa saúde mental. Ou para fugir ao niilismo... Nietzsche, por exemplo, foi um cara que tirou todas as folhas do repolho. Agora se existe nada mesmo, não sei, reservo-me o conforto da dúvida e aceito as possibilidades: talvez não haja nada, talvez haja uma força sobrenatural que possa ser chamada de Deus, ou Grande Gnomo, ou talvez haja super-folhas impossíveis de ser retiradas, talvez haja um ruído que escutado bem de pertinho nos diga a resposta para todos os nossos anseios, ou talvez haja um magnífico emaranhado de conexões interdependentes com milhares de outros repolhos...

Por isso, A Revolução dos Repolhos, revolução porque é preciso fazer algo que está se tornando hábito esquecido na nossa sociedade: Pensar, e discutir. Porque discutir é pensar em grupo. E repolhos, porque acredito que todo aquele que ainda se presta a pensar e discutir sobre o ser humano e tudo que lhe cabe (em resumo: tudo?) também devem se aceitar como repolhos.

E você? Já tirou as folhas do seu repolho?

Quarta-feira, 1º de junho de 2011 - Continuação...

Como disse nos comentários, resolvi mandar um email para o prof. Diego, e para não alterar o texto nem correr o risco de distorcer novamente a metáfora, coloco a seguir partes do email que o professor me enviou em 26 de maio deste ano:

"Quanto aos repolhos: pois bem, o que eu disse foi que aquilo que chamamos de "realidade" que nos parece tão "concreto", "sólido" e "permanente", na verdade, me parece muito mais um constante "vir a ser". Um mundo que está em constante transformação. A metáfora dos repolhos cabe para esse ponto: a realidade é tão sólida quanto um repolho que é feito de diversas partes. As folhas do repolho podem ser tiradas -desconstruindo a realidade - e vendo como as coisas do mundo "se ligam" umas às outras. O fato é que, ao descascar o repolho, devemos tomar cuidado para ver quais as folhas que efetivamente vamos tirar e se temos a coragem suficiente para encontrar o "nada" ali existente.

Com o passado é a mesma coisa. No início ele nos parece tão sólido, tão concreto, mas não passa de ilusão, de invenção. O passado (como uma realidade que foi vivida) é um repolho, assim como o que conhecemos como realidade. O historiador "brinca" com o passado, com o que "poderia/deveria ter acontecido" mas isso não representa, em última análise, uma realidade. Trata-se de uma invenção - claro que bem fundamentada - mas uma invenção. Então, passado histórico como repolho. Parece sólido, parece cheio, parece pesado/difícil, mas quando descobrimos como as coisas "funcionam"; como as coisas "se ligam"; como as folhas se entrepõem, nos deparamos com o nada. (mas não será um "nada" de possibilidades?)" *

*ALMEIDA, Diego D.B. (Email pessoal) Mensagem recebida por ddalbosco@gmail.com em 26 de maio de 2011.

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