O sentido do presente



O sentido do presente, mesmo enquanto tento explicá-lo, é arredio e se vai constantemente.
 
O presente é a realidade única a ser vivida, gostemos ou não, não adianta tentar algo diferente. O presente, para mim, é um estado antagônico com nossos sentidos básicos que nos impõem passado, presente e futuro.  
 
Não existe vida fora do presente, não existe assim sentidos vivos, sentimentos, ações ou imanência fora do presente. Para mim o tempo, aos moldes do próprio espaço, é estático, ele existe pura e simplesmente, assim ele é eternamente presente. Quando nos referimos ao espaço, ele nos permite estar aqui, ali, acolá. Somos nós, de forma genérica os eventos, que se movimentam pelo espaço, ocupando posições relativas diferentes. Quando nos referimos ao tempo, ele é para mim, eternamente o presente e é assim estático.
 
O arredio tempo, para este que vos escreve, tem status semelhante ao espaço. Ele existe, ele é, ele está agora, a pouco ou logo mais, mas ele simplesmente é estático, somos nós, de forma genérica, que nos movemos através dele.
 
Nossa mente, primária e limitada por experiências guiadas pelos nossos sentidos e nossas limitações processuais, acaba criando a sensação de passado, presente e futuro. Como o tempo é muito transparente, nossa mente nos faz crer em passado e em futuro, mas simplesmente somos um único espaço/tempo, e nos movemos por ele.
 
Como o sentido do tempo é necessário para separar eventos no mesmo lugar relativo do espaço, acabamos percebendo esta variação como passado,  presente e futuro. Aos mesmos moldes do espaço, onde se estou aqui, vim de lá e estou indo para acolá (no espaço a ação física é mais visual e plástica e por isto nosso processamento mental é mais fácil), no caso do tempo, por ser mais transparente, ocorre algo parecido:  fiz algo, faço algo e farei algo, mas na minha visão física o tempo é imutável e somos nós quem passeamos por ele.
 
Alguém poderá perguntar: No espaço vim de lá e posso retornar para lá, e isto no tempo é impossível.  Para mim isto é uma simples falácia de nossos sentidos. No espaço vir de lá e voltar para lá, é fácil de perceber posto que a localização espacial é sempre relativa e existem referenciais fáceis de serem percebidas. Estes referenciais nos permitem discernir que de lá viemos e que para lá poderemos voltar. (O lá tem alguma referência física, uma identificação que me permite visualizar plasticamente este movimento físico).
 
Que tal se imaginarmos o espaço infinitamente vasto, onde não existam referências, sequer estrelas, planetas ou qualquer outra referência. Agora nossa mente se perde. Como a posição é sempre relativa, neste caso não tenho referência relativa alguma, e assim não tenho como perceber se vim de lá ou se retorno para lá. Ficaríamos apenas com a impressão de tempo gasto em movimento. Caso não haja aceleração, não poderei sequer afirmar que estou me movendo, o estado inercial não é percebido pelos nossos sentidos, sem referência visual. Tudo isto foi apenas para me referenciar ao tempo de novo. O tempo tem como única referência o que estou fazendo, sem referenciais de fiz ou farei, assim sobrou ao nosso cérebro a impressão de que o tempo flui.
 
Devo ser maluco, mas ainda bem que vários físicos e filósofos participam de minha maluquice. A cada um é dado o direito de interpretar como desejar cada caso ou conceito. Mas para mim o tempo não flui, somos nós que fluímos pela dimensão de tempo exatamente como fluímos pela dimensão do espaço.  

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 19/05/2011
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T2980758
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