Sobre os absurdos: o bule chinês
Uma ideia pode ser absurda e implausível, e ao mesmo tempo irrefutável.
Construída com esse propósito, o conceito do bule chinês é um enorme disparate, ao mesmo tempo em que se pretende instrutivo.
Foi provavelmente Bertrand Russel quem cunhou a expressão “agnóstico” para se referir aos descrentes que não negam a existência de Deus, como os ateus, mas se sentem inaptos para decidir quanto à existência ou não da divindade. Essa posição, normalmente, se baseia na incapacidade de se provar ou refutar a existência de Deus.
Uma nova forma de ateísmo não se baseia na demonstração da não-existência de Deus, mas tenta mostrar o absurdo da ideia. Consiste em construir um conceito análogo, mas completamente absurdo e inverossímil. Trata-se de um bule chinês que orbita entre júpiter e saturno e do qual todo o poder emana.
De acordo com tal concepção, o criador tem esse formato, e habita a referida região. Nunca foi visto, nunca provado, só a fé sustenta a sua crença.
A meu ver, o absurdo dessa ideia consiste apenas em sua novidade. Repetido por milhares de vezes, o bule chinês será tão verossímil quanto qualquer divindade cultuada em algum canto do planeta. Por hora, no entanto, o bule chinês representa a crença dos ateus.