metodologia em "O Clube do Imperador"
O Clube do Imperador, de Michael Hoffman, drama lançado no Estados Unidos em 2002. A história gira em torno de um professor, Sr. Hundert, seus alunos, e os sucessos ocorridos quando da chegada de Sedgewick Beel, aluno novato e alheio aos padrões ali desenvolvidos. Non sibi (não para si) e finis origine pendet (o fim depende do começo), os lemas que norteavam a filosofia da “Escola para rapazes St. Benedict” e a prática docente ali instaurada.
Bem, propomo-nos a comentar de maneira superficial a metodologia aplicada pelo Prof. Hundert, levando em consideração a época em que se passa a história e os resultados finais, já que o enredo nos dá essa possibilidade. Em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar o fato de que era o prof. Hundert um exímio conhecedor de história das civilizações antigas, ou seja, tinha grande domínio do conteúdo a ser ministrado; ademais, sua eloqüência, enorme simpatia, seu compromisso para com o desenvolvimento intelectual e moral de sues alunos transpareciam seu prazer em lecionar.
Passemos, então, para os comentários pertinentes a metodologia utilizada. Sabemos que, a época em que se passa a história, nas escolas predominava o método tradicional de ensino, ou seja, aulas expositivas em que o professor, detentor do saber e sujeito da ação educacional, detinha em suas mãos o destino da classe. No entanto, na escola St. Benedict havia um “código de autodisciplina baseado na confiança mútua”, então, era dispensada ao aluno uma parcela de responsabilidade sobre sua conduta e desenvolvimento moral; o que não exonerava o professor da sua função de educador, pois, cabia a ele explorar no decorrer do ano letivo, além dos conteúdos disciplinares, o discernimento e a elevação moral.
Como eram ministradas as aulas? Sendo professor de história da civilização Greco-romana, Hundert costumava ministrar suas classes, literalmente, contando as histórias, relatando os fatos que ocorreram com todos aqueles personagens históricos, envolvendo seus alunos numa conversação prazerosa – evidentemente, os meninos tinham já a leitura feita - onde apenas coordenava e direcionava o assunto a ser tratado. Isso diminuía a distância, na época natural, entre professor e aluno e criava uma cumplicidade na construção do conhecimento.
Os recursos utilizados por Hundert eram basicamente diagramas, mapas, livros didáticos, pois na época não havia a tecnologia de hoje; isso seria um problema não fosse o seu procedimento metodológico. Hundert estimulava a leitura através de leituras dinâmicas como, por exemplo, da peça Júlio César, de Shakespeare, que abordavam temas pertinentes ao conteúdo trabalhado; fazia com que os alunos participassem das aulas efetivamente abrindo espaço para conversação e debates; motivava-os a estudar através de instauração de um concurso de conhecimentos históricos sobre a Roma antiga – fantástico porque, além de conhecer a história, os alunos eram levados a desenvolver a escrita e a auto-estima. Certo é que Hundert não perdia a oportunidade de incutir em seus alunos a importância dos valores morais na vida de um homem. A frase “o caráter de homem é o seu destino” ecoava pelas paredes de sua sala de aula. Citava os grandes homens da história como exemplos a serem observados, examinados e seguidos em suas melhores ações.
No entanto, como nada é perfeito, o professor Hundert pecou pelo excesso de zelo. Na tentativa de resgatar um aluno desorientado, adulterou a nota deste para maior prejudicando um terceiro aluno, Martin Blythe, que por causa disso foi desclassificado do tradicional concurso Sr. César, que anualmente consagrava um aluno ao quadro de honra da escola e no qual figurava já figura o pai de Martin. Frustrado com o desenlace dos acontecimentos, o professor amargou por muitos anos o seu erro.
Com o passar dos anos Hundert chegou a conclusão que havia uma máxima que não podia refutar: “o fim depende do começo” e era no que acreditava. Por isso, e por crer que o destino de homem é o seu caráter, lecionou como viveu, virtuosamente.
“Um grande professor tem pouca história para registrar, sua vida se prolonga em outras vidas. Homens assim são pilares na estrutura de nossas escolas, mais essenciais que os tijolos ou as vigas, e continuarão a ser centelhas e revelações em nossa vida.”