Glória à glória, ironias da vida

Trabalhou durante anos, horas a fio, para sustentar a família. Formou os filhos, levou uma vida simples, regrada. Como diversão, um prazer: escrever.

Escreveu muito, publicou pouco. Reconhecimento? Pequeno, poderíamos dizer. Admirado apenas em um círculo de leitores que apreciavam até seus rabiscos nos guardanapos, em encontros mensais. Nada tivera dimensão que lhe trouxesse fama ou dinheiro.

O tempo passou, a idade e a frágil saúde o levaram para os campos onde o vento sopra suave a macio. Era assim que ele costumava chamar sua próxima morada.

Com os anos, os amigos seguiram para encontrá-lo. Um a um, sem pressa.

Conhecido, sim. Dos poucos que ficaram. Reconhecido? Não, nem os familiares haviam lido, liam ou recomendavam o que havia escrito. Sua dedicação aos textos, histórias e memórias era lembrada como uma mania.

Não havia muito interesse na mania do vovô, titio, ou o que quer que representasse no círculo familiar.

Com tiragens tão pequenas, nenhum exemplar ficara na família. Do que fizera, muito pouco se sabia.

A rotina servia como brincadeiras, pois concentrado em suas anotações e reflexões, alimentava as provocações de sua clausura, a exemplo de uma prima que, como freira, assim passara a vida. Esquecido ficou, como o tempo faz esquecer.

O acaso fez com que um exemplar caísse nas mãos de uma jovem, que ao lê-lo se perguntava: “Que gênio teve a sensibilidade de escrever tal obra?”

Filha de cineasta, correu e mostrou ao pai, que também se apaixonou.

Chamaram seu agente, este, sem alarde, adquiriu os direitos das obras. Na época, ninguém tinha noção do que aquilo se tornaria. O preço pago fora irrisório. Para a família interessante, gastariam sem culpas.

O filme produzido fez um imenso sucesso, com isso alcançou o teatro e novos livros foram editados com grande agitação.

Com o sucesso, o mundo queira saber quem era o autor, como vivia, quando escrevera, o que pensava, o que mais teria a oferecer com aquele encanto. Para os familiares o assunto era complexo, pois jamais haviam dado atenção ao fato.

O que se passara na clausura tomara o caminho de páginas não lidas e pouco divulgadas.

Um dia, um dos netos disse: - Vovô era meio estranho, vivia para suas poesias!

Para seu constrangimento, mostraram-lhe que poderia considerar a linguagem poética, mas que ali estava a história da família, contada e pintada nas cores de suas lembranças e sonhos.

- Ah, vovô era importante no círculo de amigos. Deram até seu nome a uma rua, ainda que em um local distante – comentou.

Em uma matéria para a televisão, enquanto alguns parentes caminhavam pelo local e as duas únicas placas atestavam o fato, via-se uma rua mal cuidada, em lugar de pouco movimento.

Naquele momento, resgatava-se o feito de um escritor, que em vida não fora lembrado, morto, era apenas o nome de um caminho esquecido.

Agora não! Glória à glória, que resgatava e dava ao seu trabalho a tão merecida dimensão.

A calçada da fama talvez não receba sua estrela, mas no céu, junto com outras tantas, brilha um astro que agora poderá para sempre ser lembrado.

Ou, se a generosa memória do homem permitir, que jamais seja novamente esquecido.

Ivan Postigo

Diretor de Gestão Empresarial

Postigo Consultoria Comunicação e Gestão

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Ivan Postigo
Enviado por Ivan Postigo em 28/05/2011
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