Para além de um cuidado do corpo: “o pré ocupar-se com o outro é se enxergar a si mesmo”
Por Aline Cristina C. de Oliveira
O cuidado de enfermagem nesse novo milênio terá o desafio de oxigenar não só as células de nossos pacientes, mas principalmente as mentes e os corações dos detentores do saber. O fazer de cada profissional da saúde, seus corpos, seus pensamentos, angústias, anseios e necessidades estão intrínseca e extrinsecamente relacionados com o processo saúde doença. Uma das grandes fragilidades das escolas formadoras de medicina e enfermagem é justamente transpor o paradigma de um conhecimento técnico científico arraigado num discurso de soberania sem levar em consideração a autonomia e peculiaridade de cada ser humano.
Deixamos escapar o fio condutor que dá um sentido às nossas vidas além da doença e da morte. Hoje nos permitimos escravizar por uma lógica doentia que nos cerceia de sermos nós mesmos.
Estamos a serviço da patologia quando nossa função primordial é preveni-la. Contentamo-nos em tratar as conseqüências dos males humanos e fazer de nosso dia-a-dia uma saga interminável de queixas e reclamações... Talvez não percebamos que estamos tão ou até mesmo mais doentes do que as pessoas enfermas as quais cuidamos. Utilizamos nossas potencialidades para impregná-las com um discurso de que não podemos continuar assim, embora dia após dia fechemos os olhos para não enxergar. Assim nos colocamos como engrenagens substituíveis num sistema que lucra com a doença, onde cada pessoa é um cliente, um número, bem como nós mesmos.
Está mais do que na hora de voltarmos nossas lentes para a minúcia dentro dos ambientes em que transitamos, aqui, no caso, o hospitalar. Somos agentes concretos de transformações, além da lógica de qualquer sistema. A qualidade das relações humanas, suas implicações e subjetivações devem ser levadas em consideração como de suma importância na construção de um sistema para a saúde. A ferramenta indispensável para a concretização de tal obra é o próprio ser humano. Nossa matéria prima são os sentimentos e sensações que nos tornam vivos e cônscios dessa existência, integrados com um cosmos moldado por nossas atitudes, ações e pensamentos. A referência que temos é o próprio cuidado, verdadeiro nó sinusal capaz de levar energia aos confins do universo, na imbricada teia que nos une.
Atitudes e mudanças de concepções de mundo são tão viáveis como qualquer pílula para aliviar a dor. A todo o momento somos transformados para um estado de vir a ser e podemos valorizar mais isso. Neste curto espaço de tempo em que se passa nossa vida, podemos vislumbrar após este piscar de olhos, um despertar para o belo numa ética de respeito mútuo a toda manifestação anímica. Nas congestionadas veias e artérias de nosso corpo que circule a mágica secreta do amor, capaz de desobstruir qualquer desentendimento.
Sendo assim, vamos buscar uma lógica de compreensão mútua dentro de nossas enfermarias, transformando os sofrimentos em ressignificações para a vida, ao invés de negá-los, fechando-nos para as fragilidades e suscetibilidades alheias como se não fosse um problema nosso. Precisamos dar um sentido para “o cuidar” que não seja apenas a mera reprodução de procedimentos técnicos visando o bem-estar do corpo físico. Trazer a espiritualidade nessas sinapses relacionais diárias potencializa para o “pré- ocupar-se” com o outro e conseqüentemente consigo mesmo. Enxergamo-nos através do outro, sendo o último nosso mais fidedigno espelho.
Por Aline Cristina C. de Oliveira
O cuidado de enfermagem nesse novo milênio terá o desafio de oxigenar não só as células de nossos pacientes, mas principalmente as mentes e os corações dos detentores do saber. O fazer de cada profissional da saúde, seus corpos, seus pensamentos, angústias, anseios e necessidades estão intrínseca e extrinsecamente relacionados com o processo saúde doença. Uma das grandes fragilidades das escolas formadoras de medicina e enfermagem é justamente transpor o paradigma de um conhecimento técnico científico arraigado num discurso de soberania sem levar em consideração a autonomia e peculiaridade de cada ser humano.
Deixamos escapar o fio condutor que dá um sentido às nossas vidas além da doença e da morte. Hoje nos permitimos escravizar por uma lógica doentia que nos cerceia de sermos nós mesmos.
Estamos a serviço da patologia quando nossa função primordial é preveni-la. Contentamo-nos em tratar as conseqüências dos males humanos e fazer de nosso dia-a-dia uma saga interminável de queixas e reclamações... Talvez não percebamos que estamos tão ou até mesmo mais doentes do que as pessoas enfermas as quais cuidamos. Utilizamos nossas potencialidades para impregná-las com um discurso de que não podemos continuar assim, embora dia após dia fechemos os olhos para não enxergar. Assim nos colocamos como engrenagens substituíveis num sistema que lucra com a doença, onde cada pessoa é um cliente, um número, bem como nós mesmos.
Está mais do que na hora de voltarmos nossas lentes para a minúcia dentro dos ambientes em que transitamos, aqui, no caso, o hospitalar. Somos agentes concretos de transformações, além da lógica de qualquer sistema. A qualidade das relações humanas, suas implicações e subjetivações devem ser levadas em consideração como de suma importância na construção de um sistema para a saúde. A ferramenta indispensável para a concretização de tal obra é o próprio ser humano. Nossa matéria prima são os sentimentos e sensações que nos tornam vivos e cônscios dessa existência, integrados com um cosmos moldado por nossas atitudes, ações e pensamentos. A referência que temos é o próprio cuidado, verdadeiro nó sinusal capaz de levar energia aos confins do universo, na imbricada teia que nos une.
Atitudes e mudanças de concepções de mundo são tão viáveis como qualquer pílula para aliviar a dor. A todo o momento somos transformados para um estado de vir a ser e podemos valorizar mais isso. Neste curto espaço de tempo em que se passa nossa vida, podemos vislumbrar após este piscar de olhos, um despertar para o belo numa ética de respeito mútuo a toda manifestação anímica. Nas congestionadas veias e artérias de nosso corpo que circule a mágica secreta do amor, capaz de desobstruir qualquer desentendimento.
Sendo assim, vamos buscar uma lógica de compreensão mútua dentro de nossas enfermarias, transformando os sofrimentos em ressignificações para a vida, ao invés de negá-los, fechando-nos para as fragilidades e suscetibilidades alheias como se não fosse um problema nosso. Precisamos dar um sentido para “o cuidar” que não seja apenas a mera reprodução de procedimentos técnicos visando o bem-estar do corpo físico. Trazer a espiritualidade nessas sinapses relacionais diárias potencializa para o “pré- ocupar-se” com o outro e conseqüentemente consigo mesmo. Enxergamo-nos através do outro, sendo o último nosso mais fidedigno espelho.